28 de maio de 2011

BaTiDa


Pelos caminhos de uma inquietação
Nas voltas da morte e da paixão
Nos leitos em sangue, mantos que a saudade tece
Deixo que a minha voz se solte em suor quente.
Por isso canto a loucura que um dia me estremece
E no outro me deixa ausente...

Pelos trilhos das histórias fecundas e em flor
Por entre poemas e versos roucos de partos com dor
Gritam-se as marés de paredes caídas em tudo o que acontece
Dentro deste lagar fogo que se faz presente.

Por isso canto a loucura que um dia me estremece

E no outro me deixa ausente...

Pelos silêncios que vagabundeiam o meu sentir
Podridão que por vezes me faz cair
Labirinto dos meus olhos, em lágrimas, como uma prece
Se deixa cruel. Esperando. Simplesmente.

Por isso canto a loucura que um dia me estremece
E no outro me deixa ausente...

25 de maio de 2011

eXiStEuMtEmPo


Existe um tempo que no meu peito se faz
Por entre as margens do meu cantar.
Voz rouca que de tudo é capaz
Lágrima que da corrente se refaz
No seu leito, sempre em direção ao mar...

Existe esse tempo que tanto me traz
Como se fosse simplesmente o meu respirar.
As dores que cada esquina ainda me traz
Sangue e pele que nunca se satisfaz
No seu leito, que em mim se deixa desaguar...

Existe outro tempo, eterno ou fugaz
Levado pelos voos que se espalham no ar.
Voltas e revoltas de amores, coisas boas e coisas más
Feitas tatuagem que nos meus olhos brilham dentro e atrás
No seu leito, rasgão de um corpo que se deixa gritar!

21 de maio de 2011

dEiXaS-tE-mE

Deixaste-me um grito pousado no leito
Uma canção mais, um nó
Por ti, desfaço outra vez meu leito
Para que a minha voz nunca adormeça só

Deixaste-me a saudade brilhando no olhar
Um corpo pesado, um rio
Aqui, sirvo-me sempre de mim como o mar
Nas tempestades de te sentir um arrepio

Deixaste-me este poema eternamente
O passado, numa pele que ainda me dança
E choro, como um trapo que cai à minha frente
Sabendo que um dia, talvez, o tempo se alcança

18 de maio de 2011

mArÉ


Um dia sonhei que morria nos teus braços. Nestes sonhos que vamos tecendo quando as noites nos assaltam sem querer. Sorrias-me no olho de rio. Cantavas-me um sopro de ternura. A tua mão conversava o tempo. O teu segredo era só meu. Porque assim o inventei nesse dia em que sonhei que morria nos teus braços. Para no raiar do sol correr no areal da minha existência, feliz, gritando o nome da VIDA!

15 de maio de 2011

oLuGaRdEmImQuEsEeSqUeCe


Há um lugar de mim que se esquece. Na penumbra de um silêncio ouvem-se as lágrimas roucas já. São as memórias perdidas na dança da pele. E eu, no lugar de mim que se esquece, escrevo mais um poema.

12 de maio de 2011

aTuAaUsÊnCiA

A tua ausência morde-me o tempo e já não sei muito bem contar. Contar os dias que faltam ou contar os passos obrigatrórios. Sabes que o meu caminho é feito de embriagados gritos e de ti. Mas a tua ausência morde-me...
A tua ausência consome-me o ar e já não consigo muito bem respirar. Respirar as flores que pinto ou os beijos das mãos. Sabes que o meu caminho é feito de pele e de ti. Mas a tua ausência consome-me...
A tua ausência rouba-me os sonhos e já não sei muito bem das histórias. Histórias de mentiras e de verdades, de pequenas viagens ou eternas falésias. Sabes que o meu caminho é feito de versos e de ti. Mas a tua ausência rouba-me os sonhos...

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A tua ausência é um lago parado na planície. E as suas águas não se renovam. Não existem algas nem marés nem pés descalços nem pedrinhas a saltitar nem reflexos nem o chilrear de um filho ou o suor dos amantes...
A tua ausência, por ser tua, também me afasta de mim.

