30 de outubro de 2010

JPSC29deoutubro2010


Todo este silêncio do meu tempo
A viagem apenas
Sopro de mim...
Já não sei das pedras, do castelo
Das hisórias endiabradas
Óleo de me cobrir o espanto.
Se o ar fosse meu só meu
Quem sabe pudesse devolver-te a sorte
Que hoje, meu Mestre,
Foste ao encontro da morte.
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A João Paulo Seara Cardoso. No eterno repouso.

27 de outubro de 2010

?

Vou falar na primeira pessoa...
Espera. Não falas sempre na primeira pessoa?
Sim.
Então?
Mas agora vou falar mesmo na primeira pessoa.
...
Ontem perguntaram-me se andava triste. Disse que sim. Que tinha saudades do vento.
Do vento? Do inverno?
Não. Do vento.
Qual vento?
O vento. O que temos dentro de nós.
Tens, portanto, saudades de ti próprio.
Não. Temho saudades do vento.
Ok. Vou fingir que percebo.
Não finjas. Ouve apenas o que tenho para te dizer.
Sim. Sabes que te leio sempre.
Não é a mesma coisa.
Não?!!!
Não. O que tenho para dizer ainda não escrevi.
Não?!!! Então porque escreves?
Porque tenho coisas para dizer...
Como?!!! Já não percebo nada. Não te entendo...
Não vale a pena entenderes-me.
Mas eu gosto de ti.
Por isso mesmo. Gostas de mim porque não me entendes.
E isso é bom?
Raio de pergunta!

25 de outubro de 2010

hEi-DeMoRrEr


Hei-de morrer no silêncio
Porque levo em mim os gritos da vida
Hei-de morrer na rouquidão
De todos os sonhos terem uma saída...
Hei-de morrer longe e em segredo
Porque os meus passos dançam a liberdade
Hei-de morrer por amor
Em corpo feito pele, fome e saudade...
Hei-de morrer nas distâncias e nos abraços
Entre o calor que me cala e me adormece
Hei-de morrer nos mantos da sorte alheia
Fonte dos rios que o meu peito ainda tece...
Hei-de morrer no mundo, nos leitos embriagados
Que o meu sangue um dia cobriu de mim
Hei-de morrer sorrindo, eu sei
Para nascer de novo, o nascer de um novo fim...

23 de outubro de 2010

mErGuLh0

Se a vida te tirou a vida
Morte nunca anunciada
Pena infinita e pesada
Alma que caminha ferida...
Boca seca e amordaçada
Corpo que veste a pele cansada
Tempo de uma paixão nunca perdida...
Peito que chora uma trovoada
Olhos de corrente solta e fechada
Dança de raiva sangrenta e contida...
Grita o teu inferno na passada!
Rasga a tua dor e mais nada!
Fome que jamais cai pobre ou vencida...
Vai, luta que o teu nome é palavra sagrada!
Punho que se refaz em cada madrugada
Chão que te sustenta firme e erguida...
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Não te sei escrever hoje. Por isso a minha dor.

20 de outubro de 2010

nUnCa0tEmPo

Nunca o tempo se perde no caminho
Mesmo quando um vento se arrasta
Ficam as pedras, os castelos, um ninho
Onde se esconde, se deita e se gasta...
Nunca o tempo se perde na alma amante
Mesmo quando o sonho é raiz
Ficam os sabores, os cheiros, um toque distante
Onde uma lágrima inunda por inteiro uma vida feliz
Nunca o tempo se perde no silêncio que dói
Mesmo quando no copro uma semente se eterniza
Ficam talvez o sangue, leito de um passo herói
Onde cada pedaço de flor me protege e avisa
Nunca o tempo fica em mim
Mesmo quando sei a força da minha mão
Ficam os segredos, os enredos, os medos e o sim
Onde se perde o suor que um se fez inquietação

17 de outubro de 2010

pErDe-Se-Me

De que vale o sol assim embrulhado
Vestido da saudade que se cala
Perde-se-me a pele e o canto dourado
Vagabundo e morto, entre o cemitério e a vala

De que vale o tempo assim parado
Rente ao que não se faz
Perde-se-me a alma num sonho amputado
No grito louco e preso sem guerra e sem paz

De que vale a poesia de um corpo cansado
Passo que treme as pedras da calçada
Perde-se-me a vida por todo o lado
Nas silhuetas que de tanto se fez nada...

