29 de novembro de 2017

aLuCiNaÇã0

Prometo-te um poema de amor, meu amor.
Sim, hei-de chamar-te "meu amor"...
Posso, meu amor?
Gosto da palavra "amor"
(mesmo que não seja meu)
Prometo-te, então, esse poema um dia
Quando o tempo se fizer em nosso peito
Quando a pele se deitar no nosso leito
Ou quando os sonhos se refizerem do acaso que nos juntou
E perdoar toda a vida que já passou
E onde andámos fora
Por isso...
Não te vás embora, não?
Eu conheço o meu coração
E sei que ele estará mais ou menos em flor
Para te fazer um poema de amor
E te chamar "meu amor"...

19 de novembro de 2017

m0rAsEmMiM

Moras na solidão mas os teus olhos são de mar
Moras na solidão mas o teu bairro é a tua voz
Moras na solidão mas o teu corpo é de bailarina e dança
Moras na solidão mas os teus versos são flores
Moras na solidão mas as tuas mãos conhecem o sabor dos beijos
Moras na solidão mas tens sonhos de caminhos e saltos
Moras na solidão mas o teu nome abraça-me os dias
Moras na solidão mas os teus passos são leves e carregam viagens
Moras na solidão mas cantas as histórias do mundo


Moras na solidão mas não estás aqui...

9 de novembro de 2017

UmDiA

Um dia fujo do mundo
Solto o corpo na maré ou no vento
E choro.
Um dia, talvez amanhã,
Acorde de novo sem saber
Se o tempo está feito ou é para fazer...

Um dia grito toda a poesia
Vomito sorrisos e lágrimas
Por entre a rouquidão do Tom Waits.

Um dia, talvez amanhã,
Aconchegue os cansaços de cada olhar
Só para me sentir adormecer e ao mesmo tempo acordar...

Um dia, juro, serei feliz!
E que ninguém me incomode
Ou abrace.
Um dia, talvez amanhã,
Consiga entender esta saudade menina
Que me consome aos poucos como a dança de uma bailarina...

8 de novembro de 2017

rEp0uSo

Nas madrugadas o corpo nu
Talvez um pequeno arrepio na pele
Ou um calor da noite
Porque é que o tempo corre assim
Se tudo parece tarde em mim?

Nas madrugadas os silêncios
Talvez o grito ou um sussurro em chaga
Ou a saudade
Porque não para esta dor sem fim
Se tudo parece demasiadamente tarde em mim?

Repousar?
Quem sabe um dia os rios corram dos meus olhos até ti
Para acordar devagarinho e correr livre
Entre as flores do teu jardim
Porque este tarde, que tarda, é eternidade em mim

7 de novembro de 2017

BaTeR


Saberei esperar pelo respirar das ondas? E a dança, será um canto de andorinha ou uma gruta que protege? Saberei do tempo novo por entre o doce olhar? E o abraço, será uma paz feita vento na paisagem? Saberei ficar perto, por entre beijos e silêncios fortes? E o futuro, um amanhecer em sorrisos onde o desejo é apenas sol? Saberei? Saberemos?

2 de novembro de 2017

bAiLaRiNa

Gostava hoje de ser onda e adormecer no colo de uma bailarina...
Perder-me por entre os seus passos e não ter medo de chorar
Quando vejo a sua dança, em sorriso largo e de menina
O meu corpo desaparece, cansado e sem conseguir parar
Perco o tempo e grito dor e saudade
Canto um sussurro de solidão
E depois em frente ao mar, sem perder a cidade
Parece que sinto a sua mão
Que me leva ao encontro do seu abrigo:
E me diz: Vem, dança comigo!

