30 de outubro de 2009

dEnTr0dEmIm


Os meus olhos perdem-se na escuridão. Dentro de mim.
Nada acontece. Dentro de mim.
Conto as horas e o tempo eterniza-se. Dentro de mim.
Corro atrás de não sei o quê. Dentro de mim.
O silêncio é um grito que ecoa. Dentro de mim.
O mapa da história e sangue da memória. Dentro de mim.
Cada verso repete-se e sufoca-se. Dentro de mim.
Multidões e vazios dançam. Dentro de mim.
A morte. Sempre a morte. Dentro de mim.
Que o desejo é pele. Dentro de mim.
O abraço mais que tudo. Dentro de mim.
Nada acontece. Dentro de mim.
Como se tudo parasse demasiado. Dentro de mim.
Ou o ritmo dos bombos um coração aflito. Dentro de mim.
Um cheiro. Um toque. Um olhar perdido. Dentro de mim.
Olhas-me sempre assim? Dentro de mim.
Na exactidão mais exacta de mim. Dentro de mim...

27 de outubro de 2009

eStAmInHaSeDe


A minha sede soltou-se em grito
Um rasgão no peito,
Um infinito...
Doce abraço mais-que-perfeito
Quem sabe um meteorito
Que se lança assim à terra
Só para temperar esta guerra
De desejo aflito
E que depois adormece
Como uma onda que em nós se tece...
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Esta minha sede é um trovão
Cravado na saudade.
Um vento forte, um arpão
Que nos une em tempestade.
Um raio de sol, um trovão
No feitiço da imensidade.
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Esta minha sede...

25 de outubro de 2009

LeNgAlEnGa


Conta que conta no tempo que passa,
Cada silêncio é um tempo que passa,
Conta que conta ao tempo presente,
Cada saudade é um tempo presente.
Canta que canta o verso que faça,
Outra viagem, então, que se faça!
Canta que canta ao toque do beijo,
Outro minuto em forma de beijo.
Conta que conta não temas contar,
Um rasgo de ti que sabe contar,
Conta que conta este nó, esta fome,
Um rasgo de mim que sabe ter fome.
Canta que canta uma mão, duas mãos,
Voltadas em nós, serão duas mãos,
Canta que canta as perdizes que voam,
Voltadas em nós, eu sei que elas voam,
Cantadas, contadas, encantadas p'ra ter
Só canta e conta quem assim te quer ter!

22 de outubro de 2009

eUeTu


Fala-me dessa passagem forte
Desse caminho rasgado no peito
Cantado a direito
Quente e desfeito
A que alguns chamam morte...
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Digo-te que o meu é abraço
Um carinhoso amor eterno
Uma espécie de onda ou inferno
Qualquer coisa de Inverno
Como um frio que regressa ao cansaço...
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Diz-me da infância e da memória
Da passagem doce do embalo
Desta dor que não calo
Do segredo sem intervalo
Com que se pinta a tua história...
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Falo-te de cada canto de mim
Poema feito maré em tempestade
Pequeno sabor a eternidade
Fogo que deixo arder à vontade
Porque a morte pode não ser um fim!

20 de outubro de 2009

SoLiTáRiAmEnTeEmTi


Volte-face em mim esta estação. Nas cores do abandono que nasce num outro sangue. Perco-me no desejo de mantos e abraços soltos na noite, reflexos de um brilho qualquer que dos nossos olhos fogem em direcção ao infinito. Porque do tempo somos feitos. Porque do espaço somos pintados. Assim. Em volte-faces eternos de paixão.
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Sabe-me bem este sempre...

19 de outubro de 2009

sAuDaDeNoPeIt0


Volta-me o sopro da saudade no peito

Neste silêncio que da solidão me atormenta

Canto-me o tempo forte e desfeito

Que hoje me inquieta e assim me acorrenta

Sei dos dias contados em lágrimas ou canções

Das curvas que desfazem os caminhos

Sei que os mantos nem sempre aquecem os corações

E que por vezes das saudades somos simplesmente sozinhos

Volta-me o verso, a tempestade, o abraço

De apenas um sopro, brisa pura de sentir

Por isso te beijo assim, entre os aromas do sargaço

Que em nossas ondas são sempre de ir e vir!

18 de outubro de 2009

qUeMqUeRsEr0dEsTiNaTáRi0?