13 de outubro de 2010

aMaRrA

Se o mundo se pintasse
Das cores com que danças a vida
Se um beijo me bastasse
Para perceber a despedida
Se as amarras fossem amor
De suar a pele do vento
Se um toque me desse o calor
De abraçar cada nó que invento
Se o sangue gritasse de paixão
Os caminhos de trilhar lado a lado
Se apenas me queimasse o coração
No tempo de um tempo mais que passado
Se um sorriso mais te desse
A alegria de me escrever assim
Talvez um dia entendesse
Porque se morre muito antes do fim...
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11 de outubro de 2010

tErNuRa


Há um silêncio em mim hoje.
Um silêncio de silêncios como suores.
Um sabor de sabores como sorrisos.
Um olhar de olhares como sótãos.
Toco os retalhos do meu tempo e sinto este silêncio de silêncios que de sabores de sabores por entre o olhar de olhares se eterniza.
Flor que nunca abandona o seu jardim.
Cheiro que sempre transporta os sonhos.
Terra molhada que pisa o meu corpo.
Renascer.

10 de outubro de 2010

0mEuLuTo

_____________________________________Escreve-me um pedaço da tua pele num sorriso mais. Sussurra-me o tamanho dos montes e dos rios que não param. Que do calor do tempo se desfaz a alma. Que da corrente da vida se pintam os passos. Dobra mais um pouco dessa tua morte na minha existência. Como num romance que nasce dentro de uma floresta. Quero ter-te na palma da minha mão e apertar tanto tanto que em sangue se invente a eternidade e eu finalmente consiga descansar...___________________________

9 de outubro de 2010

mArEmMiM


Todos os caminhos da tua lembrança....
O parto.
O choro.
O toque.
O cheiro.
O leite.
O peito.
Os olhos.
A voz.
O colo.
As mãos.
Os passos.
O respirar.
As saudades...
Mais do que as palavras, existe um mar de ti em mim.

7 de outubro de 2010

nAsCeRt0d0s0sDiAs

Ontem adormeci numa flor que me pintou o corpo. Deixei-lhe um cobertor em forma de sorriso. Cantei-lhe um beijo em forma de sonho. Cheirei-lhe o tempo e um jardim ali se formou. Acordado no futuro de todos os sussurros e revoltas. Hoje, sempre que me lembro de passear, atiro os meus ventos ao norte e nada fica na mesma. Nem a espera, nem o esquecimento. Invento um rio e transformo o mar. Que ecoará as suas tempestades no teu ouvido como lembrança. Do tempo eterno feito em nós.

5 de outubro de 2010

eXiSt0eMtI


Nãoexisteotemponemofimquandotudopáraeasaudadememóiassim...Nãoexistenadasetudoéventoemmim.Nãoexisteomarsecadalágrimaquecantoéapenasumchamamentodetudosertantoeprantodesteladodaminhapele...Nãoexisteorionacordetodososdestinosquesefazemmesmoemgritodedorqueferveeardeeexplodeeinundatodasasvestesdestemundo...Nãoexisteapaznestainquietaçãodemomentosemomentosenoitesenoitesemanhãsemanhãseventoeventoeventoeventoqueétudooquerespiro.Porissoexisto.

3 de outubro de 2010

dEsEsPeRo


Pega em mim tu que és vento. Embrulha-me nas tuas nuvens e leva-me ao céu. Tenho lá uma saudade à minha espera...

2 de outubro de 2010

gRiTo


Apaga-me. Cerra o meu nome num prego fixo no tempo. E deixa. Leva o resto de ti até onde o teu sorriso deixar. Se fores capaz. No apagamento de todas as mentiras...
Apaga-me. Liberta a tua felicidade em passos de prisioneiro. E morre. Cala para sempre o que sobrou do festim. Mas faz isso.
Estou farto de te cantar!


1 de outubro de 2010

lEvA-mE


Leva-me.
No voo seguro do tempo que não morre.
No sémen que do meu corpo ainda escorre.
Quando no silêncio te procuro.
Leva-me.
Suga-me a pele nos teus olhos de sorriso aberto.
Cobre-me as mãos de flores e fica sempre perto.
Quando no silêncio te procuro.
Leva-me.
Canta-me o teu ventre materno sem parar.
Segreda-me o teu nome só para me encantar.
Quando no silêncio te procuro.
Leva-me.
Na noite feita em mim inquietação e desejo.
Vento forte que abraço e beijo.
Quando no silêncio te procuro.
Leva-me.
No calor da tua boca fechada.
No leito nosso que se abre pela madrugada.
Quando no silêncio te procuro.
Leva-me.
Faz-me chegar ao céu e ao fim do tempo sem fim.
Como quem me inventa um caixão e um jardim.
Quando no silêncio te procuro.
Leva-me.
Encontra-me de encontro à parede o animal e a besta em fúria e dor.
Ferve-me a alma nas palavras todas, até no amor.
Quando no silêncio te procuro.
Leva-me.
E quando te fores embora talvez,
Devagarinho, muito devagarinho,
Conta-me a história outra vez...
Leva-me.

oTeMp0

O tempo que passa Leva uma flor ao vento Que se faz poesia e raça Fonte, porta e lamento Curva-se o peregrino Sem ter medo da desgra...