31 de outubro de 2017

oTeUoLhAr

O teu olhar é um passarinho que me mostra uma ruína
Histórias de rios e passagens, menina pequenina
O teu olhar também sorri e encanta
Num corpo feito onda e feito manta
O teu olhar, hoje e talvez amanhã
Virá ao meu encontro como o sol pela manhã

24 de setembro de 2017

aTuAaUsÊnCiA

A tua ausência morde-me o tempo e já não sei muito bem contar. Contar os dias que faltam ou contar os passos obrigatórios. Sabes que o meu caminho é feito de embriagados gritos e de ti. Mas a tua ausência morde-me...
A tua ausência consome-me o ar e já não consigo muito bem respirar. Respirar as flores que pinto ou os beijos das mãos. Sabes que o meu caminho é feito de pele e de ti. Mas a tua ausência consome-me...
A tua ausência rouba-me os sonhos e já não sei muito bem das histórias. Histórias de mentiras e de verdades, de pequenas viagens ou eternas falésias. Sabes que o meu caminho é feito de versos e de ti. Mas a tua ausência rouba-me os sonhos...
.
.
.
.
A tua ausência é um lago parado na planície. E as suas águas não se renovam. Não existem algas nem marés nem pés descalços nem pedrinhas a saltitar nem reflexos nem o chilrear de um filho ou o suor dos amantes...
A tua ausência, por ser tua, também me afasta de mim.

12 maio 2011

23 de setembro de 2017

AsSiM

Partir na saudade vagabunda e solitária
Encontrar as marés todas
Arrancar do coração as ervas secas
Escorrer sangue na ponta dos dedos
Caminhar turvo
Ter os olhos abertos
Cantar
Escrever também
Porque nada se foi nem nada morreu:
Assim estou eu.

21 de setembro de 2017

hIsTóRiAbAnAl

Existe no campo de batalha, bem no meio do campo de batalha, uma pequena raiz, marcada pelo tempo. É rija e experiente, a pequena raiz. O campo de batalha é, como todos os campos de batalha: um local de mortes e moribundos, mentiras e gritos, raivas e sonhos, lama e vazios. Aquela pequena raiz bem no meio do campo de batalha vai resistindo às inúmeras guerras que por ali passam. Guerras sem sentido e guerras de amor. Guerras de cegos e de loucos. Guerras. A pequena raiz dará flor, como sempre deu. Não se sabe por quanto tempo haverá cor e cheiro no campo de batalha, mas esses momentos serão únicos e mágicos. É sempre uma bênção o nascimento de uma flor. Quando ela sorri ao sol ou dança ao vento, a flor do campo de batalha parece ainda maior e mais única e mais mágica. Mas de novo regressará à pequena raiz, enterrada bem no meio do campo de batalha. Ficará à espera. E de novo será flor. E é sempre assim. Não acabarão os campos de batalha nem as raízes. Por isso esta é uma história banal.

11 de setembro de 2017

rEgReSs0a2012...

As palavras que perdem o sentido no vento são como pequenas pétalas de fino papel: tremendamente belas, parecem eternas, mas acabam por morrer como uma borboleta.

17 setembro 2012

7 de agosto de 2017

AqUeDaQuEmEeStÁaMaTaR

Eis a grande questão: o tempo e a dedicação.
Eis o grande mal: o amor e o coração.
E neste rame-rame de tremenda inquietação
Surge, de novo, o vagabundo, dono da sua solidão.

Adiante, outra vez diante do espelho
Atrás de tudo que já se fez demasiadamente velho
O tempo volta-se para dentro, jardim sem flor
Cantando a eterna oração: o amor.

Por isso a morte surge em salvamento
E talvez se faça dor e lamento
Sem nunca efetivamente acontecer:
Só se morre quando se morrer!

Dono de mim, do meu destino
Entre o vagabundo, o amante e o menino
Fico-me pelo suor das noites e dos dias
Às voltas nas minhas melodias
E nada acontece, e nada faço.
Só pele enrugada, seca e cansaço
Para nada, para nada, para mesmo nada.
Afogo-me mais um pouco em cada madrugada
E não vejo. Não quero. Não ando. Não me dou ao mar
E muito menos me deixo na queda que me está a matar...

