31 de dezembro de 2010

Lo0pInG

Para todos, o meu pensamento de há precisamente 1 ano. Um ano depois de tanta coisa passada, reler estas palavras tem um significado muito grande. Boas entradas!

Lembro-te um grito. Um sorriso apenas. Desses que se dão e nunca se repetem. Lembro-te como se faz amor na pele da amizade. Lembro-te os dias a passar e o tempo que temos. Lembro-te o copo cheio e o copo vazio depois de nós. Lembro-te o teu olhar doce de ser manto meu. Lembro-te como se dança; pode ser na praceta ou no labirinto da noite. Lembro-te a tua voz de luta. Lembro-te a descoberta. Lembro-te a morte também; os partos... Lembro-te cada lágrima nesta corrente. Lembro-te o meu nome (para que não esqueças). Lembro-te o toque do acorde preciso em verde. Lembro-te o adeus e Ary. Lembro-te cada verso novo ou velho ou repetido. Lembro-te o vento; ai, o vento! Lembro-te as mãos de escavar a ternura como se fosse terra. Lembro-te a estrada e a falésia e a curva e a paragem e o precipício e a pedra e o pó do caminho e a chuva e as cores. Lembro-te o silêncio da respiração. Lembro-te os carris da fuga. Lembro-te o monte e as fontes. Lembro-te o canto em tons de medo. Lembro-te que estás. Lembro-te Paris na magia de todos os momentos. Lembro-te a queda e a vertigem. Lembro-te as rugas das nossas memórias. Lembro-te o sossego e a inquietação. Lembro-te as letras. Lembro-te o cheiro de cada flor ou pedaço de nuvem. Lembro-te a embriaguez das vozes e dos abraços. Lembro-te as fotografias ou os livros. Lembro-te a família que passa. Lembro-te o riso estridente; o desejo calado. Lembro-te o nome das ruas; das velhas e das novas. Lembro-te as roupas; os sapatos. Lembro-te a saudade; pode ser boa. Lembro-te a parede branca ou o telhado quente. Lembro-te a ausência. Lembro-te a descoberta; as veias do sangue rio de outras fecundações. Lembro-te o mistério. Lembro-te as histórias de encantar ou malandrices de meninos panteras e outros que tais. Lembro-te sempre. Lembro-te a voz; talvez o mar dentro do peito. Lembro-te a silhueta na estação em chaga suicida. Lembro-te a arca dos segredos. Lembro-te o adro da Igreja. Lembro-te o orgulho. Lembro-te a Lua; Sol e Lua... Lembro-te o corpo do pintor. Lembro-te o rasgão do poeta. Lembro-te a surpresa do Músico. Lembro-te o cozinheiro. Lembro-te textos e textos e textos e textos tão teus e meus; projectos e Berlengas e tudo o resto. Lembro-te o murro na liberdade. Lembro-te a marcha na Avenida de olhos postos numa raiva cada vez mais fechada. Lembro-te que Abril abriu portas? Lembro-te o cravo a três cantos e nove passagens. Lembro-te o Bem Querer ou Oceano de ninar. Lembro-te a página em branco e o pincel. Lembro-te o tic-tac do coração. Lembro-te que tudo não é esquecimento; que esquecer é perder; e perder é não ser; e não ser é deixar de estar; e deixar de estar é apagar; e apagar é recomeçar; e recomeçar é lembrar.... Por isso, meus amigos, NUNCA SAIAM DE MIM!

27 de dezembro de 2010

p0uSoDaSaUdAdE

Pousa no cais a Bela Amante. Chegou de uma longa viagem sem saber se o regresso é certo. Não sabe se o vento a levará de volta à solidão ou se pelo contrário encontrará o abraço eterno. Junto às folhas do outono, pintura imaculada de uma pele sempre quente, deixa-se ficar perto. Responde ao sopro das cores. Chora mais um jardim. A sua voz rouca é manto da espera. O tempo fica pronto e sem saber recolhe-se de novo para um outro canto. O amor é a sua respiração e as palavras pouca importância têm. Saberá ela como encontrar o seu destino, se tudo é paisagem e sorriso de felicidade? Conseguirá pousar e quem sabe descansar? A morte, talvez, um dia. Mas hoje não. Que a saudade é o véu com que vai cobrindo os seus passos...

26 de dezembro de 2010

mArCaS


Deixa-me gritar no teu corpo como um louco
Cair para dentro do mar
Engolir-me por inteiro
Entre o silêncio e o cantar
Num momento derradeiro
Que de tanto me sabe sempre a pouco...

