31 de janeiro de 2009

oNtEm

Sinto-me amarrado ao tempo. A cair num precipício dentro deste labirinto e na vertigem que é o meu peito. Os sorrisos e as lágrimas são as cores deste caminho ora embriagado ora solto ora prisioneiro. Chove dentro de mim e as flores arrastam os sonhos. Em silêncios e melodias de existir para amar...
Porque o momento é insuportável. Sufoco em mim. Asfixio nos meus passos e no meu olhar. No vazio. A transbordar desta solidão que me sangra os dedos. E não consigo adormecer. O tempo torna-se o carrasco e a luz cega demais...

29 de janeiro de 2009

oNdAf0rTe

Sou forte onda que se inventa

Poder de dentes bem cerrados

Cada lágrima uma dor branca e cinzenta

Que me cobre os punhos fechados

Sou livre em todos os abraços dados

Nas memórias da nossa vida sangrenta

Sabemos que as nossas lutas só são fados

Se não formos a onda que se inventa!

28 de janeiro de 2009

DuRaSoLiDã0


Virei-me para o outro lado
Carregado desta dura solidão
Grito o grito enternamente calado
De tanto ser maré, pedaço de carne e pão
Deixo-me cair, num silêncio embriagado
Vazio de mim, sem verso ou canção
Na pele, um sangue que corre envenenado
Nos olhos, os calos da palma da mão
Vejo passar as palavras em tom magoado
Rios de sangue e dor, lágrimas e paixão
De tudo, fica-me um aconchego desaconchegado
Um caminho de vertigem, fome e sofreguidão
Onde pára a magia do abraço já cansado?
Essa luz cega de queimar meu coração?
Ai, que saudades do futuro, do passado
Que do presente, me iludo, quem sabe em vão...
Seremos de novo magia e fado?
Melodias de tamanha inquietação?
O tempo... virá ditar o seu ditado
Enquanto me envelheço assim, sem dó nem perdão...
Vale a pena tudo isto, o brilho forte e delicado
Numa nuvem pousado na tua direcção?
Vale a pena um sonho assim acordado
Se da noite me consumo escravo no porão?
Mal sei da minha viagem onde tudo levo guardado
Dos que perdi... um enorme calor no coração
Dos que ganhei... um louvor de punho fechado
Mal sei da minha viagem, travessia e dura solidão

26 de janeiro de 2009

pArTiDa


O meu voo é uma viagem às avessas
Sem altares ou as tais velas que dão luz
Talvez um lago feito de promessas
Ou apenas uma migalha que ao vento se conduz.
Não rasgo palavras, nem lágrimas de estradas
Vou fazer uma muralha de sangue aconchegada num abraço
Onde teime o meu sonho, tela de paisagens já cansadas
Que me rouba a voz, a poesia, o pranto e tudo mais que faço.
Flutuo dentro de um cubículo que me sufoca
Me rouba cada minuto que ainda não tive
Morte lenta que assim me convoca
Na fome da saliva em punho que não se sobrevive.
Sou feio. Pequeno. Não cheiro a pele ou incenso
Caio mais uma vez no calvário de um caminho
De tão impossível chega a ser imenso
De tão meu chega a ser ninho.
Hei-de escrever enquanto este infinito couber
Serei pegada e nó em cada desencontro ou partida
Hoje grito, grito, grito, grito... tudo o que puder
Para me limpar de ti, que partiste sem despedida...

25 de janeiro de 2009

CiDaDeDaSoLiDã0


Falamos de uma cidade cheia. De passos apressados e de mãos que se procuram nos desencontros onde as vozes se confundem. De silêncios em demasia. Nem o teu sussurro me acordou. Tinha-me deixado cair numa parede demasiadamente vazia. O meu corpo era uma folha à mercê do tempo. Os meus olhos rios feitos esgotos. Os meus braços apenas pó... Nesta cidade cheia não existem fotografias. Os passeios são baús a abarrotar de memórias e lágrimas. As estradas feitas labirintos assassinos e escombros do peito. Não havia janelas. Muito menos portas. Nesta cidade de dentro da solidão só existo eu...