6 de agosto de 2017

c0iSaS, c0iSaS e MaIs CoIsAs

Coisas, coisas e mais coisas. O mundo está cheio de coisas e o Homem carregado delas. E do mundo também. Ficamos neste peso das coisas, coisas e mais coisas e andamos iludidos da nossa emoção. Pelas coisas? Claro! Tantas coisas, coisas e mais coisas são o melhor que há! Nada é não ter nada. Uma coisa é sempre necessária para nos podermos debruçar sobre alguma coisa, coisa e mais coisa e estarmos ocupados e nos sentirmos úteis. Uma porra, essas coisas! Então e as pessoas? Não são coisas. São pessoas. Que sofrem e sentem. Que precisam de cuidado - como as coisas, coisas e mais coisas - e que até são capazes de reclamar. Sim, porque as coisas, coisas e mais coisas não reclamam... Quer dizer, até reclamam. Precisam de se manter senão estragam-se. Então e as pessoas e os sentimentos? Não precisam também de se manter senão estragam-se? Claro que sim. A diferença é que tratar das coisas é algo que nos distrai e nos mantém ocupados. Com as coisas, coisas e mais coisas. E assim o tempo vai passando. E as pessoas? As pessoas falam, pedem, exigem, querem, protestam... Gostava de ser uma coisa.

28 de julho de 2017

Há uma fonte de água em cada sonho. Há correntes e montes e vales e tudo o resto. Há a luz e a noite também. Histórias por mais que evidentes. Há um silêncio que ainda não morreu. Há tudo isso e eu... Há pesadelos que teimam ao redor das estátuas. Há as lamas do caminho. Há igualmente o amor e a fome. Peregrinos de solidões às voltas. Há um campo onde nada se colheu. Já tudo isso e eu... Há a saudade presa ao esquecimento. Há o toque da viola solto nos sorrisos livres. Copos de tinto e queijo forte. Há a cama que já arrefeceu. Há tudo isso e eu... Há o boneco e o menino, prontos e presentes. Há o cansaço e a dor e os tropeções. Há o caos da casa. Ventos de outrora, fumos de hoje. Há as nuvens e mais o que se perdeu. Há tudo isso e eu... Há a poesia entalada da garganta muda. Há o grito em chaga em cada dedo. Vómitos e carrascos. Há a alegria do tanto que se viveu. Há tudo isso e eu... E eu? Sim, eu! Onde estou?

5 de julho de 2017

ChEgAdA

Falas-me das certezas do voo
Do seguro porto da viagem
Dos sorrisos e das lágrimas à passagem
E de todas as pedras da caminhada.
Mas não me falas da chegada...

Falas-me do infinito destino nosso
Do amor e da romaria
Da noite que anuncia o dia
Mesmo quando não há madrugada.
Mas não me falas da chegada...

Falas-me de sonhos talvez sinceros
Do muito que os passos dão
Na ternura das marés do coração
Onde se aconchegam por tudo e por nada.
Mas não me falas da chegada...

Falas-me de poemas e palavras a granel
Ou quem sabe o mais puro abraço
Do tanto que nos temos, pedaço a pedaço
Entre o rio, o mar, a saída e a entrada.
Mas não me falas da chegada...

Falas-me e eu estou aqui
Como quem se inquieta num beijo mais
Como quem procura o seu porto e o seu cais
De cada vez que regressas calada.
Mesmo quando não me falas da chegada...

2 de julho de 2017

PeReGrIn0

Abre-se o caminho ao peregrino
Cumpre-se a inquietante viagem
Sonho de homem feito velho e menino
Na saudade crua da sua passagem

Rompe-se o desejo à infinita trovoada
Esconde-se a lágrima forte, talvez
Sonho de homem, cantado em mais uma madrugada
Na memória de tudo que ainda não fez

Volta-se aqui, ao eterno lugar
Fica-se na marca do passo certo
Sonho de homem, entre o ir e o ficar
Que se deixa embriagamente longe e perto

Abre, rompe e volta, VIDA!
Saberás do sopro da tua respiração
Não existe fome mais perdida
Do que aquela que chora em comunhão
Os pedaços dos teus versos largados ao vento.
Como um simples e doce pensamento...

20 de junho de 2017

PoDeSeR

Pode ser que os dias sejam apenas ilusões
Pode ser que cada sonho se limite ao sumo das canções
Pode ser que um poema consiga abrir o mar
Pode ser que cada segundo seja magia no amar...


Pode ser que a vida tenha paz
Em tudo o que faço e sou capaz
Pode ser que grite um sussurro em ti
Só para te dizer que estou aqui...