Deixa-me ser vento, tempestade, folia
Tricotar mantos de sangue e calor
Perder-me assim no tempo que passa
Entre o desejo, a ternura e quem sabe o amor
E na minha pele seca se trespassa
Cada momento inventado e guardado nesse dia...

Deixa-me morrer de ti, de mim, de todo o mundo!
Porque apenas pó, me desfaço pelos caminhos
Cubro-me de aromas e tudo me sabe a este vazio tremendo
Entre cantos, lágrimas e carinhos
Nas chagas de uma saudade onde vou sempre sendo
A memória rouca no meu passo vagabundo...


24 de dezembro de 2010

uToPiAeNaTaL

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Um dia saberemos da utopia,

Afinal uma frescura que corre nas veias
Mesmo que diluída no esquecimento...
Dessa utopia que saberemos um dia
Castelo aberto à cidade sem muros nem ameias
E um pouco de ternura em tanto cinzento!

Um dia abraçaremos a utopia
Câmara da alma e dos corações
Teimosos e perdidos, entre o bem e o mal...
Dessa utopia que abraçaremos um dia
Jardim de amores e inquietações
Que não se esqueçam que, se quisermos, é sempre Natal!
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Um Natal sereno e em paz para todos os que passam por aqui. Os que passam e deixam o seu beijo; os que passam e deixam o seu rasto; os que passam e não deixam nada...

23 de dezembro de 2010

oMeUs0fReR


Este tempo de memórias e marés
Onde tudo dói no meu peito
Em que me desfaço a direito
Adormeço cansado a teus pés
Em lágrimas vivas, ainda quentes...
Tudo o que vês, cantas e sentes
No embalo do meu sofrer
Mãe... por favor... ensina-me a palavra morrer.

Este tempo de sangue e abraços
Onde tudo se pinta no meu leito
Em que renasço de novo e imperfeito
Entre as flores e os passos
Em grito forte, ainda moribundo
Tudo o que sei, são as cores do mundo
Na sabedoria do meu sofrer
Porque tu, mãe... ainda me ensinas a palavra morrer.

20 de dezembro de 2010

nÃoMeDiGaS


Não me digas do rio ou do berço que me acolhe Deixa só o silêncio cantar Que o meu corpo é um caminho que não se escolhe Que o meu sangue leva tanto cansaço como o mar Não me digas das viagens ou dos segredos Deixa o meu punho em fogueira acesa Que a minha voz são poços de lágrimas e medos Que o meu sangue carrega marés de incerteza
Não me digas nada. Olha-me apenas.

Faz das minhas noites madrugadas amenas...

16 de dezembro de 2010

cAdA

Cada pensamento, uma nova viagem.
As que voltam e as que não.
Cada sopro na noite, um suspiro.
Os que aparecem e os que são.
Cada vontade, vertigem de ser.
As que ficam e as que vão.
Cada abraço, todo o mundo!
Pedaços de carne, sangue e pão.
Poema,
Morte,
Amor,
Palavras da eternidade que se fazem ao chão!
E a terra floresce ao abrigo desta canção.
O peito abre num sorriso de mão em mão.
As memórias de tanto, agarradas ao coração...

13 de dezembro de 2010

pEl0tEmPo


Pelo tempo que foi, o tempo que vem

Um abraço sempre bom e um copo de vinho

Cada minuto que passa se refaz também

Nas flores que plantamos pelo caminho


Pelo tempo que foi, o tempo outra vez

Um beijo, uma pele, uma canção

Maré feita em nós que em nós se fez

Nas flores que deixamos pintar o chão


Pelo tempo que foi, o tempo sempre assim

Sussurros, lágrimas, luta... apenas o olhar

Como quem ama e rega o seu jardim

Transformando todo o tempo em mar!

12 de dezembro de 2010

sAuDaDeS

O meu olhar. Um pequeno pote no turbilhão dos cheiros. A mão, a descoberta. As águas do lago, outra vez, na pele ainda molhada. Tenho saudades. Dos dias em que um simples passo era uma pintura.

11 de dezembro de 2010

nAdA

Há dias em que tudo parece não existir. Em que o que fica nem sequer esteve...
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Não me peças uma onda
Porque na tempestade, o vazio
Risco-me da história,
Dos recantos da memória
E desfaço-me no frio...
Não me peças nada
Porque o tempo, a morte
Atrevo-me a desejar,
Partir e nunca mais voltar
Quem sabe, um gesto que me reconforte...
Não me peças. Prende-me. Abraça-me só!
Rompo em lágrimas e terror
Longe de mais, sem ti, apenas migalha
Que se estende por onde calha
E se desinventa no amor...

