30 de agosto de 2008

eStRoNd0

Queria poder dar este grito no meio de um abraço. Deixar que os rios correntes dos meus olhos se fizessem ao mar no teu peito. Esta crescente inquietação... Não me digam nada. Não me peçam mais palavras nem me chamem poeta. Não me beijem nem digam o meu nome. Queria poder dar este grito no silêncio de um abraço. Do teu abraço. Deixar soltar-se cada minuto a esta força que me faz temer o amanhã e despossuir o passado. Porque é que não me calo? Sim... labirinticamente perder-me para sempre nas ruas de todos os versos por onde andei a passear vaidoso sem pedir licença. Quero ir-me embora. Lançar ao mundo um novo canto. O meu. Sou em palavras tudo o que não acontece. Sou em canto tudo o que não mereço. Sou nada. Deste nada que me dói de cada vez que me encho mais. Perdoem-me.
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29 de agosto de 2008

SéPiA

Podia ser pedra ao redor da montanha
Cristal por entre a corrente do rio
Desse que da fonte em dor tamanha
Se eleva até nós num arrepio
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Podia ser água ao sabor do teu beijo
Ritual quente de um tempo de liberdade
Desse que existe aprisionado no desejo
De nos encontarmos nos reflexos da saudade
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Podia serpentear o mundo, a paixão
Danças de olhos fechados perto de nós
Dessas que sabem de cor os caminhos da mão
Que se perdem nos abraços, nas lágrimas e na foz

28 de agosto de 2008

vErSoSmArIa


Nunca o silêncio ecoará no meu peito

Já lá mora. Inquieto. Longe e perto da minha vida.

Esse silêncio e dor perdida

Por entre versos loucamente cuspidos ao acaso

Que o meu coração grita, em voo raso

Que do teu peito se aperta tanto.

Em cada lágrima que no nosso manto

Nos adormece a sorrir.

Assim, Maria. Ir e vir.

27 de agosto de 2008

pErCo-MeEmMiM

Podem as lágrimas secar se são o rio que os nossos olhos entregam ao presente?
Posso eu esquecer a dor se a cada beijo sinto o perfume do teu sangue quente?

Posso eu saber do reflexo de mim na ondulação se as marés são eternamente?

Posso descansar um dia sem ter de me ir embora na inquietação dum poema ausente?

Posso respirar?

Cantar?

Sonhar?

Amar?


Chegar...?

26 de agosto de 2008

sErÁ?


Será o futuro um lugar ao Sul ou ao Norte? Será uma espécie de cama cheia de horizontes? Um vazio, um cheio de tudo e de morte Por entre montanhas, rios e fontes? Será o futuro um sonho de menino? Será um regaço eterno entre o sono e o riso? Um caminhar doce, cruel de peregrino Por entre toda a inquietação que preciso? Será o futuro mesmo diferente do presente? Será luz, escuro, fresco ou abafado? Terá cor, entre o negro e o laranja quente Por onde me perco e não sou encontrado? Será o futuro um lugar apenas e só? Um risco no contar dos dias? Algo entre o mar, a erva e o pó Por onde o tempo solta suas ventanias...

24 de agosto de 2008

dEoLh0sFeChAd0s

Quando eu morrer, por favor, apareçam todos. Chorem e cantem e elevem as palavras ao vento! Digam que fui um génio e um vulgar. Que amei e fui cruel. Que nunca compreendi. Que os meus olhos são bonitos e o meu sorriso o meu espelho. Junto do mar façam uma roda e penetrem-se nos olhares que recordam e cantem. Sim. Pode ser. Cantem a paixão que foi a minha vida e os amores que tive e não tive. Depois, baixinho, em leve sussurro colectivo, deitem o meu nome no mar e sigam o vosso caminho. Que me encontrarão sempre que uma onda rebentar na praia.

22 de agosto de 2008

v0lTaRiAaSeRp0eTa


Rompi o meu sargaço na onda que deixaste cair junto aos pés descalços. Sabia que nesta praia toda a teia se iria desfazer para sempre e que de tantas lágrimas correntes a tempestade voltaria a encher as memórias dos amantes. Podia ter ficado simplesmente. No encalço de uma frescura que viesse de tamanho grito. Quis mergulhar sem medo que a maré me levasse ou me perdesse de vez na rocha junto à praia. Sabia que se o destino me quisesse voltaria a ser poeta...