Pode ser que a alma se distraia demais
Pode ser que a partida se faça ao sabor do cais
Pode ser que o meu corpo não aguente
Pode ser que o passado ainda se veja lá à frente...


Pode ser tudo, pode ser nada
Cada mistério, uma nova estrada
O suor da ternura abençoada
Que se faz ao mundo, que se faz à estrada...
Pode ser..

13 de junho de 2017

qUe

Que o tempo me devolva a mim. Poeta do amor e sorriso aberto. Que os dias me procurem assim, para não me perder, em abismo certo. Que o sangue me corra outra vez. No abraço da madrugada. Que os dias me cantem, talvez, no fugitivo correr da morte anunciada. Que o meu corpo grite, alcance a loucura sã! De te querer na pele, ao leme desta viagem. Que os dias se inventem em cada manhã, para se nascerem à noite, sempre em rio e margem. Que cada palavra seja um beijo mais. Dos que são cheiros, em jardim e flor. Que os dias deixem de ser tão iguais, só porque somos nós, unidos em ternura e amor!

8 de junho de 2017

ArTuRsAnToS

Eu tenho um amigo que é poeta.
Os seus versos como respiração
Saem-lhe como beijos
Entrelaçados nos ritmos do seu grande coração.

Eu tenho um amigo que é poeta.
Seus abraços são dádivas a sorrir
Entre os sonhos e as loucuras
Com que me emociona sem pedir.

Eu tenho um amigo que é poeta.
O seu nome, furacão de afeto e estar
Artur entre nós sempre em nós
Artur entre nós sempre a dar.

O meu amigo poeta faz hoje anos.
Mais um dia de feliz querer
Por isso o meu peito canta!
Toda a ternura do seu ser.

Parabéns, meu amigo poeta que diz!



25 de maio

5 de junho de 2017

qUe

Que desta viagem de sonhar
Restará um calo, ainda dorido
Uma revolta, um amor ferido
Uma onda à deriva longe do mar...

Que desta viagem de querer
O meu peito ainda te chama
É o fogo que diz o quanto te ama
É a lágrima que te chora em te perder...

Que desta viagem de palavras e vontades
Trago pesado o fardo do engano
Cubro cada vertigem deste dano
Com que o tempo pintou as verdades...

Que desta viagem do nada
Fica-me o vazio de tanta história atrás
Quem sabe um dia, semeadura de paz
Quem sabe outrora, uma nuvem enclausurada...

Que desta viagem agora
Neste preciso momento de grito alerta
Nesta curva e raiva da minha pele aberta
Me deixo ficar. Para me ir embora...

1 de junho de 2017

sEmTíTuLoCoMd0r

Hoje ele disse-lhe mais uma vez: "Meu, amor, eu não ando bem." E ela disse: "Não te preocupes, eu estou aqui. Sou a tua companheira." Nessa mesma noite ele ficou novamente a olhar as paredes da sala e ela no computador, com certeza a cuidar de uma casa qualquer comum.

PaLaVrAsEpAlAvRaSePaLaVrAs...

Do amor ou da solidão
Da ternura,
Da saudade,
Em correntes de dor e emoção,
Entre o sangue que teima e perdura,
Às voltas no peito que já se perde na idade,
Existem as silenciosas fontes castas.

As castas águas de um rio que corre,
As castas tempestades de uma paixão que não morre,
As castas lágrimas de quem não sacia,
As castas noites que se anunciam ao dia...

As palavras, gastas ou não,
Vertem sempre do coração
Quando ditas assim:
Num poema gritado
Num gesto lembrado
Numa solta amarra sem fim.

Dá-me essas palavras loucas e sãs
Esses rugidos em tremuras nas manhãs
O teu abraço presente e forte.
Dá-me esses sonhos todos teus
Essas vontades que nos insossegos meus
Me deixam sorrisos, vida e morte.