9 de dezembro de 2010

mArÉdEsEr


Espalhados na terra dos canteiros

Brotam como luz,

Como um amanhecer.

São assim os tempos das cores e dos cheiros

Esta maré que me conduz

Até ao longe: amar para ser!

8 de dezembro de 2010

p0rQuE

Porque da hora da partida nasceste outra vez
A roupa, o sonho, o mesmo cheiro
Regresso-me a ti na fonte que em mim se fez
Rio e sangue que me corre no ventre por inteiro

Porque o toque ficou sem cor no tempo de ficar
Rente demais às lágrimas com que te choro
Amanheço-me nas noites de tanto em mim gritar
Os silêncios que na tua boca ainda demoro

Porque tudo se foi assim?
Sem aviso, sem perdão?
E de tudo o que ainda tenho em mim
Minha mãe, a força da tua mão!

Porque nada é a fonte seca de tudo?
Esta dor, este desespero que grito agora...
E de nada me serve o canto assim mudo
Tão rouco que está... esta demora!

5 de dezembro de 2010

pRoCuRa-Me


Procura-me na onda que abraça
No vento que trespassa
E fica tatuado.
E o olhar levanta-se,
Atira a sua lágrima de alegria
Cobrindo todo o areal:
Fica e passa...
Na onda que abraça!

Procura-me no azul que beija
Em tudo o que se deseja
E nasce a cada hora.
E a pele ferve-se,
Faz-se poema outra vez e sempre
Inquietando o areal:
Falta e sobeja...
Na onda que beija!

Procura-me no silêncio que canta
No corpo que luta e se levanta
E se lava nas águas loucas.
E o tempo é meu,
Volta na ponta dos meus dedos
serpenteando o areal:
A vida é tanta...
No silêncio que canta!

3 de dezembro de 2010

nÃoSeIdAeSpErA


Não sei da espera. Do turbilhão que o tempo desagua no meu peito. Nas ondas entre o sonho sonhado e o sonho desfeito. No luar, calma da noite em nós. No fogo que ao rasgar este rio transforma a fonte na foz e tudo se faz mar. Cada pedaço da luz que ao cantar adormece desassossegado. Calor e pele por todo o lado. Solidão que grita em demasia. A cama vazia... Os lugares nunca mais regressam e é isso que explode e desespera. E eu, não sei da espera...

1 de dezembro de 2010

dEiXaReI

Deixarei na terra as pegadas das vigílias e das mãos. As flores saberão de cor os cânticos com que chorei à passagem. Por isso, nunca me deixo os sonhos vãos. Nem no perfume agre dos cansaços, nem na voz que me ferve à passagem.Deixarei na praia todos os meus amores e poemas feitos trovões. As ondas, o sargaço, o estrondo das rochas com que te pintei... E é por isso, minha mãe, que nunca se calarão as canções. Porque em tudo por onde passo fica tudo o que deixarei!

28 de novembro de 2010

aVeZpRiMeIrAsEmPrE

Explode-me o peito sempre que o tempo não vem
Grito de aflição os segundos contados
Quero inventar outro tempo também
Quero os segundos teus eternizados

Invade-me o peito a cada despedida
Ficam os silêncios das memórias em chama
Que os nomes se fundam à partida
Que os cheiros regressem à cama!

Forte o sentido deste caminho vagabundo
Feito frio, fome, insossego e amargura
Sobram os poetas, cantadores do mundo
Nos vazios das saudades e da ternura...

Explode-me e invade-me sem cessar
Simplesmente porque NÃO QUERO de outra maneira
E deixo assim o meu sangue escoar
Sempre como se fosse a vez primeira!

26 de novembro de 2010

oLh0sFeChAd0sSeMvEr

Fecho os olhos e vejo. Todas as cores; todas os abraços. Fecho a boca e grito. Carrascos, amores, sangue e cansaços. Pouso o caminho e páro. Viagens de ir, de nunca chegar de vez. Perco-me no tempo e encontro-me. Como um peixe perdido num rio que nunca se desfez. Marco a terra e fico. A espera que se desliga sem pedir. Por isso, no embalo do poeta, arrasto-me sem sequer o conseguir. Choro as pedras e floresço. O céu rompe por entre os meus dedos. E depois, no mais duro momento da noite, abafo-me no meio dos meus segredos. E minto. E sinto. E pranto. E tanto. E só. Sem dó. E novamente. Se sente. E eu. Não teu. E tu. A nu. O verso assim. Sem fim. Fica. Para ser. Nos meus olhos fechados sem ver...