20 de agosto de 2008

dEsGaRrAdA

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O tempo passa no encalço da montanhaMinha voz é a dor tamanhaCom que me canto a toda a horaO tempo é um grande penedoNão é tarde nem é cedoNem fica nem vai emboraÉ simplesmente tempo. E sim, passaEntre o sonho e a desgraçaA palavra de ordem e a mordaçaEntre tudo o que somos e queremos ser.O tempo carrega-nos ao entardecerE devolve-nos o amanhecerSem nos roubar o anoitecer...O tempo é a crueldade da vidaA minúscula porta de saídaCom que enfrentamos a sorte...O tempo também é a morteNestes versos à toa.O tempo é a voz que ecoaE que nos abre os olhos ao horizonte.O tempo é essa ponteQue passa sobre o rio corrente;Esse que se chama genteE onde nos banhamos todos os dias.O tempo sabe das suas ventaniasMarés e tempestadesMentiras e verdadesAmores e vaidadesAldeias e cidadesDe poetas ou mendigos.O tempo sabe dos seus perigosE perde-se. Em cada lágrima que deixamos cair.Porque o tempo é assim: ir e vir.
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18 de agosto de 2008

eStAçÕeS

Perdi-te de vez no embalo do meu cantar
Rasguei-te tudo o que tinhas
O peito e as andorinhas
Que na Primavera se faziam alegres ao mar
Sei que os caminhos são diferentes agora
Que o meu coração inquieto está vazio
Não sinto nada, nem mesmo aquele rio
Que no Outono corria sem nunca se ir embora
Queria o tempo todo novamente
Um sorriso, um olhar apenas
Talvez um jardim de açucenas
Que no Verão me fazia saltar desejoso e quente
Morrerei um dia sozinho
Perto demais de todas as lembranças
Entre versos de veludo, lágrimas e danças
Que este Inverno sou eu, em solidão de mansinho

15 de agosto de 2008

rEbEnTaÇã0


Tenho um grito no peito pronto a rebentar. Uma espécie de saudade. De memória.

Trago doce de sonhos, mistérios e labirintos por onde me perco sempre. Porque de mim só posso esperar isso. Gritos e horizonte. Esse que o meu olhar alcança quando se abre nos reflexos que o mar nos oferece. Sim. Os meu olhos são as rebentações do sangue que me corre no corpo. Neste corpo quente e ardente. Cheio de mim...

12 de agosto de 2008

z0oM

Pode ser que a viagem se faça... Quem sabe por entre as ondas. Essas do ir -e-vir entre o que somos e o que queremos. Ou então na voz das gaivotas que sabem sempre o caminho... Sinto-me assim pousado. Simplesmente. Na ondulação da vida. Criador de mim. Fortemente sereno à espera de mais uma lágrima...

9 de agosto de 2008

oMeUsIlÊnCi0


O meu silêncio pousou no céu
Carregou toda a ternura e a raiva
Pintou-se de vermelhos
Sussurrou-me ao ouvido uma morna
e depois fez-se ao mar...
O meu silêncio existe nos meus olhos
Nos reflexos do Sol
No segredo das ondas...
O meu silêncio tempesta-me
e
inqieta-me
e
é cruel
e
sobe-me à cabeça
e
perturba-me
em feridas constantes...
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O meu silêncio sou eu.

8 de agosto de 2008

iNeRtE

O ----- meu -
----- lugar é único ------- de cada vez que me confronto com a ----- História. ---------- De que serve o ------------- Presente?
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6 de agosto de 2008

c0mUnHã0

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Saberei de mim novamente no deslumbramento do horizonte. Em momentos que simplesmente param sem pedir licença ou perdão. Que importa. Vagueio à toa na paz que me impele contra mim próprio. Onde todas as palavras são poucas. Onde todos os pensamentos são efémeros. Saudade apenas e já. Os silêncios dos olhos perderão mais um encontro. De entre o que fica e o que partirá. Assim, feito uma migalha, continarei a respirar...
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5 de agosto de 2008

n0mArAlTo


Vento de mim, rente a mim

Sopro de história. Sempre memória

Ronco de cada respiração, momentos minúsculos

Por onde me perco, sem veto nem glória


Sabe bem este silêncio natura

Fome embriagada de cansaços e correntes

Solto-me perdido entre o tudo e o nada de sempre

Por onde me deixo ir, entre a solidão e as gentes

2 de agosto de 2008

mUlHeR,mInHaHomEnAgEm


Os meus dedos percorrem-te suave
Dançam no teu corpo por entre mares e areais
Planam, em doce voo de doce ave
Que se perde nos caminhos por onde vais
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Estes dedos assim traçados
Do carinho mel da ternura
Nunca serão fonte de rios amargos
Porque da pele, só o amor perdura
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Mulher, gravidez do mundo inteiro
Que morre e nasce em tudo o que tem sido
De mão dada, companheira e companheiro
Se sustenta sempre de punho erguido
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oTeMp0

O tempo que passa Leva uma flor ao vento Que se faz poesia e raça Fonte, porta e lamento Curva-se o peregrino Sem ter medo da desgra...