23 de maio de 2017

DeHoJeDeSeMpRe

Esta flor que nasce no vento
Este sorriso que trago em mim
Sabe-me melhor no momento
Em que me acordas assim
Este mar que se abre (às vezes com medo)
Este sopro de grande saudade
Sabe-me ao ínfimo e sentido segredo
Em que devolves a verdade

A verdade de ser cheiro
A verdade de ser rio
De ser eu em corpo inteiro
De ser corpo, calor e frio

A verdade de te querer
A verdade entre nós e na mão
De inventar o tempo só para te saber
De te saber entre o choro e o coração
Amo-te muito e sou desta maneira eu
Entre o que escrevo e a magia do leito
Entre o que sonho e ainda não aconteceu
Entre o que pergunto a cada passo refeito

19 de maio de 2017

ViDa

Devolve-me a pequena migalha, o pardal.
Deseja o caminho em passo sereno...
Tanto saber naquele grande animal
Que apesar de tudo, é demasiado pequeno.

Arranha-me os sonhos, a serpente.
Aquece cada pedaço de mim...
Tanta ousadia em tão profundo vaguear presente
Que se dá ao futuro como um lençol sem fim.

Floresce apenas, a flor na mariposa.
Concebe o ventre materno e parte...
Tanta vida tão longa em verso, canção e prosa!
Tanto amor e dor, em arriscada ânsia de arte!

16 de maio de 2017

nArRaÇõEsImEnSaS

A vida perde-se em narrações imensas
O rumo de cada passo às vezes é incerto
O meu lugar estende-se nas praias das noites tensas
Onde cada fuga me devolve a mim, demasiadamente perto

O suor dos tropeções
As memórias e mentiras
As vozes 
As iras
Os fogosos corações
As pontes e os desejos
Os silêncios entre beijos
Os poemas arredondados
Os sonhos tão pesados
Já em mim entre crenças...

De vida perdida em narrações imensas.

13 de maio de 2017

vEnToSdEgUeRrA

Aqui, no sabor deste andar vazio
Encontro um nada que me segreda sonhos
Inquietante e cruel
Arrepiante e sagaz
Este nada não me dá paz...

Assim, nos silêncios do tempo longo
No meio das cores e magias de sempre
Ousado e penetrante
Calado em gritos loucos
Tudo em mim se encerra:
Esta paz em ventos de guerra!

11 de maio de 2017

rEtNçÃo

O vagabundo sabia que um dia haveria de voltar e que o regresso seria penoso. E feliz. Abriu a porta da casa e reteve os cheiros de sempre. Encontrou as janelas abertas e as camas por fazer. Estavam todos lá. Procurou que os silêncios lhe devolvessem as canções de amor. Quis que o tempo dançasse de novo pelos sonhos muitos. Eternamente, chorou. E regressou à solidão.

10 de maio de 2017

0nDaEmMaRéSdEiReViR

"Tu partes, mas voltas sempre..."

Ser onda, em marés de ir e vir!
Ser pedaço de uma inquietação funda!
Arrancar a dor mais pesada, mais fecunda
Acordando a ternura de te desejar e sentir.

Ser este desejo em macios fogos de alto mar!
Ser a raiz dos calos que me pisam a estrada!
Abraçar a noite em perfume de eterna madrugada,
Vagabundo que se entrega em solidões de nunca estar.

Ser a palavra, o verso, o arrepio tremendo da flor!
Ser terra, cheiro rústico em pele que chora por mais!
Acreditar que sou nuvem no céu por onde te vais
Quando me cantas o perfume a que chamas amor.

Ser nada. Ser nada. Ser mesmo nada e disto me servir!
Tudo é vã memória e simplesmente assim!
Mesmo quando eu chegar ao fim...
Só porque sou onda, em marés de ir e vir.

c0nTiGo,0c0nCeRt0

É contigo que agora estou
É contigo que quero estar
A minha história passa aqui
No perfume deste cantar

É contigo todo o sentido
De ser gente e poesia
A minha vida corre assim
E contigo se anuncia

É contigo de tão dentro
É contigo em doce manto
Que o meu tempo é um rio
Que desagua neste canto

Contigo, sim, contigo sempre
Roda viva, inquietação
Obrigado por estarem cá
Sou do vosso coração!


Foi uma noite memorável, onde todos contribuíram para levarem estas cantigas, estas palavras, esta arte... para uma dimensão outra. Só me posso sentir cheio!

13 de abril de 2017

UmDiA

Um dia...