24 de janeiro de 2009

sIlÊnCi0sQuEcAlAm



Os silêncios são tempestades que no peito carregam as memórias. Falésias onde o mar bate, nos canta e nos atira contra nós próprios. Em janelas que mesmo abertas nos impedem de saltar. Sentimo-nos presos. Amarrados dentro da saudade e em sonho. Os olhos recusam a luz. As mãos tremem. O corpo seca e sufoca. Os silêncios são a cor negra da paz e o fogo da guerra. São passos dados no mesmo lugar. Em viagens sem partida ou chegada. Os silêncios são frios. Esbarram no rosto e interrompem os sorrisos. Os silêncios calam!

23 de janeiro de 2009

qUeRoSeRrIo


Gostava de ser um rio. Acho que já o disse num outro tempo. Também não interessa. Os tempos são correntes em nós. Águas que nunca tornam a passar da mesma forma. Mas eu gostava de ser um rio. Daqueles que juntam margens; não dos que separam. Daqueles que aproximam as distâncias; não dos que as fazem esquecer. Daqueles que reflectem a inquietação da terra; não dos que transportam as misérias dos Homens. Daqueles onde os meninos podem tomar banho e mergulhar livremente; não dos que estão cheios de avisos. Daqueles que são lares de famílias e famílias de peixinhos coloridos e que dançam; não dos que apodrecem vazios... Gostava de ser um rio. No tempo exacto da mão dada. Do abraço longo e carinhoso que permanece em nós um tempo infinito. "Para sermos, juntos..." Um rio que soubesse dormir e sonhar. Em que as memórias são doces com que se maquilha. Em que as lágrimas são alegrias e dores de louvar a vida. Em que as cores são telas e janelas abertas aos outros. Às paixões. Aos afectos. Onde conseguíssemos ouvir o eco de todas as canções da nossa história. Todos os poemas da nossa voz. Todos os soluços da nossa dor. O respirar do nosso corpo. Sempre às voltas no tempo de existir ou morrer. Entre o tempo de existir e morrer. Por força do tempo de existir e morrer. Os rios morrem, amor? Pergunta o vento às copas das árvores. Não, meu amigo. Os rios são a fonte interminável dos passos. As estradas de todos nós. O toque do olhar no mundo. Queres ser rio, é? É. Quero ser rio. Qual? O que dos meus olhos nasce e no meu peito desagua... O que de dentro de mim explode de cada vez que a saudade me assalta. O que existe em cada palavra. Tu és rio. Sou? És! Porque dizes isso? Não queiras saber...

20 de janeiro de 2009

BúZi0


Existe um caminho no meu coraçãoCapaz de tapar todas as históriasOnde cada passo é uma inquietaçãoNo sabor dos sonhos e das memórias
Existe um poço de fundo no peitoCravado na doce e intranquila saudadeOnde me perco, assim ao meu jeitoOnde me quero encontrar, mesmo que seja tarde
Existe um poema maior em mimQue me escreve olhos nos olhos sem cessarCanção de amor eterno, sem nunca ter fimOnde desaguo todos os dias, feito rio feito mar
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-Só nos passos de quem passaNo enredo de quem cantaEm tons de carinho, fome ou desgraçaVoltaremos ao encontro e tudo outra vez se levanta!

qUeRoUmTrEv0dEaRoMaS

O meu sossego tem o peso do tempo. Das palavras repetidas. Dos silêncios. Das memórias. São ternuras entre abraços e olhares penetrantes. Inquietações de dentro da pele. Quero um trevo de aromas que me cubra e me pinte um jardim. Refúgio de sonhos em volta nas marés. E sou um louco à solta. Na marcha dos trilhos feitos meus em areais sem fim. Entoando melodias doces que a vida me concede. Espero sempre tudo. Mais que tudo. No eterno refazer dos momentos. Na miragem. Na viagem. Na vertigem. Na mão que se estende até ao ombro amigo. No sussurro. Espero sempre tudo. No meu sossego feito tempo...

