30 de julho de 2013

SeNtA-tEàMeSa


Senta-te à mesa e come do meu pão
Pede mais um copo de vinho e solta uma gargalhada
Estar aqui é mais que um soneto ou canção
Mais que um plano centenário ou jornada
É querer saber da vida e dar-se ao abraço
É ter em cada novo gesto uma outra pose para o cansaço
É querer que o carinho se refaça a cada instante
É ter a certeza que o mundo circula adiante
Mesmo na podridão do que vemos e deixamos passar...
Natal é um retalho do que somos sem pensar.

Senta-te à mesa e arrota
Fuma mais um cigarro dos teus e pede-me um beijo
Afinal, estar aqui é uma sorte e não uma derrota
Uma mesa assim, com pão, vinho e queijo
E mais as outras migalhas que cuspimos gestos fora
Porque estamos sós, nos aturamos e não vamos embora
E mais as feridas das revoltas e as rugas do tempo que passa
Porque estamos aqui, como quem sorri de prazer à desgraça
E mais se cala, e mais escreve e mais se faz pasmar
Que retalhos somos nós, que vivemos sem pensar?

Senta-te à mesa, minha mãe. E deixa-me chorar cada pedaço da minha morte.



25 dezembro 2009

25 de julho de 2013

dEs0rAs

Que caiam os ardores do mundo!
Que soam as batidas do sofrimento!
Se nos passos deste amor profundo
Tudo é ânsia e pensamento...

Que se cantem os hinos do mar!
Que se raivam as salivas do leito!
Se nas palavras de cada esperar
Tudo é demasiadamente (im)perfeito...

Que morram os eternos amantes!
Que se calem os silêncios demais!
Se nos cantos mais dançantes
Tudo são insossegos gastos e triviais...

Que me consuma cada pedaço de flor!
Que os escombros se levantem em mim!
Se nos sonhos que me deste, amor
Tudo são aromas de inventar um jardim...

22 de julho de 2013

pUnHo

Certo é a morte. Que a vida incerta corre.
Do tempo, o nu espelho do medo
Da asfixia, o ar que nos morre
Neste acordar demasiadamente cedo...

Doce é o amor. Que o corpo chora e reclama.
Pedaço da respiração, embalo da sorte?
Gigante hino de tudo o que é e ama
Mais uma vez fraco, na sua sedução forte...

Ausência, o perfume da maré em mim
Ora marginal na casa, ora poema de silêncio envelhecido
Flor de cada moribundo no seu jardim
Semeando os retalhos do que está perdido...

20 de julho de 2013

rEgReSs0

O Vagabundo chegou à cidade outra vez. Olhava para as paredes dos prédios, para as ruas movimentadas... Ouvia os sons do dia a nascer. Dentro de si, apenas a paz embriagada do regresso. Procurava-a. Sabia que estaria sorridente no meio de qualquer multidão. A pouco e pouco sentiu a dança da Bailarina. Vinha do outro lado do jardim. Espreitou, ainda escondido. Lá estava ela. Delicadamente a chorar a saudade. Deixou então que os seus passos decidissem o rumo da sua vida. "Olá." Disse-lhe. A Bailarina levantou os olhos, como quem conta uma história de dor. E o rio inundou-o, afogando-o no seu próprio destino...

17 de julho de 2013

eXiStIr

Que as sombras da casa sejam as pinturas!
Que cada janela um sorriso!
Existe uma saudade nas lembranças tuas
Existes tu em tudo o que preciso.

Que as plantas floresçam belas e coloridas!
Que as vozes ecoem nos abraços de estar!
Existes tu e eu nas nossas vidas
Existe uma saudade pousada no nosso olhar.

Que o tempo se faça deste amor assim!
Que na casa já se canta de novo a liberdade!
Existe uma saudade nos momentos de mim
Existes tu, na minha eternidade.

15 de julho de 2013

ÉaMaR

Existe sempre um sopro de saudade. Faça sol, chuva ou vento. É a respiração da eternidade. No calor do nosso sustento. Existe sempre a voz dentro do peito. No areal, no verde, no baile da maré. É a alma do tempo refeito. Sempre que tudo acontece e é. Vale a memória da existência. No passo certo, na luta que também dança. Cantar de mão dada a essência. Abraçar a ternura da esperança. Existe tudo o que deixamos existir. Chora-se o pedaço de nós que nos faz chorar. E o mundo avança no seu longo sentir. E eu no meu inquieto amar.

9 de julho de 2013

eMfReNtE


Porque o poema é luz, sol e lua
Porque a vida somos nós, a cada passo
Faz dos teus caminhos a viagem tua
Deixa-te sorrir à tristeza e ao cansaço
Porque o mundo tem a nossa cor
Porque a estrada é mesmo para andar
Faz os teus olhos fonte de ternura e amor
Deixa-te ser mais uma onda no vai-e-vém do mar 


Fotografias da minha querida amiga Cláudia Correia, gentilmente cedidas para este texto. 

3 de julho de 2013

nAvEgAr

Esmagado no tempo, tempestade da existência
Solto-me na vida, em permanência
Entre o amor e a solidão.

Perdido no choque do vento
Abandono do toque e do momento
Que me acorrenta a alma no porão.

Navio de ir e vir, de estar
Viagem da vida, poema meu
Sou marinheiro deste navegar em dor de amar
Sou flor neste jardim florido de ser teu!

oTeMp0

O tempo que passa Leva uma flor ao vento Que se faz poesia e raça Fonte, porta e lamento Curva-se o peregrino Sem ter medo da desgra...