Ao abrires a cama sentirás um frio estranho.
Um vazio muito maior que o meu tamanho
E nada sobrará a não ser passado...
Um dia...
Talvez o computador te diga o quanto perdeste
Só porque no tempo de correr te vendeste
E nada sobrará na plenitude da tua memória...
Um dia...
Ficaremos calados com tanto para contar do que nos aconteceu.
Quem sabe reconheças esta morte que ainda não morreu
E no que sobrar, mesmo pouco, me perguntes porque não estou aqui.
Dir-te-ei, pela milésima vez, de novo,
Parti.


10 de abril de 2017

MoMeNt0sQuEoTeMp0tEcE

Dos momentos que o tempo tece,
Em labirintos dentro do nosso peito,
Há sempre um sol que nos aquece
Queimando o sangue já desfeito...

Há o passado, o futuro e o vento.
As tempestades de sentir e estar.
Há a inquietação no nosso pensamento
E loucuras que se fazem ao mar.

Há leitos e histórias de tanto haver.
Fontes e rios que correm sem cessar.
Há a revolução que teima em nascer
E loucuras que se fazem ao mar.

Há os perigos que o amor engrandece.
Escritos em cada tela do teu pintar.
São assim os momentos que o tempo tece
Nas loucuras que se fazem ao mar...

7 de abril de 2017

cHÃo

O chão é um retalho medonho que os meus passos carregam em si.
É uma alma seca e longínqua que uma noite me perdeu aqui.
É uma torre de um castelo pousado nos sonhos que nunca são.
É, talvez, unicamente, o pedaço visível dos suores do meu coração.

As pedras ao acaso,
O tempo sem perdoar,
Eis o que voo louco e raso
Da andorinha que se abate sem cessar...

As raízes escondidas,
O solto sopro de cada chorar,
Eis as canseiras longas e perdidas
Da andorinha que se abate sem cessar...

O chão é um poema tremendo que nos queima em cinzas vivas, encarnadas.
É um bater que não se esconde, viagens penetrantes e cansadas.
É um dedo apontado que chama na ternura de um perdão.
É, assim, as inquietudes disto, a que teimosamente, chamo chão.

30 de março de 2017

Am0rCoNf0rMaDo

vamos tendo a vida que temos
entre o trabalho e o sofá
e sem darmos conta esquecemos
o que houve e o que há

as panelas ao lume estão
entre máquinas por fazer
assim bate o coração
já prontinho p'ra esquecer

nem o chão está por lavar
nem a roupa por passar
anda tudo controlado
Até o amor está conformado

vamos indo sem saber onde
na euforia das solidões
como um vagabundo que se esconde
entre teatros e canções

os tapetes bem passadinhos
a fruta pronta a servir
andam todos entretidinhos
Sem saber o que está para vir

nem o chão está por lavar
nem a roupa por passar
anda tudo controlado
Até o amor está conformado

15 de março de 2017

oCoLiBrI

Rasante como um sonho
Dança o colibri dentro do ninho
Passa pelos sorrisos como quem se distrai
Nem percebe que o chamam de mansinho.
É o leão, poderoso, na manha habitual
No voraz desejo de superioridade
Nada inocente. Um leão 
Sabe sempre o sabor da sua idade!
Então o bicharoco passa voando
Entra na selva sonhando
Fica-se pela vontade de brincar.
Já se queixa, claro, hoje em dia
De tamanha teimosia
Que o fez morrer sem se matar.

Somos nós, os amantes?
Na peugada feroz dos tempos quem passam
A querer estar sempre presentes
Em todos os tempos que se adiantam?

14 de março de 2017

TaLvEz

Há uma estrada perto de mim
Que me leva para o infinito.
Não saio do lugar,
Não me mexo.
Talvez chore.
Há um grito.

Há uma paisagem por descobrir
Nos corações amigos.
Nem sempre estou cá,
Ou estou.
Talvez fique.
No meu passo de fugir.

Há um verso nos silêncios teus
Nas vontades todas
Os montes sussurram demais,
Os ventos existem.
Talvez o mundo
Nos braços meus.

oTeMp0

O tempo que passa Leva uma flor ao vento Que se faz poesia e raça Fonte, porta e lamento Curva-se o peregrino Sem ter medo da desgra...