29 de abril de 2009

àGuA


Corres-me nas veias límpida como um rio
Fresca sabes à nascente do sangue ardente
Fonte de eterno sopro ou arrepio
Onde me deito na espera de um novo presente

Canto-te todos os dias num sussurro esguio
Margens de mim, de memórias da gente
O amor, ao prendê-lo, perdi-o
O caminho faz-se no sabor desta corrente

Deito-me e mergulho por dentro do frio
Fogo embriagado que em roda se sente
Somos sempre abraço, forte e macio
Que assim de nós se faz o fruto e a semente

28 de abril de 2009

sEi-Te, MaRiA!

Sei-te tempestade, em cada novo desalento
Fogo que varre a memória à passagem
Cratera de uma outra ilha, uma outra viagem
Lágrima que te serve de nó e alimento

Sei-te corrente, em cada grito lançado
Sobre o areal da tua inquietação
Canto selvagem, cheiro do coração
Fonte de pranto vivo e já cansado

Sei-te voz, carregada de colo e carinho
Sangue de mim, de amor e calo
Vómito, tela ou mesmo abalo
Ritual de nós, que se dá de mansinho

Sei-te aqui, agora, sempre e agora
Na volta da volta e da revolta que volta
No poema-verso de arma que se solta
Que adormece, que fica e se demora

Sei-te, assim, Maria!

27 de abril de 2009

nUnCaMoRr0EnQuAnToHoUvErPaLaVrAs



Atiro-me às palavras como fera louca, desnorteada. Carrego-as com todo o peso da minha história, dos meus sonhos. Afogo-me tantas vezes que cada falta de ar acaba por inventar-se numa nova maré de flores. A minha estrada é um manto de solidão e abraços. Beijos e gritos. Sonhos. Lá, encontro todas as almas e paixões. Sinto-me bem na minha estrada. Mesmo em lágrimas feitas ribeiro que desce pelos montes e apanha outros ribeiros e se faz rio e se faz mar. E depois somos todos mar. Esse imenso canto das entranhas onde nos deitamos para nos deixarmos ir pela vertigem.
Atiro-me às palavras como fera, nas ausências fecundas da pele ou no calor da saudade. Dessa cortina que anda de mão dada com o olhar. Serenamente a inquietação da passagem brota o seu odor a vida e riso. Inquietantemente o sossego de um amor antigo, de mais um amor perdido. Rasgo-me em farrapos para novamente renascer. Porque nunca morri. E é assim mesmo: nem sempre a morte se anuncia... Nunca morro enquanto houver palavras...

26 de abril de 2009

oLhA-mEbEm



Olha-me bem, meu amor. Deixa que os trilhos da saudade se percam num minuto apenas. Larga a tua mão de encontro ao meu peito. Sente que o coração que bate canta a nossa canção. Que a minha voz treme só de pensar no teu nome. Que os meus passos carregam as memórias de tanta fome e inquietação. Olha-me bem, meu amor. Sussurra-me um beijo. Desses que sabem a mel e cheiram a flores. Inventemos uma nova falésia que se perca no horizonte de todos os sonhos. Cantemos o vento, o sol, o mar, o rosto de todas as paixões que comandam a vida dos Homens. Não aprisiones mais o silêncio. Aperta-me. Solta em mim aquele sorriso que se faz ao areal mais alto da sede. Para construir uma nova madrugada. Acordada nos poros da pele. Ancorada nos mistérios. Encrostada na ponta dos dedos. Olha-me bem, meu amor. Recolhe estas lágrimas de alegria que se soltam no rio que corre sem parar. Pelos montes da nossa existência...

25 de abril de 2009

25 DE ABRIL SEMPRE (outro?)

Neste chão que piso
Corrente forte da liberdade
Agarremos a fome do que é preciso
As vozes da luta. A verdade!
Cantemos as armas e a força da gente
Do pão saber a nada e o cravo andar sem cheiro...
Neste chão que piso eternamente
Caminho contigo, camarada, amigo guerreiro!
Que país somos nós que apaga memórias e suores?
Que se levanta de olhos fechados, calado e sem esperança?
Que vira as costas aos seus poetas, aos seus cantores,
Que não sabe o valor de um abraço de criança?


Não quero esta liberdade, que fala de cor, sem cor.
Quero pegar na espingarda, por-lhe um cravo e chorar
De alegria e comunhão novos tempos, um novo acordar primaveril!
Não quero estas sombras, que matam as fontes do amor.
Quero erguer o punho ao sol, à palavra... e de novo cantar
De raiva, de silêncios, os mortos, os vivos. ABRIL!