24 de novembro de 2010

eTeRn0



Partiria se o tempo fosse meu
Uma viagem de chegar
Para sempre, cada sorriso teu
Que em mim soube desaguar
Voltaria se os caminhos fossem leito
Um labirinto de sonhos a cantar
Para sempre, que nada será desfeito
Enquanto em mim souberes desaguar
Ficaria se o amor fosse este regresso
Onda que vai, onda que vem... que quer ficar
Para sempre, no secreto sabor deste jardim que atravesso
E que assim se enche de cada vez que vem desaguar...

23 de novembro de 2010

fAlA-mE


Fala-me a solidão num silêncio mais
O mar, em nova tempestade
Grita o caminho por onde vais
E morre mais um pouco na tua eternidade...
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Fala-me a solidão no teu olhar
Ternura que me ampara e abraça
Outro fogo, outra chaga de tanto chorar
Cada retalho do tempo que fica e não passa...
.
Fala-me a solidão no amor
Única semente do mundo inteiro
Por isso, de cada vez que me fala a dor
Volta-se a morte sem pouso derradeiro...

21 de novembro de 2010

aSoNdAsVã0eVoLtAmSeMpArAr


Fica um vazio sempre que a onda se desfaz
Depois de abraçar a terra e os restos da areia,
Depois de enfeitar à solta cada esquina da sua teia,
Assim, num abraço eterno que tudo é capaz:
Cantar os gritos do vento e do passado
Colorir os poemas e a ternura imensa
Voar pela espuma sempre intensa
E nunca se sentir morto ou cansado.
É este ir e vir das marés, em semente
Que fazem do poeta e do vagabundo
Mais do que aquilo que se sente:
Transforma o tempo em algo ainda mais profundo
Com um cheiro ainda mais penetrante
Um toque ainda mais mágico de tudo inventar...
Porque cada onda faz da praia sua amante
Porque cada noite faz de mim o mar!

19 de novembro de 2010

qUe

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Que a calçada se desfaça a meus pés!
Que queime todas as memórias. Do que és...
Que o tempo desafie o meu sonho desfeito!
Que arrase e leve consigo cada pedaço de mim. Imperfeito...
Que as palavras se transformem em armas de guerra!
Que arranhem sempre que forem ditas. Nesta terra...
Que as sombras nunca regressem nem mais nada.
Nunca mais!
Porque um dia voltarei a ouvir o cantar da madrugada...
Porque nos caminhos deitados ao lixo não vais...
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16 de novembro de 2010

IrEvIr


Se o toque das marés fortes em mim
Fossem apenas gritos,
Gemidos de encontro ao peito
O meu canto seria a pele que enfim
Por entre sonhos interditos
Desaguava na rocha liquefeito

Se o rugir das ondas loucas de tanto
Fossem somente caminhos,
Pedaços de memórias e sonhos a chegar
A minha voz seria a dor e o pranto
Que um dia se amaram sozinhos
Só para de novo poderem regressar

Se o brilho das marés ferventes à solta
Fossem silêncios e passos,
Flores eternas que cheiram a vida
A minha viagem talvez fosse também de volta
Entre as chagas do destino e os cansaços
E em cada chegada, se inventaria outra despedida

15 de novembro de 2010

FeLiZeSpArAsEmPrE

"... e foram felizes para sempre!" Porque nas histórias, mesmo nas mais tristes, quem escolhe é o poeta. Porque nas memórias, mesmo nas mais duras, quem decide é o amante. Porque nos sonhos, mesmo nos mais loucos, quem se inventa é o vagabundo. Porque nas janelas, mesmo nas mais fechadas, quem respira é o pássaro. Porque na pele, mesmo na mais fria, quem toca é o menino. Porque no olhar, mesmo no mais cego, quem pinta é o peregrino. Porque no leito, mesmo no mais silencioso, quem canta é o grito. Porque nos contos, mesmo nos mais fechados, quem escreve é o futuro. Porque em tudo o que se tem, mesmo que não se tenha, quem tem é quem quer ter!

t0cAr0sSoNh0s

Nunca falta o tempo para se tocarem os sonhos
Assim, como uma flor de céu
Ou um beijo de vento
Marcado no pele,
Rasgo de dentro
Que se inflama e respira
Sem ter medo
Sem descanso
Sempre presente no olhar
Que se desfaz nas tempestades do mar
Quando a solidão nos chama
Ou que chove de ternura
Quando um verso é tudo
Sem fronteiras, nem lados...
Os sonhos são para serem tocados!

