28 de julho de 2017

Há uma fonte de água em cada sonho. Há correntes e montes e vales e tudo o resto. Há a luz e a noite também. Histórias por mais que evidentes. Há um silêncio que ainda não morreu. Há tudo isso e eu... Há pesadelos que teimam ao redor das estátuas. Há as lamas do caminho. Há igualmente o amor e a fome. Peregrinos de solidões às voltas. Há um campo onde nada se colheu. Já tudo isso e eu... Há a saudade presa ao esquecimento. Há o toque da viola solto nos sorrisos livres. Copos de tinto e queijo forte. Há a cama que já arrefeceu. Há tudo isso e eu... Há o boneco e o menino, prontos e presentes. Há o cansaço e a dor e os tropeções. Há o caos da casa. Ventos de outrora, fumos de hoje. Há as nuvens e mais o que se perdeu. Há tudo isso e eu... Há a poesia entalada da garganta muda. Há o grito em chaga em cada dedo. Vómitos e carrascos. Há a alegria do tanto que se viveu. Há tudo isso e eu... E eu? Sim, eu! Onde estou?

5 de julho de 2017

ChEgAdA

Falas-me das certezas do voo
Do seguro porto da viagem
Dos sorrisos e das lágrimas à passagem
E de todas as pedras da caminhada.
Mas não me falas da chegada...

Falas-me do infinito destino nosso
Do amor e da romaria
Da noite que anuncia o dia
Mesmo quando não há madrugada.
Mas não me falas da chegada...

Falas-me de sonhos talvez sinceros
Do muito que os passos dão
Na ternura das marés do coração
Onde se aconchegam por tudo e por nada.
Mas não me falas da chegada...

Falas-me de poemas e palavras a granel
Ou quem sabe o mais puro abraço
Do tanto que nos temos, pedaço a pedaço
Entre o rio, o mar, a saída e a entrada.
Mas não me falas da chegada...

Falas-me e eu estou aqui
Como quem se inquieta num beijo mais
Como quem procura o seu porto e o seu cais
De cada vez que regressas calada.
Mesmo quando não me falas da chegada...

2 de julho de 2017

PeReGrIn0

Abre-se o caminho ao peregrino
Cumpre-se a inquietante viagem
Sonho de homem feito velho e menino
Na saudade crua da sua passagem

Rompe-se o desejo à infinita trovoada
Esconde-se a lágrima forte, talvez
Sonho de homem, cantado em mais uma madrugada
Na memória de tudo que ainda não fez

Volta-se aqui, ao eterno lugar
Fica-se na marca do passo certo
Sonho de homem, entre o ir e o ficar
Que se deixa embriagamente longe e perto

Abre, rompe e volta, VIDA!
Saberás do sopro da tua respiração
Não existe fome mais perdida
Do que aquela que chora em comunhão
Os pedaços dos teus versos largados ao vento.
Como um simples e doce pensamento...

oTeMp0

O tempo que passa Leva uma flor ao vento Que se faz poesia e raça Fonte, porta e lamento Curva-se o peregrino Sem ter medo da desgra...