19 de janeiro de 2009

pArAaLéMdAsPaLaVrAs

Para além das palavras há um silêncio que sufoca
Uma estrada, uma falésia, um infinito mais que infinito
Para além das palavras, de mim, roucam-se-me os passos
Porque tudo é saudade, sonho e grito
Para além das palavras os poetas e os amantes de novo
Entre a luz e o tempo, do peito feito ardor aflito
Para além das palavras há um eu, um tu, um nós,
Todos os sabores e os abraços dessa saudade, sonho e grito
Para além das palavras os minutos são eternos
Na maré que vai e vem, torrente que me devolve tudo o que tenho escrito
Para além das palavras rusgas de memórias no meu pulso
Que agarra esta saudade, este sonho e este grito
Para além das palavras o futuro é colorido? Uma flor?
Talvez. Deixo-me embalar assim, nas melodias que acredito
Para além das palavras que direi, que nunca te direi, que se inventam, talvez
Encontro-me saltimbanco entre a saudade, o sonho e o grito

18 de janeiro de 2009

nAvErTiGeMdAfALéSiA


Na vertigem da falésia explode o meu coração carrega o peso e o fogo da sua história no encalce de uma canção na vertigem da falésia labiritno secreto dos amantes o meu peito encontra a liberdade nas estradas de todos os viajantes na vertigem da falésia podem os minutos ler para além dos abraços podem as palavras entoar as memórias sonhos da multidão na vertigem da falésia onde explode o meu coração... Na vertigem da falésia onde o Sol anuncia que os silêncios respiram ternura no passo seguro no pulso forte na manta da candura na vertigem da falésia onde o olhar penetra e reflecte flores no horizonte espelho do mundo feito de saudades piratas e amores na vertigem da falésia feita de carne e loucura morro-me para me parir de novo nos areais do tempo do mar e da rocha na vertigem da falésia os silêncios respiram ternura...

14 de janeiro de 2009

mInÚsCuLoTeNtÁcUl0


Fortes são as ondas que me inundam as lágrimas da memória. Desse minúsculo tentáculo da alma que nos aquece os pés e nos passa um creme nas mãos. Sabemos que há palavras que nunca mais voltam na maré; ou no dorso do remador... Cansados e sorridentes, vamo-nos embalando pelas praias do tempo. Sim. Desse minúsculo tentáculo da alma que nos mostra o que somos. Peregrinos ou aprendizes. Feiticeiros. Cantores. Poetas. Vagabundos. Amantes. Gatos. Nuvens. Quem sabe um pão-de-ló na cozinha da avó...

12 de janeiro de 2009

eStRaDa


Sabes que a nossa estrada é um labirinto cheio de canteiros? Espelhos de nós, de mistérios, de sonhos, de poemas e canções onde nos deixamos perder vezes sem conta. E fazemos de conta que é uma estrada para andar e a gente não pára. Porque há ventos e mar. Os que inventamos ao acordar... ao adormecer... ao respirar... ao lutar. Somos viajantes dentro dos destinos! Peregrinos à solta de mãos dadas com o fogo. Saltimbancos mágicos que nos devolvem essa liberdade maluca e os beijos. Todos os beijos e abraços que soubermos dar enquanto houver estrada para andar... Sabes, Jorge. Amo-te. Assim. No encalce de todos os amantes também. Na ponta dos teus dedos que têm o cheiro dos mantos e das janelas. Na tua voz. Na tua história... De onde ilumino as flores e os frutos e os segredos e as solidões e o meu jeito de gostar de chorar... Nesta inquietude de ser maré forte. De tecer todas as malhas do olhar. De nunca querer chegar... Só para dizer que ainda há estrada e que a gente vai continuar... Para voltar a dizer que gosto de ti. Que hei-de cantar (te) até morrer. Encosta-te a mim...
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Foto retirada da net... enquanto não chega a minha...