13 de novembro de 2010

sAnGuEeMaR

Serpenteia-se-me a alma na procura de tanto
Versos e caminhos que aos meus pés se perdem sem cantar
Talvez uma saudade, uma memória envolta no manto
De tudo o que das minhas mãos se inventa em sangue e mar

Rompe-se-me a corrente na embriaguez do caminho
Gritos e ventos e marés e cores que invento sem parar
Talvez o que resta de uma morte envolta em lençol de linho
De um leito afogado entre o sonho, o sangue e o mar

Volta-se-me o vagabundo que o meu peito abriga
Por entre o macio da pele, perdido nas malhas e nos silêncios do teu olhar
Talvez um outro segredo, verso, tela ou cantiga
Que seja muito mais do que o tempo, o sangue e o mar

Por isso, seja lá quem me quiser um dia eternamente
Eu consiga quem sabe morrer e anunciar
Que a minha vida se faz de trás para a frente
Ao sabor de tudo o que me corre no sangue e no mar!

11 de novembro de 2010

DeAmBuLaÇõEs

Pudesse eu abraçar todas as cores
E já seria jardim.
Como se fossem dores
Aninhadas, pousadas em mim...
Pudesse eu cantar todas as janelas
E já seria rio.
Como se fosse tê-las
Entre o leito, o silêncio e o arrepio...
Pudesse eu transformar cada memória
E já seria vento.
Como um pequeno príncipe perdido na história
Que numa noite apenas renasce; belo lento...
Pudesse eu ser verso em grito forte
E já seria mar.
Como uma tempestade que foge da morte
E na praia se deixa simplesmente aconchegar...
Pudesse eu ser fado no mundo
E já seria corpo entregue sem dono.
Como um passo mais, leve e profundo
Entregue ao seu próprio abandono...
Pudesse eu ser tudo, nada, vazio, força, animal, corpo, fome, palavra muda, digestão
E já seria outra vez...
Porque o bater que teima o meu coração
É o respirar que sempre em mim se fez!

9 de novembro de 2010

mAr


Adormece-me o desassossego numa manhã de outono
Larga-me o ventre de amante sempre que a maré se soltar
São fundas as dores de um peito perdido ao abandono
São eternas as chamas que em nós se fazem mar
.
Atormenta-me a tristeza de te ver partir assim
Rompe-me dos sonhos as memórias que um dia souberam cantar
São perfumadas as cores que se espalharam no jardim
Porque se guardam na pele, que em nós ainda se faz mar
.
Aconchega-me os versos que solto ao ritmo da luz
Perde-me outra vez, para de novo me encontrar
São as fomes que o meu leito verte e seduz
Sempre que às cegas, embriagado, em nós, me faço mar

8 de novembro de 2010

nÃoVoLt0mAiS

Não volto mais. Não quero o meu regresso depois da fuga. Sei que o que me aconteceu não foi um simples acaso. Pressenti, logo desde o início, que nesse dia algo de especial haveria de acontecer. Por isso as ondas estavam diferentes (tudo fica diferente de vez em quando...). A minha decisão era essa: partir. O futuro estaria por perto, algures no caminho, tinha a certeza. E foi assim que naquela noite, naquela quente e abafada noite, o vagabundo cantou pelas ruas (ele que nunca tinha sequer falado!). Era eu. Como sempre sou eu. Abandonado na descoberta dos silêncios da cidade. Alegremente entoando lágrimas e lágrimas de uma vida recheada de fogo. É que dentro da solidão as memórias tornam-se dor. E dentro das memórias não há lugares por fazer. E dentro da dor tudo é solidão. Por isso é que não volto mais. Para me deixar no labirinto de um tempo que não quero que me pertença. Para que consiga, finalmente, adormecer no regaço de um qualquer encontro. Sem destino. Só um: o de ser impossível voltar.

6 de novembro de 2010

FiLmE

A morte dos sonhos é uma viagem na inquietação
Carregada de gritos
Mesmo que seja pintada de sol
Pesados passos interditos
Manchas deixadas no lençol
Onde o amor se inventou e fez canção...

A morte dos sonhos é uma mentira
Não existem sonhos assim
Que se desfaçam como marés
Nem as fores ressuscitam no jardim
Que um dia foste e agora não és
Que o amor se inventou e já não transpira...

A morte dos sonhos entranha-se na pele sem morrer
Fica ardente na vida, a queimar o futuro
Entre o cais que também serve para partir
Na hora de tudo ser dor, lágrima e escuro
No tempo dos regressos e sem nada possuir
Só porque o amor se inventou para não se ter...

