31 de agosto de 2018

sEnTiDo

Haverá mais caminhos no meu passar
Labirintos de encontro a mim
Desaguando no mar
Fontes de silêncios sem fim
Encostados ao meu cantar
Rios nos meus olhos de cetim
Quando o sentido é tudo o que se quer procurar

Haverá o teu nome gravado no meu peito
Colibri que voa secreto e atento
Pelas margens fecundas do meu leito
Pelo ventre florido de cada momento
Que se vive na solidão de um sonho perfeito
Rios na minha pele e um novo alento
Quando o sentido é a pele que se tem a seu jeito

Haverá o encontro, a falésia sobre o sonho já quente
Nos céus de espelhos e loucuras
Estradas de gritos e beijos e gente
Pousios de fomes e abraços e ternuras
Como um poema mais que se diz e se sente
Repetidamente por entre as vestes mais puras
Rios de ser de querer de sorver o presente
Quando o sentido se perde nas lembranças tuas

29 de agosto de 2018

eU

Sobre a sombra da tua corrente
No espelhado momento da ausência 
Encontro o âmago da minha essência 
Entre o que se diz e o que se mente 

Sobre a alma do arvoredo
No secreto silêncio do labirinto 
Agarro o que sei e o que sinto
Na frescura amarga da fome e do medo

Sobre o chão da história pisada
Entre sonhos e versos de cantar
Abro-me a ti como ao mar 
E fico assim. Não desejo mais nada

27 de agosto de 2018

SaLt0

Temos sempre um lugar
Um canteiro que nos espera
Ou uma grande árvore sobre a falésia
Encontramos o nosso peso nesse olhar
Sobre o sonho enfeitado de quimera
Na grande árvore sobre a falésia
Levamos o corpo de cá para lá
A alma sobre o mar e o desejo
Ou a grande loucura de sermos plenos
E tudo arde: a casa e tudo o que será
Para além do que em nós se faz único beijo
Na grande loucura de sermos plenos

Para Teresa Almeida Rocha.

26 de agosto de 2018

c0nTiGo



No dia em que me calar
Pensa que a árvore pode ter caído
Que algo em mim se deixou perdido
Porque só existo se for em (a)mar
Se esse dia vier, repentino,
Haverá uma tempestade em mim a gritar
Que só existo se for em (a)mar
E nunca se cala aquele que teima em ser menino
Fica colorido no sémen deste lar
Que te canta e se dá sem dor nem perigo
Que só sabe ser se for contigo
Vivendo passos que só se dão em (a)mar!

25 de agosto de 2018

UmDiA

Um dia toda a luz do sol ficará gravada
Como árvore num campo deserto
Que inquieta se dá à madrugada 
Sem saber se está longe ou se está perto

Um dia todos os versos serão apenas canções
E cada novo voo sorrisos ao luar
Pousadas na ternura das estações
Que suam a pele ainda a chorar 

Um dia o vento saberá dos caminhos lentos
Dos vagabundos e das memórias 
E na cor da raiz de todos os momentos 
Faremos as almas de novo contar histórias

24 de agosto de 2018

CoLiBrI

O colibri pousou no meu coração
Cheirou-me a pele como se fosse uma flor
Canta, colibri, essa tua doce canção
E faz do céu um ninho de amor

O colibri entrou no meu leito
Pintou o meu corpo de viva voz
Demorou-se, como sol, na corrente do peito
Cobriu os meus olhos de rio e foz

O colibri voou nos meus sonhos
Levou-me ao cume de uma paz certeira
Dançou e espantou os passos medonhos
Deixou-me uma luz que brilha na eira

O colibri sou eu e és tu
Fazendo da vida uma avenida que sorri
E dentro do seu olhar atento e corpo nu
Pede-me baixinho: nunca saias daqui!

Poema dedicado à Manuela, que hoje viu um colibri nas buganvílias do seu quintal.

23 de agosto de 2018

sAuDaDe

Qual o peso da saudade?
Saudade que dança e se entrelaça na pele
Saudade que cheira a flores coloridas
Saudade que dorme sossegada
Saudade imprevisível e sem explicação
Saudade sim, saudade não...

Qual o peso da saudade?
Saudade de ti, de ti e de ti
Saudade de um momento único
Saudade de um voo de colibri ou Gaivota
Saudade do timbre da tua canção 
Saudade sim, saudade não...

Qual o peso da saudade?
Saudade da cachaça e dos sorrisos livres
Saudade dos bombos e do tempo
Saudade de cada minuto da árvore
Saudade do mais longo rio em emoção
Saudade sim, saudade não...

Qual o peso da saudade?
Saudade dos silêncios e do corpo suado
Saudade dos passos vagabundos 
Saudade do eterno saber
Saudade do aconchego no tranquilo furacão
Saudade sim, saudade não..

Qual o peso da saudade?
Um poema mais em versos de nuvens fartas
Uma voz rouca, calada nas lágrimas de sempre
Um copo abandonado ao bater do relógio da torre
As contas feitas que nunca têm fim...
Saudade sim.

Qual o peso da saudade?
As mãos criadas na lama de uma montanha
Gritos e raivas também por tudo
Mergulhos e passagens apenas
As contas que trago tatuadas no coração...
Saudade não.

21 de agosto de 2018

cAsA

Vamos inventar uma casa, meu amor?
Onde as grades são abraços e as janelas beijos?
Onde o meu sangue seja a corrente dos nossos desejos
E cada chave uma flor.
Vamos inventar uma casa, meu amor?