11 de janeiro de 2009

cAdAlÁgRiMaQuEvErTeS


Cada lágrima que vertes
É uma gota onde te afogas
Uma peregrina viagem sem destino
Que desagua num cemitério de solidões
Onde os corpos secam…
Os olhos cegam nos clarões espelhados das almas…
As mãos tornam-se inertes e frias…
Os passos vagabundos…
Os gritos lavas que vão consumindo…
… E tudo permanece de joelhos. Em chagas sangrentas de não levar a lado nenhum.
Cada lágrima que vertes
Não constrói uma praia
Não inunda um rio
Não dá de beber aos animais
Não alimenta as plantas
Não torna mais azul
Não beija
Não canta
Não te faz voltar da fuga…
Cada lágrima assim
Não vale a pena.
Faz uma concha com as mãos. Lava a cara com as mãos molhadas de tanto chorar. E inventa o regresso dos sorrisos!

9 de janeiro de 2009

a0jEiToDeFl0rBeLa


Volta-me o amor em cada esquina
Solta-me os cabelos e afaga-me o olhar
Nos seus passos de menina
Vou morrendo mais um pouco sem cessar
.
Morrerei sempre por amor
Em lágrimas, em gritos, em soltos gritos!
E os meus versos serão de dor
E os meus passos interditos...
.
Aconchega-se assim no meu peito

Entre o suor e a saudade
Que do amor respira o vento e o leito
Que me faz ser poeta. E nunca é tarde!

7 de janeiro de 2009

sIlêNcIoSePeNaS

Hoje não abro janelas. Deixo a escuridão entrar pelas cores todas adentro e limá-las até tudo se perder. Nos silêncios amargos da noite que me consome o sorriso. As palavras pesam-me. A luz dos sonhos e das memórias esvai-se como um clarão apenas. Hoje não abro janelas. E as paredes ficam sozinhas...

6 de janeiro de 2009

mAiSuMp0eMaDeMaRiA

Fosse eu rio na cobertura do teu manto
Fosse eu mão firme na vertigem das marés
Fosse eu abrigo aquecido no embalo do nosso canto
Fosse eu um pedaço de corrente a banhar-me os pés...


Fosse eu calaçada ou caminho

Rocha, malmequer, ribeiro apenas

Fosse eu aguçada pressa de veludo ou linho

Carne, sangue, fomes amenas...



Fosse eu alma da inquietação

Presa de tamanho areal

E saberia por uma vez, de cor, a canção

De te saber MARIA de Portugal!

5 de janeiro de 2009

cAnTeIr0


Se a minha voz rouca pudesse
Se o meu peito ajudasse
Todos os gritos que hoje te desse
Seriam beijos na tua face

Memórias postas ao acaso
Entre uma ternura e um cansaço
Sem tempo certo, sem nenhum atraso
Porque só nos resta esta seiva, pedaço a pedaço

Sou pobre, pequeno inferno entre mim e o meu ser
Perdido nas inquietações dos sonhos, das palavras e das marés
Desprotegido e solitário... porque só assim sei sofrer
Mesmo quando as tuas ondas me chegam molham os pés

Solta-me! Arrasa-me! Liberta-me! Sossega...
Resta-me a súplica e a prece.
Vertigem alucinante e cega
Que a minha voz rouca transportaria, se pudesse

2 de janeiro de 2009

oAm0rFeItoCaMiNh0eMnÓsNoSiÊnCi0


Pode ser o amor um caminho em nós
Por onde nos perdemos e sofremos e caímos vezes sem conta...
Um fim tornado começo, uma fonte na foz
Onde desagua um rio feito lágrimas e se desmonta
Para de novo renascer ao morrer...
Como um caminho,amor, em nós pode ser
..... Um segundo de pele entre a saudade...

.......... Uma comichão em torrente onde o tempo se incendeia...
............... Um pedaço da nossa história feito mentira no grito da verdade...
.................... Um silêncio a dois em praia do tamanho de um grão de areia!

oTeMp0

O tempo que passa Leva uma flor ao vento Que se faz poesia e raça Fonte, porta e lamento Curva-se o peregrino Sem ter medo da desgra...