A morte dos sonhos rasgada e sem fundo
No poeta, na bailarina, no veloz andamento
Na palma da mão ainda aberta
Porque tudo é nada e eu sou vento
Porque a magia é sempre incerta
E eu, no amor inventado, apenas vagabundo...


4 de novembro de 2010

sAuDaDeSpErDiDaSn0mAr

Sirvo-me deste silêncio em cada passo
Résteas de sonhos, interrogações
Talvez um dia regresse ao que faço
Tão fundo sentido das canções
Da magia dos versos deitados no teu olhar
Do perfume das saudades perdidas no mar...
Sirvo-me deste vazio em cada lágrima mais
Fogo que me arde os dedos, o peito
Talvez um dia grite o sangue fresco dos sinais
E aí se entenda o que não foi feito:
Atirar a vida do avesso e regressar
No perfume das saudades perdidas no mar...
Sirvo-me desta solidão em cada nova manhã
Cinza que me consome, inquieta
Talvez um dia o meu nome deixe de ser palavra vã
E os meus versos, verdadeiras pinturas de poeta
Porque tudo que atormenta se irá matar
Pelo perfume das saudades perdidas no mar...

2 de novembro de 2010

eSpUmA


No vazio que o tempo coloriu
Escrevendo um jardim de nada
O meu sonho queimou-me e caiu
Sem dono, sem cor e sem morada.

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Perdeu-se no caos de uma praia cega

Gritou a dor ao som da morte
Este é o meu tempo que não dorme nem sossega
Como uma flor, que de frágil se faz forte

.
Assim, um dia serei vento eterno
Cantarei as dores e os sonhos do mundo
Enquanto for meu este inferno
Que faz de mim outra vez vagabundo...

1 de novembro de 2010

qUeSeFaÇaFeStA

Que dancem os violinos!
Que sorriam as donzelas!
Que se deixe o espaço do salão livre para receber os corpos todos!
Que se perfumem os silêncios!
Que se perpetuem as vontades!
Que joguem as emoções!
Que se faça festa. Hoje é dia de sermos.
Que se percam os caminhos!
Que se deixe o ar embalar os sonhos!
Que se cantem as histórias!
Que saltem as crianças!
Que se fundam os olhares!
Que se procurem as ternuras!
Que se faça festa. Hoje é dia de sermos.
Que se inventem os dias!
Que se transformem as aventuras!
Que se chamem os nomes todos do mundo!
Que se toquem!
Que se sintam!
Que se interlacem!
Que se faça festa. Hoje é dia de sermos.
Que se tenha coragem!
Que se ganhe forças!
Que se cumpram sonhos!
Que se avancem lutas!
Que se abram as almas!
Que se faça festa. Hoje é dia de sermos.
Que se chamem os passados!
Que se abram os discursos!
Que se pinte
m os gritos!
Que se atirem os maus para o infinito!
Que se faça festa. Hoje é dia de sermos.
Que se escrevam poemas!
Que se aconcheguem trovas!
Que se lembrem todos, todos!
Que se ressuscitem os mortos!
Que se faça festa. Hoje é dia de sermos.
Que se pendurem as armas!
Que se abracem os trilhos!
Que sangrem as paixões!
Que se lancem fogueiras!
Que dure este manifesto!
Que se faça festa. Hoje é dia de sermos.

30 de outubro de 2010

JPSC29deoutubro2010


Todo este silêncio do meu tempo
A viagem apenas
Sopro de mim...
Já não sei das pedras, do castelo
Das hisórias endiabradas
Óleo de me cobrir o espanto.
Se o ar fosse meu só meu
Quem sabe pudesse devolver-te a sorte
Que hoje, meu Mestre,
Foste ao encontro da morte.
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A João Paulo Seara Cardoso. No eterno repouso.

27 de outubro de 2010

?

Vou falar na primeira pessoa...
Espera. Não falas sempre na primeira pessoa?
Sim.
Então?
Mas agora vou falar mesmo na primeira pessoa.
...
Ontem perguntaram-me se andava triste. Disse que sim. Que tinha saudades do vento.
Do vento? Do inverno?
Não. Do vento.
Qual vento?
O vento. O que temos dentro de nós.
Tens, portanto, saudades de ti próprio.
Não. Temho saudades do vento.
Ok. Vou fingir que percebo.
Não finjas. Ouve apenas o que tenho para te dizer.
Sim. Sabes que te leio sempre.
Não é a mesma coisa.
Não?!!!
Não. O que tenho para dizer ainda não escrevi.
Não?!!! Então porque escreves?
Porque tenho coisas para dizer...
Como?!!! Já não percebo nada. Não te entendo...
Não vale a pena entenderes-me.
Mas eu gosto de ti.
Por isso mesmo. Gostas de mim porque não me entendes.
E isso é bom?
Raio de pergunta!