10 de maio de 2011

dEmIm

Caí num leito quente, de azul e cetim
Perdi-me de tudo o que ainda existe
Por isso, meu tempo é estar longe de mim
Na loucura forte de um canto triste

A minha voz rouca e funda
Inunda-me a alma de um amor sem fim
Por isso, cada verso é uma dor fecunda
Dentro de um leito quente, de azul e cetim

O calor desta mão que cansa
Luta todo o sangue que nos resiste
Por isso, entre a lágrima pesada da esperança
Perdi-me de tudo o que ainda existe

Se o meu corpo desaparecesse e ficasse
Como uma flor, esquecido num jardim
Talvez um dia o mundo se traçasse
No meu tempo, que é estar longe de mim

Por isso, estes versos embriagados nas marés
Que a minha pele inventa e insiste
Para que o meu respirar me prenda sempre os pés
A esta loucura forte de um canto triste

9 de maio de 2011

g0sTaVa

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Gostava de viver num poema teu

Labirinto de ternura que brota vagabundo

Assim, talvez um dia tudo o que se prometeu

Nascesse num aroma da cor de ti, da cor do mundo

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Gostava de viver numa canção tua

Como um céu que tudo cobre sem parar

Assim, como um leito que se prepetua

As fontes pudessem romper e finalmente cantar

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Gostava de ser um verso, uma nota que fosse

Aquela que é linda e fica eternamente

Por isso, meu anjo sorridente e doce

Fico na inquietação, entre o passado e o presente!

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8 de maio de 2011

dEsTaSpArEdEsBrAnCaS


Desta parede branca que todos os dias me passa à frente. Destas vozes que a cada momento invadem o meu sentir. Destes passos longos. Pesados. Por onde se perdem de repente os pedaços de nós que ainda estão por vir. Os sonhos. Respirações ao abrigo dos abrigos e das paredes brancas que guardam os silêncios fortes. Eu fico. Na leitura interior que se respira. Mesmo quando o nosso corpo transpira e as canções regressam. Não importa se a noite vem. Ou se o dia é cúmplice. Sonhar é o movimento dos nossos deuses. Mesmo na terra molhada que cheira a memória. Ou no seco pó que os Homens espalham pelos caminhos. Por isso é que a minha voz é rouca e triste. Ao sabor das lágrimas de amor. Dos segredos das flores. Das marés coloridas que rodopiam pelas praias. E tu, mão dada, vestes-me desta sofreguidão. Nos sonhos que se inventam e vão. Pelas paredes brancas... E o tempo passa.

3 de maio de 2011

vErSoAvErSo

Gota a gota, lágrimas de um rio tanto

Num leito que se derrama e persiste...

Verso de cá, em carinho de espanto,

Verso de lá, canto rouco e triste.


Gota a gota, sangue de um mar de mim

Em areais de pele faminta e corpo dormente...

Verso de cá, num canteiro cheiroso, sem fim,

Verso de lá, este laço sempre vivo e quente.


Gota a gota, sémen de uma vida abençoada

Às voltas entre túmulos e janelas...

Verso de cá, em desejos de uma noite incendiada

Verso de lá, viagens eternas, breves ou belas!

1 de maio de 2011

mInHaMãE

Por onde navega o teu olhar?
Será que corr
e no monte, de braços abertos
Ou se perde pelo riacho, nos seus passos incertos?
Por onde estás, mãe, que me ensinaste a navegar?

Onde pousa o teu beijo?
Será que mergulha nas ondas de Molêdo
Ou conta a história dessa princesa ainda com medo?
Por onde estás, mãe, pousada
em tanto desejo?

Por onde me procuras, se estou?
Será que quando canto és tu em mim
Ou este aperto que na minha vo
z se faz assim?
És tu, minha mãe, dentro do que sou!

oTeMp0

O tempo que passa Leva uma flor ao vento Que se faz poesia e raça Fonte, porta e lamento Curva-se o peregrino Sem ter medo da desgra...