Levanta os olhos. Morde o lábio quente. Existe um abraço em cada flor. Dos milhares que o nosso corpo pede. Dá. Por isso sabe bem o amanhecer. O Sol. A luz. A onda que nos seduz a cada novo acordar... A praia que nos invade como se fossemos manto e mar. Levanta os olhos. Morde o lábio quente. Encolhe o teu sorriso e aconchega a timidez... Dá mais um passo ao redor do canteiro dos nossos sonhos. E sente a música. Sentes? BOM DIA!

16 de outubro de 2009

dJaVaN

Pode ser a tua voz feita sonho nos silêncios.
Pode ser mais uma palavra cantada, que se fixa na pele. E arrepia.
Pode ser o peregrino, o saltimbanco, o vagabundo, o poeta...
Todas as memórias cabem em mim ao ouvir-te.
Pode ser a fuga na corrente de mais uma trova. Tua.
Pode ser uma história, uma janela, um sabonete até.
Podes ser tudo assim, porque te quero também.
Todas as memórias cabem em mim ao ouvir-te.
Te devoro neste oceano azul lilás com que me assalto todos os dias.
Para me caber de ti!

15 de outubro de 2009

cArTaAbErTa

Mãe... minha mãe. Escrevo-te daqui. Esta carta aberta. Porque a liberdade do nosso amor é algo que não se deve esconder. Tem sido difícil saber que já não consigo ouvir a tua voz no telemóvel, como fazia todos os dias. Embora passe na minha agenda e veja lá o teu número, ainda não tive coragem de ligar... Sei que não irás atender. Agora falamos de outra forma, não é mãe? Falamos com o olhar quando este se perde no horizonte, no infinito, nas memórias... Falamos com as lágrimas que correm no meu peito tantas vezes! Estes foram os dois meses mais longos da minha vida. (Quando será que o tempo retomará a sua velocidade normal?) Falamos quando eu canto; nos silêncios que se entoam no intervalo da respiração. Sim, que os silêncios são muito mais tanto que qualquer verso que teima em sair quase carbonizado dos meus dedos. Preciso de cantar, mãe. Fechar-me na minha voz e sentir que sou cada vez mais teu e que és cada vez mais minha. Morrer também é isso: passar a uma nova pertença; muito mais genuína... Sei que não voltarei a ir-te buscar à estação para aquelas visitas de médico, que me enchiam a vida de tudo. Como se fosse um novo aleitamento. Pois é, mãe... Tenho dito que é complicado viver sem ti. E é verdade. Mas se virmos bem as coisas... mãe existe sempre. Sabes que continuo o mesmo? Sim... o mesmo. O poeta de sempre. Vais ver, mãe. Os meus planos passam por isso, talvez pela primeira vez na minha vida: POR MIM! Lembro-me das vezes que pensei, como muitos, o quanto seria bom voltarmos à barriga da mãe ou ao berço ou a gatinhar garatujar espalhafatar a comida atirar os brinquedos para a rua aprender a escrever... Gostava de me sentir de novo a aprender a escrever... pena que quando finalmente aprendemos a escrita se revolta contra nós e perde o seu sangue mais puro. Ou aprender a andar... Não. Aprender a andar, não. Acho que é demasiadamente doloroso para se querer voltar... Aprender a escrever, sim. Vasculho os meus papéis e encontro algumas primeiras tentativas de escrita e sinto aquele cheiro a bebé que agarra a vida! Que bom, mãe... Sei que me ajudaste nisso. Não me lembro, mas sei que sim. Só pode. Por isso é que cada palavra que escrevo hoje te traz de novo de encontro a mim. Como aquele gesto de pegar na minha mão e dizer "É assim..." Mãe... não me sinto triste, se queres mesmo saber. Tudo o que choro e é bastante; tudo o que sofro e é bastante; tudo o que sinto falta e é bastante... vem ao encontro de um orgulho enorme por este sentir-te tanto! Fomos felizes, não foi, mãe? A vida é mesmo bela quando podemos passar juntos por ela! Mesmo com o pó da estrada que nos foi acariciando as alergias, sabemos que o que caminhámos, juntos, separados, é algo que nos moldou os pés e os passos nunca mais foram os mesmos. Porque a vida foi feita de nós. E porque a morte também o é, minha amada mãe, trago-te dentro de mim como pele.

