20 de maio de 2014

oTuMoRsEcReTo

Haja a morte em cada passo que dás
Haja o tempo das palavras e o tempo do que se faz
Haja a vontade de não olhar para trás
Haja o tumor secreto de tanta dor nesta paz

Haja o medo e a revolta, o grito que ecoa
Haja o sorriso perdido pelas ruas de Lisboa
Haja uma lágrima mais que tanto me magoa
Haja o tumor secreto do verso que se escreve à toa

Haja o caráter e a cegueira imparável
Haja o rosto da verdade insaciável
Haja a solidão na casa impraticável
Haja o tumor secreto numa fome instável

Haja uma chaga negra de tamanha fundura
Haja uma pele seca à espera da ternura
Haja o corpo que foge e que não se cura
Haja o tumor secreto que me consome e que dura

14 de maio de 2014

qUeRiA

Queria saber das margens deste rio
Por onde navega a minha inquietação
Queria amar-te por entre o calor e o frio
De nunca saber do tempo do teu coração

Queria encontrar uma gruta quente
Onde possa dormir sossegado
Queria também poder gritar o sangue desta gente
Sempre que me perco mais sozinho do outro lado

Queria ler-te na minha pele a ferver
À espera dos beijos da saudade bela
Queria o pequeno segredo de te ter
Longe da dor que por vezes espreita à janela

Queria...

13 de maio de 2014

DiGo-Te

Digo-te das palavras das histórias e do aconchego
Assim, no sussurro de uma calma maré.
Deixo-me neste embalo sem saber como é
Preso a um caminhar sempre de pé
Entre a inquietação e o desassossego.

Digo-te dos poemas nos acordes doces teus
Feitos frutos e sumo de cada novo dia.
Deixo-me enamorado em terna alegria
Quente de estar, em perfeita companhia
Entre todos os ventos ainda meus.

Digo-te da hora, da voz, do olhar
Tela de estradas e encontros mil.
Deixo-me ir muito mais além de abril
Sentir que existe em nós um abraço infantil
Entre o que se deu e o que está ainda por dar.

8 de maio de 2014

ÉpRaCaNtAr

Quando à janela te procuro
Quando me faço para além do muro
É pra cantar
Mas se fico preso a mim
Em chagas muitas, sem fim
É pra cantar

          Cantar como quem respira o mundo
          Como quem mergulha no seu maior fundo
          E se pergunta o que se faz
          Se uma flor de amor
          Se um grito de dor
         Ou na guerra fazer a paz...

Quando no jardim te encontro só
Quando tudo é bem mais que pó
É pra cantar
Mas se tenho a energia
De fazer da noite o dia
É pra cantar

          Cantar como quem respira o mundo...

Quando morro mais um bocado
Quando já não te sinto a meu lado
É pra cantar
Mas se me deixo entreter
Pelo sonho de te querer
É pra cantar

          Cantar como quem respira o mundo...

oLhArEnÃoVeR

Trago dentro uma solidão
Feita de tanto de ti ou talvez não
Feita de mim ou talvez sim
Um caminho preso ao meu próprio cordão
Uma corrente veia que corre assim
Uma dor de amor
Solidão...
Trago dentro um desejo
De querer perder-me no teu beijo
Ao mesmo tempo que respiro
Um doce abraço em cada suspiro
Que me traz de volta e sem fugir
Porque o meu corpo anda a pedir
Aquele tempo fresco que já mal vejo
Sim! 
Aquele em que tudo era beijo...
Trago dentro algum vazio
Como se ardesse de tanto frio
Ou me queimasse simplesmente
Ao arrepio de um sonho em frente
Que se vai deixando moribundo e calado
Cansado, 
Parado,
De se sentir sempre do outro lado
Perdido entre palavras ditas em vão...

Porque
... o vazio
... o desejo
... o amor
Existem-me dentro da solidão.

6 de maio de 2014

qUe

Que da corrente resiste a viagem
Que da viagem se faz novo amor
Que o amor nunca é de passagem
Que da passagem vou para onde for

Que do rio navego em sonhos loucos
Que dos sonhos se morre em cada desilusão
Que da desilusão sobram gestos poucos
Que dos gestos se esquece o coração

Que do poema tropeça esta vida
Que da vida mal sei da sua margem
Que da margem existem sempre uma saída
Que da saída se faz outra viagem

oTeMp0

O tempo que passa Leva uma flor ao vento Que se faz poesia e raça Fonte, porta e lamento Curva-se o peregrino Sem ter medo da desgra...