Sobe o poeta ao rumo da estrada
Os seus passos carregam uma vida inteira
Um sonho na luz derradeira
Que a morte se faz anunciada...
Canta o poeta às ondas do mar
Deixa a voz nos calos da sua rouquidão
Pedaços do sangue desse coração
Que a morte se faz já cansada...
Chora o poeta nas flores do jardim
A sua pele cheira a doce mel tão quente
O seu corpo é o espelho de toda a gente
E a morte, ao fazer-se, é dor e não tem fim...
Fica o poeta na janela aberta do infinito
Rasgando a saudade que devora
O estrondo do tempo pela noite fora
Que a morte se faz do beijo e do grito...
Nunca o poeta morre
Que do seu fingir escorre
Cada palavra a eito
Por entre o amor feito
Ou a solidão e o vazio
De tudo saber a calor e a frio
Numa dança de tanta nudez
Porque o poeta, quando morre, nasce sempre outra vez!