14 de outubro de 2009

oMeUpRaNt0


Podes deixar-me o teu cheiro
Carregar-me os sonhos de tanto.
Podes amar-me no horizonte derradeiro
Mas não me matarás este pranto...
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Podes dar-me o abraço mais amigo
Banhar-me de beijos e manto.
Podes oferecer-me o mar ou um abrigo
Mas não me matarás este pranto...
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Podes ser tu em mim todos os dias
Respiração de mim, verso e canto.
Podes encher-me de luz e ventanias
Mas não me matarás este pranto...
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Podes pintar-me as memórias e o futuro
Sabes bem como, sabes bem quanto!
Podes ser rio, foz ou sangue puro
Mas não me matarás este pranto...
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Porque este pranto é a minha inquietação
Que se refaz e desnorteia a cada hora...
Sempre que a morte ressuscite no meu coração
E teime em não se ir embora...

11 de outubro de 2009

nAdAsEpErDeCoMoVeNt0

O Outono não existe no meu peito. Cada árvore reinventa-se e o vento é sempre forte. Porque o vento, no meu peito, faz-se dos sopros que de mansinho o meu coração vai soltando...

7 de outubro de 2009

c0nTa

Diz-me do vento que me cobre os dias. Das janelas que se abrem sobre os sonhos. Sei que gasto as mesmas palavras de tanto as sentir. Será mais um retrato em mim? Esta espera treme-me o corpo e em corrente. Como sempre... Só conheço o mar se for abrigo dos rios. E eu sou rio. De margens nossas que temos secretamente guardadas nas memórias e no futuro. Quando escurecer, no silêncio de mais um brilho nos olhos, saberemos da inquietação que por ela move os beijos. Sim? Diz-me do vento regaço manto espuma do desejo. Dos mistérios adormecidos e das ondas. Ai... as ondas! O ir-e-vir desta labuta que é amar...

5 de outubro de 2009

AsFiXiA

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ESTE TEXTO É PARA LER O MAIS RAPIDAMENTE POSSÍVEL. FOI ASSIM QUE O ESCREVI (ainda tive a tentação de mudar algumas coisas... mas recuso-me... e por isso nem o reli). NUMA SÓ RESPIRAÇÃO SERIA O IDEAL. DAS QUE NOS DEIXAM ASFIXIADOS E SEM AR:
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Porque nunca estou satisfeito. Sou afecto e traidor. Porque não me condiciono eu ao que é suposto ser? Ser simplesmente. Esquecer o dentro. Esquecer o sonho. Esquecer o que se sente. Lembrar que um homem não chora. Lembrar que ser pai é ser do Benfica (mas eu DETESTO o Benfica). Lembrar que a vida é isso: gastar as horas dos dias à espera do retorno em dinheiro e depois contá-lo para conseguir gastar as horas do dia seguinte. Lembrar que passamos simplesmente por aqui e que o mundo continua. Que o amor não é uma bênção - é um contrato com regras bem determinadas e escritas para todos. Que o desejo é um pecado (e eu nem sou religioso). Que a morte tem de ser chorada. Que não existem rios nem árvores nem flores nem ar. Que isso são apenas coisas da natureza que temos de cuidar. Que o que somos é ser responsáveis por alguma coisa. Que cada pensamento que temos é uma mentira que se desfaz quando acordamos. E que pensar é, portanto, um crime em nós. Que os abraços afinal, são virtuais. Que a virtualidade das coisas as tornou cada vez mais fortes dentro de cada um e que não sabemos ainda viver com isso. Que a criação é um truque de cada um para chegar onde quer e efectivamente NÃO EXISTE. Que viver é algo que só descobriremos quando confrontados com a morte. Será?

3 de outubro de 2009

iSoLaDo

Não tenho o meu lugar.

Seguiram nesta corrente feita albufeira.

Porque o corpo parou as lágrimas.

Porque o futuro se perde da foz.

Mesmo que na memória o tempo se recuse a morrer.

Mesmo que os olhos teimem em não ver.

Mesmo que lá ao fundo exista um fogo a arder

Porque as canções se esqueceram nos silêncios.

E tudo me consome os lugares e os passos.

E tudo me arrasa com os meus pedaços

E me torna puzzle.

Dos que incompletos não servem para nada!

oTeMp0

O tempo que passa Leva uma flor ao vento Que se faz poesia e raça Fonte, porta e lamento Curva-se o peregrino Sem ter medo da desgra...