25 de outubro de 2010

hEi-DeMoRrEr


Hei-de morrer no silêncio
Porque levo em mim os gritos da vida
Hei-de morrer na rouquidão
De todos os sonhos terem uma saída...
Hei-de morrer longe e em segredo
Porque os meus passos dançam a liberdade
Hei-de morrer por amor
Em corpo feito pele, fome e saudade...
Hei-de morrer nas distâncias e nos abraços
Entre o calor que me cala e me adormece
Hei-de morrer nos mantos da sorte alheia
Fonte dos rios que o meu peito ainda tece...
Hei-de morrer no mundo, nos leitos embriagados
Que o meu sangue um dia cobriu de mim
Hei-de morrer sorrindo, eu sei
Para nascer de novo, o nascer de um novo fim...

23 de outubro de 2010

mErGuLh0

Se a vida te tirou a vida
Morte nunca anunciada
Pena infinita e pesada
Alma que caminha ferida...
Boca seca e amordaçada
Corpo que veste a pele cansada
Tempo de uma paixão nunca perdida...
Peito que chora uma trovoada
Olhos de corrente solta e fechada
Dança de raiva sangrenta e contida...
Grita o teu inferno na passada!
Rasga a tua dor e mais nada!
Fome que jamais cai pobre ou vencida...
Vai, luta que o teu nome é palavra sagrada!
Punho que se refaz em cada madrugada
Chão que te sustenta firme e erguida...
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Não te sei escrever hoje. Por isso a minha dor.

20 de outubro de 2010

nUnCa0tEmPo

Nunca o tempo se perde no caminho
Mesmo quando um vento se arrasta
Ficam as pedras, os castelos, um ninho
Onde se esconde, se deita e se gasta...
Nunca o tempo se perde na alma amante
Mesmo quando o sonho é raiz
Ficam os sabores, os cheiros, um toque distante
Onde uma lágrima inunda por inteiro uma vida feliz
Nunca o tempo se perde no silêncio que dói
Mesmo quando no copro uma semente se eterniza
Ficam talvez o sangue, leito de um passo herói
Onde cada pedaço de flor me protege e avisa
Nunca o tempo fica em mim
Mesmo quando sei a força da minha mão
Ficam os segredos, os enredos, os medos e o sim
Onde se perde o suor que um se fez inquietação

17 de outubro de 2010

pErDe-Se-Me

De que vale o sol assim embrulhado
Vestido da saudade que se cala
Perde-se-me a pele e o canto dourado
Vagabundo e morto, entre o cemitério e a vala

De que vale o tempo assim parado
Rente ao que não se faz
Perde-se-me a alma num sonho amputado
No grito louco e preso sem guerra e sem paz

De que vale a poesia de um corpo cansado
Passo que treme as pedras da calçada
Perde-se-me a vida por todo o lado
Nas silhuetas que de tanto se fez nada...

13 de outubro de 2010

aMaRrA

Se o mundo se pintasse
Das cores com que danças a vida
Se um beijo me bastasse
Para perceber a despedida
Se as amarras fossem amor
De suar a pele do vento
Se um toque me desse o calor
De abraçar cada nó que invento
Se o sangue gritasse de paixão
Os caminhos de trilhar lado a lado
Se apenas me queimasse o coração
No tempo de um tempo mais que passado
Se um sorriso mais te desse
A alegria de me escrever assim
Talvez um dia entendesse
Porque se morre muito antes do fim...
.


11 de outubro de 2010

tErNuRa


Há um silêncio em mim hoje.
Um silêncio de silêncios como suores.
Um sabor de sabores como sorrisos.
Um olhar de olhares como sótãos.
Toco os retalhos do meu tempo e sinto este silêncio de silêncios que de sabores de sabores por entre o olhar de olhares se eterniza.
Flor que nunca abandona o seu jardim.
Cheiro que sempre transporta os sonhos.
Terra molhada que pisa o meu corpo.
Renascer.