Vamos deixar que o sossego da nossa casa, meu amor
Cante as suas canções e nos dance?
Aconchegar cada novo aonho que nos alcance
O quente e doce sabor
Do sossego da nossa casa, meu amor?

Vamos cuidar do leito do futuro, meu amor?
Chamar o vento para nos cobrir e a liberdade que perdura
Abrir olhar às fontes e à ternura
Onde cada respiração se torne andor
Cuidando do leito do futuro, meu amor!

18 de agosto de 2018

pReSeNtE



A noite nos teus olhos profunda
A alma em corrente que te inunda
E as árvores, de pé, sobre a pele quente.
Todo o jardim se dá em justa flor
Aroma de vento e cor
Que das tuas mãos há sempre este presente.

Poema em flor no meu acordar
Junto ao abraço eterno do mar
É forte sol que se aconchega a poente.
Leva os teus pincéis para o infinito
Faz-te beijo, sinal ou grito
Que das tuas mãos há sempre este presente!

15 de agosto de 2018

eTeRnIdAdE

O tempo em ausência forte
Em margens de um rio que correu
E nem a tua vida, a tua morte
Me calou o coração teu
Grávida de amor solto
Nas ruas que Paris amanheceu
E nem o fogo do meu corpo revolto
Me calou o coração teu
Mãe, meu doce pedaço
Que tens tudo o que a vida me deu
Estás sempre em mim em tanto que faço
Neste silêncio que grita o coração teu

9 anos da tua chegada à eternidade...

13 de agosto de 2018

ViGiLaNtE

Um dia pego devagar na tua mão
E devagar vamos com pressa
Até ao fundo da paz daquele silêncio
Em que as folhas das árvores,
Vigilantes,
Aguardam um beijo envergonhado.
Um dia cantaremos no céu dos nossos sonhos
Enquanto as gaivotas passam
Até ao fundo da eternidade
Em que o mar é o reflexo dos teus olhos,
Vigilantes,
À espera da dança redonda dos tambores.

12 de agosto de 2018

n0iTe

A noite, quente, como o tempo da espera. A minha respiração já desespera e tudo permanece no silêncio inesperado. Há vento por todo o lado e não descanso. Nunca o meu dormir é manso nas catacumbas da inquietação. Pobre coração, que te enganas a cada novo passo e preso me desfaço só para esquecer. Que o amor ao morrer será um fruto mais. Quem sabe um cais na passagem para uma nova viagem? Já me agonia toda esta quimera. Na noite, quente, como o tempo da espera.A noite, quente, como o tempo da espera. A minha respiração já desespera e tudo permanece no silêncio inesperado. Há vento por todo o lado e não descanso. Nunca o meu dormir é manso nas catacumbas da inquietação. Pobre coração, que te enganas a cada novo passo e preso me desfaço só para esquecer. Que o amor ao morrer será um fruto mais. Quem sabe um cais na passagem para uma nova viagem? Já me agonia toda esta quimera. Na noite, quente, como o tempo da espera.

11 de agosto de 2018

rEgReSs0

Os cacos no meio do chão
As pedras soltas e misturadas
Já não aguento sonhos e estradas
Quero calar-me em dor e vulcão!

Basta-me a ternura e sou rei.
Mesmo em silêncios de mão em mão
E tudo se refaz e nada esperei:
Os cacos no meio do chão.

Há as ternuras perdidas em corpo quente
Momentos e danças tão bem amadas
Onde o tempo é sempre presente:
As pedras soltas e misturadas.

Há os cantos e as chagas do regresso
Mesmo no leito das loucuras cantadas
Os meus lábios frios trazem impresso:
Já não aguento sonhos e estradas.

E agora? Fica-me a vida outra vez
Na raiva que se rompe na incompreensão
É por isso que serei grito talvez:
Quero calar-me em dor e vulcão.

10 de agosto de 2018

rEbEnTaÇã0

Cabe em mim uma eterna inquietação 
Um jardim de vulcões prontos
Tempestades e nuvens cheias de formas
Os meus passos são vagabundos e de perdição
Por isso a minha estrada é uma fogosa pintura
Onde cabe toda a raiva e toda a ternura...
Cabe em mim o rescaldo e ruína
A grande falésia da dança eterna
Areais e migalhas de muitas histórias
Os meus passos são loucos e cheios de tanto
Por isso canto e me faço em versos em eterna mistura
Onde cabe toda a raiva e toda a ternura...
Cabe em mim todo o cansaço do meu corpo reluzente
E pronto para o vómito ou para o beijo
Felugem de um vento morno
Por isso os meus passos estão aqui
Prontos a rebentar os abraços e a surpresa mais pura
Onde cabe toda a raiva e toda a ternura...

9 de agosto de 2018

gAiVoTA

O teu olhar vermelho
As mãos cheias de histórias
O corpo, fonte de memórias
Onde repousa o meu espelho
Vejo-me em sonho eterno
Junto a um caminho deserto
Que me trará por certo
O abraço quente do inverno
Sabes cantar e repousar em mim
Porque o quero como quem se alimenta
É por isso que neste voo não se tenta
Perceber onde é o começo e onde é o fim
Será um leito fresco e puro
Um sorriso de abrir cada onda em mar
Gaivota, nunca pares de (me) voar
Que esse é um passado ainda futuro!

oTeMp0

O tempo que passa Leva uma flor ao vento Que se faz poesia e raça Fonte, porta e lamento Curva-se o peregrino Sem ter medo da desgra...