24 de abril de 2009

dEdEnTeScErRaDoS


Deixo-me levar pelas sombras. Perdido entre o infinito, o desejo e a morte. A minha vida leva-me por caminhos inquietos e meus e nossos. Carreiros monte acima de beijos e fome. Irei de novo cantar a liberdade. De dentes cerrados. Só assim vale a pena!
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Hoje, no Largo do Carmo, à noite, num dos lugares mais altos da liberdade, lá estarei, para dar voz à liberdade. E amanhã, pelas 17 horas, em Figueiró dos Vinhos, num espectáculo único. Conto convosco porque A CANTIGA É UMA ARMA!

20 de abril de 2009

dEvAnEi0

Terra plantada
Semente
Carne pisada
Da gente
sangue e estrada
Urgente
Onda gritada
Em frente
Fome rasgada
Poente
Cinto do nada
Que mente
Salto de fada
Doente
Beijo em manada
Tão quente
Alma calada
Somente
Rio e jangada
Corrente
Viagem calçada
Serpente
Materna cantada
Somente
Guerra cruzada
Presente
Jarra enfeitiçada
Paciente
Dança em escada
Ardente
Fruto camarada
E sente
Arroto a feijoada
"Caliente"
Poema e rabanada
Resistente
Que dorme deitada
E contente
Santo pedrada
Potente
Amarga madrugada
Ausente
Joga a jogada
Confidente
E fica a noitada
Pendente!

18 de abril de 2009

m0mEnToDePuRaFeLiCiDaDe

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Carregado de mim te encontro feita rio
Na corrente de um sorriso aberto em nós
O amor segue leve e vadio
Sem ter pressa, entre a nascente e a foz

Carregado de mim te encontro na saudade
Que o tempo vai e vem sem se calar
O amor é um vento sem idade
De palavras que ecoam ao passar

Carregado de mim te encontro assim feliz
Canção eterna que dará à luz
Sei-te onda, praia ou raiz
Uma estrela que se dá e nos seduz

Carregado de mim te encontro na chegada
Da partida de um novo regresso forte
E nos passos mais que certos da entrada
Saberemos construir a nossa sorte

Carregado de mim aqui estou de punho erguido
Gritando a fome e a inquietação
De te querer mesmo que perdido
De te perder mesmo que não

Carregado de mim aqui fico amante e doce
Porque te quero como a vida corre
E seremos sempre como se fosse
E morreremos sempre como se morre

E cantaremos sempre como se canta
E amaremos sempre como se ama
Carregado de mim em ti, como manta
Carregado de nós, em nós, como cama

Saberei eu como se sabe?
Que o que carrego é o fruto da eterna sabedoria?
Que no amor tudo vale e tudo cabe,
Que nos meus olhos te pinto cada dia?

Na ternura me deito e aconchego
No calor, no silêncio, no leve toque...
Na embriaguês do desassossego
No beijo, no abraço, no choque...

Seria capaz de não parar de escrever(-te)!
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NOTA: Eufórico de uma noite cheia de emoções e energia onde tive o privilégio de estar e participar, cheguei a casa com toda a força para construir uma praia para correr e saltar. Resolvi deitar para trás das costas todos os pensamentos que me pudessem parar e deixei fluir as palavras. Não queria uma obra de arte. Ou um bom poema. Nem sequer algo que me orgulhasse mais tarde. Quero lá saber! Apeteceu-me PORQUE SIM. E dedico este momento de pura felicidade a todos os que amo.

16 de abril de 2009

jÁéTeMp0mEuAm0r


é tempo, meu amor, de termos tempo para nós
De sabermos rir enfim
De cantar sem estarmos sós
Já é tempo, sim!

Já é tempo, meu amor, de termos tempo para a saudade
De chorarmos o mar forte
As distâncias da cidade
Sim ao tempo, não à morte!

Já é tempo,
Se o tempo for nosso
Dá-me tempo
Que eu não posso
Usa o tempo
Dentro em ti
Sai do tempo
E vem para aqui!

Já é tempo, meu amor, de termos tempo em cada hora
De ser ar, mar e fruto
De ser tempo sem demora
Quero o tempo, em bruto!

Já é tempo, meu amor, de termos tempo feito cor
De pintar cada passo
De dar colo ao amor
Se não há tempo, eu faço!

Já é tempo,
Se o tempo for nosso
Dá-me tempo
Que eu não posso
Usa o tempo
Dentro em ti
Sai do tempo
E vem para aqui!