10 de outubro de 2010

0mEuLuTo

_____________________________________Escreve-me um pedaço da tua pele num sorriso mais. Sussurra-me o tamanho dos montes e dos rios que não param. Que do calor do tempo se desfaz a alma. Que da corrente da vida se pintam os passos. Dobra mais um pouco dessa tua morte na minha existência. Como num romance que nasce dentro de uma floresta. Quero ter-te na palma da minha mão e apertar tanto tanto que em sangue se invente a eternidade e eu finalmente consiga descansar...___________________________

9 de outubro de 2010

mArEmMiM


Todos os caminhos da tua lembrança....
O parto.
O choro.
O toque.
O cheiro.
O leite.
O peito.
Os olhos.
A voz.
O colo.
As mãos.
Os passos.
O respirar.
As saudades...
Mais do que as palavras, existe um mar de ti em mim.

7 de outubro de 2010

nAsCeRt0d0s0sDiAs

Ontem adormeci numa flor que me pintou o corpo. Deixei-lhe um cobertor em forma de sorriso. Cantei-lhe um beijo em forma de sonho. Cheirei-lhe o tempo e um jardim ali se formou. Acordado no futuro de todos os sussurros e revoltas. Hoje, sempre que me lembro de passear, atiro os meus ventos ao norte e nada fica na mesma. Nem a espera, nem o esquecimento. Invento um rio e transformo o mar. Que ecoará as suas tempestades no teu ouvido como lembrança. Do tempo eterno feito em nós.

5 de outubro de 2010

eXiSt0eMtI


Nãoexisteotemponemofimquandotudopáraeasaudadememóiassim...Nãoexistenadasetudoéventoemmim.Nãoexisteomarsecadalágrimaquecantoéapenasumchamamentodetudosertantoeprantodesteladodaminhapele...Nãoexisteorionacordetodososdestinosquesefazemmesmoemgritodedorqueferveeardeeexplodeeinundatodasasvestesdestemundo...Nãoexisteapaznestainquietaçãodemomentosemomentosenoitesenoitesemanhãsemanhãseventoeventoeventoeventoqueétudooquerespiro.Porissoexisto.

3 de outubro de 2010

dEsEsPeRo


Pega em mim tu que és vento. Embrulha-me nas tuas nuvens e leva-me ao céu. Tenho lá uma saudade à minha espera...

2 de outubro de 2010

gRiTo


Apaga-me. Cerra o meu nome num prego fixo no tempo. E deixa. Leva o resto de ti até onde o teu sorriso deixar. Se fores capaz. No apagamento de todas as mentiras...
Apaga-me. Liberta a tua felicidade em passos de prisioneiro. E morre. Cala para sempre o que sobrou do festim. Mas faz isso.
Estou farto de te cantar!


1 de outubro de 2010

lEvA-mE


Leva-me.
No voo seguro do tempo que não morre.
No sémen que do meu corpo ainda escorre.
Quando no silêncio te procuro.
Leva-me.
Suga-me a pele nos teus olhos de sorriso aberto.
Cobre-me as mãos de flores e fica sempre perto.
Quando no silêncio te procuro.
Leva-me.
Canta-me o teu ventre materno sem parar.
Segreda-me o teu nome só para me encantar.
Quando no silêncio te procuro.
Leva-me.
Na noite feita em mim inquietação e desejo.
Vento forte que abraço e beijo.
Quando no silêncio te procuro.
Leva-me.
No calor da tua boca fechada.
No leito nosso que se abre pela madrugada.
Quando no silêncio te procuro.
Leva-me.
Faz-me chegar ao céu e ao fim do tempo sem fim.
Como quem me inventa um caixão e um jardim.
Quando no silêncio te procuro.
Leva-me.
Encontra-me de encontro à parede o animal e a besta em fúria e dor.
Ferve-me a alma nas palavras todas, até no amor.
Quando no silêncio te procuro.
Leva-me.
E quando te fores embora talvez,
Devagarinho, muito devagarinho,
Conta-me a história outra vez...
Leva-me.

27 de setembro de 2010

QqVjEfEmPaRaSeMpRe


O que me espera hoje em silêncio de tanto?
Ramos de uma plantação sem vento
Rios perdidos no esquecimento
Vazios cheios de solidão e tormento?

O que me espera hoje em grito e pranto?
Flores nuas do tempo a passar
Marés de versos secos ao luar
Pedaços do meu corpo cansado de esperar?

O que me espera hoje em morte de ti?
Raízes sem a força e destino incerto
Canções gastas de tudo ser tão longe mas perto
Passos perdidos em véu solto e incoberto?

O que me espero eu, se ainda fico aqui?
Sorrisos, vozes, sonhos, futuro
Inquietações num leito demasiado escuro
Um respirar com que me fecundo e torturo?

oTeMp0

O tempo que passa Leva uma flor ao vento Que se faz poesia e raça Fonte, porta e lamento Curva-se o peregrino Sem ter medo da desgra...