Já é tempo, meu amor, de termos o tempo na nossa mão
Carregado de pele a arder
No grito da paixão
Que
é tempo de nascer!
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Já é tempo, Rogério, da tua voz se ouvir em Abril!

12 de abril de 2009

tEnHoUmSoRrIs0pArAaSoLiDã0



Soltas-me em versos que correm pelas margens de mim, pelas curvas do tempo. Carregas-me a história e serves-me de fonte de lágrimas que se encostam na minha voz. Sabes que no silêncio de ti sou capaz de pintar todos os horizontes. Que a minha pele reflecte sonhos. Os meus dedos intranquilizam o calor de quem aperta contra si a vida. Toda a vida. Encontro-me em mim e nos outros. E tu sabes-me assim, solidão. Perto do poema. Que um dia quero alcançar!

10 de abril de 2009

sAbErEiDaSaLiVaCoMqUeTePiNtEi



Saberei deitar-me sobre o fim


Cair em cada nova lágrima ainda quente


Talvez impelir o silêncio de encontro ao meu peito


Quem sabe gritar mais alto que toda a gente...


Saberei ter-te na memória eterna dos meus dedos


Pedir um outro acordar e seguir em frente


Talvez inventar uma outra praia infinita


Com que nos vamos expulsando como quem mente


Eu sei que gira e gira e gira o mundo que sempre gira


Pelos seus becos e labirintos que nos corta em mantas de nós


Talvez um dia saiba morrer digno da saliva


Com que te pintei todos os dias ao sol poente

9 de abril de 2009

tErMiNaL




E segredou-lhe em jeito de verso: "Estamos vazios de nós, meu doce amor. As ruas cheiram a pó e a estrada desfaz-se no tempo. O horizonte cobre-nos com o seu manto de fantasma feito sonho. E nada voltará ao seu lugar nesta canção." Ela, levantou os olhos a medo, apertou-lhe a mão e fez-se rio. As águas transbordaram-se pelos corpos afogando tudo à passagem. Nem uma janela escapou. E a morte se anunciou num tapete de sangue estendido sobre os as chagas dos peregrinos. "Não vás...", pediu. "Não aguento mais uma história." E foi-se mesmo.

8 de abril de 2009

nÃoSeIdAsMaRgEnS

Sento-me silêncio na beira do rio

Perco o olhar entre a fome e o arrepio

Sei da morte, do tempo, das viagens

Mas não sei das margens...

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Grito flores ao vento em poemas de dor

Rasgo-me por inteiro entre a solidão e o amor

Sei de tantas memórias e paisagens

Mas não sei das margens...

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Rebento um sangue ardente que das veias corre lento

Pouso o corpo por entre o sonho e o esquecimento

Sei dos rumos e das paragens

Mas não sei das margens...

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Curvo-me embriagado perante mim

Carregado de cinza que se desfaz por fim

Porque sei de cor todas as fontes e miragens

Mas ainda não sei das margens...

7 de abril de 2009

aFoRçAd0s0lHoS



Pega na minha mão

Carrega-lhe um jardim

Cascata-lhe um beijo

Perde-te em mim

Talvez num poema sem fim

Na correnteza do teu olhar

Que nos meus olhos se faz mar

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Pega outra vez

Sussura-lhe um verso mais


Um pequeno trilho de abraços


Onde morram os teus pés e nasçam teus passos


Na força que me dás... sempre o teu cheiro


Teima em banhar-me os olhos...

5 de abril de 2009

dEiXaDeMoRrEr


Perdes-me a cada momento em que de novo chamas o silêncio para te aquecer o leito... Deixas-te ficar no horizonte dessa correnteza estranha da tua história. Não cantas. Não choras. Não chamas. Quedas-te prisioneira do passado, que não te liberta o futuro. Podias gritar... Talvez o teu corpo percebesse então que tens a tua vida na palma das mãos!

2 de abril de 2009

rEeNc0nTro


A ponte dos meus versos
Liga as margens de mim
De um lado pesadelos dispersos
Do outro, um inquieto jardim

O rio, esse, é de amor
De paixão e eterno desejo
Que desagua num mar de dor
Onde cada onda se transforma em beijo

Natureza de palavras conhecidas
Pintadas à minha vontade
São as voltas mais antigas
Que procuram fonte de verdade

24/4/2003

oTeMp0

O tempo que passa Leva uma flor ao vento Que se faz poesia e raça Fonte, porta e lamento Curva-se o peregrino Sem ter medo da desgra...