29 de novembro de 2009

qUeRoDeIxAr

Queria deixar-te um rio
Feito de calor e de frio
Uma torrente e uma fonte
Um pequeno cheiro de mim
Que fica em nós no horizonte
Que se perde sem nunca ter fim
Só para te abraçar...
Queria deixar-te o mar.

Queria deixar-te o vento
Esse que existe e que invento
Uma tempestade e uma brisa
Como um beijo de aromas e doces
Que se faz na mão mais precisa
Na mão tua como se fosses
Do tamanho do teu olhar...
Queria deixar-te o mar...

Queria deixar-te o meu peito
De amor e paixão mais que imperfeito
Um vagueamento apenas, silêncio e grito
Poema maior, o mundo!
Tudo aquilo que em nós acredito
Como um sangue vermelho e profundo
Que de tão quente nos vai desaguar
Neste rio, vento, peito e mar
Que em ti te quero e vou deixar.

AmInHaSoLiDã0


Cada silêncio da minha solidão
Pode ser um verso ou um deserto
Pode ser o meu grito mais certo
O calo maior que tenho no coração
.
Cada morte da minha solidão
Pode ser um doce forte ou um jardim
Pode ser uma história ainda sem fim
O colo maior que tenho no coração
.
Cada fogo da minha solidão
Pode ser um canto de luta e coragem
Pode ser um horizonte, uma viagem
O calo maior que tenho no coração
.
Cada passo da minha solidão
Pode ser um encontro em ti presente
Pode ser um abraço vermelho e quente
O colo maior que tenho no coração
.
Cada solidão pode ser eu assim vestido
E tudo regressa a mim assim perdido
Pode ser uma dor que amanhece sozinha
Cada solidão que faço nossa, faço minha!

26 de novembro de 2009

f0MeDoVeNt0


De olhar pousado na solidão
Sirvo a fome do vento
Piso os calos da rouquidão
Porque sem ti, não sei se me aguento

Perco-me nos passos da imensidão
No ronco forte deste sonho lento
És assim, doce manto e canção
Dentro de mim, como mel e alimento

Felina, fera e perdição
Névoa, tabuleiro e cimento
Voltas sempre no regresso da minha mão
Partes no perfume que no meu peito acorrento

Gota de lágrima e perdão
Felicidade nua e sofrimento
Devolves-me o olhar em inquietação
E meu corpo em cada momento

De ti, de mim, memória e alçapão
Fortaleza de viagens e esquecimento
Este querer calado em sofreguidão
Este ser e ter, como um monumento

25 de novembro de 2009

mEuMaR


Só o teu respirar me quebra este silêncio. Nem o poema nem o véu. Habituei-me a ver-te no leito sem dizer nada. Só olhar. Por isso, meu doce irmão, sempre que o teu sorriso me cobre, sei que posso adormecer...

24 de novembro de 2009

0vAzIoDeTi


Embriagado, solta-se o vagabundo. Carrega a noite nos olhos. Em lágrimas brilhantes e doces. As ruas nuas suas cruas perdem-se no meio dos seus passos silenciosos e leves. Que do peso da sua vida existe uma chaga na memória - era poeta!
A Bela Amante pousou-lhe o corpo nas mãos. O tempo fez-se areal como se um jardim se pintasse no seu sorriso. Afinal, cada solidão transformava-se num novo manto de versos e canções. Mesmo no labirinto mais secreto da sua existência... Mesmo no precipício mais longo da sua voz... Mesmo na inquietação das suas vestes.
Pobre vagabundo. Acorrentado e livre no desejo colorido e negro dos seus gritos.
Pobre Bela Amante. Dançarina feroz na saudade das distâncias.
Pobre de mim, simples mortal, perdido no cansaço de nada contar... de tudo esperar... mesmo o vazio de ti.

22 de novembro de 2009

p0nTeS

Serão pontes os olhos que se perdem no areal?
Serão margens as mãos que se procuram?
Serão rios as lágrimas que teimam? Os soluços...
Serão febres os passos de dança?
Serão apenas palavras, as minhas...

20 de novembro de 2009

eXiStEuMvErSo...TaLvEz


Existe um verso cravado na pele quente. Talvez um cheiro a paixão. Talvez um olhar ausente. Talvez o toque fino da solidão. Existe um verso perdido na voz rouca. Talvez o meu canto vagabundo. Talvez as dores todas do mundo. Talvez uma melodia ainda tão pouca. Existe um verso na saudade de todos os dias. Talvez o vento na maré do desassossego. Talvez a tempestade vermelha das agonias. Talvez a história que em mim carrego. Existe um verso pintado a cores de mim. Talvez o canto do amor vadio. Talvez o fogo que me desenho um jardim. Talvez o maior calor do frio. Existe um verso em manto de janela aberta. Talvez o olhar forte ou o sorriso teu. Talvez a hora mais curta em abraços de fome incerta. Talvez tudo o que diga seja mesmo meu...

17 de novembro de 2009

f0g0

Para sempre assim, como nós
Arde no tempo e nunca sossega
Mesmo quando desagua na foz
Esse rio de sermos abraço
Carregado de um fogo sem nome
No olhar certeiro com que faço
Tudo o que de mim em ti se consome
Por isso sei do silêncio a crepitar
Das memórias eternas em mim
Em ti, o poema brilhando no teu olhar
Porque seremos abraço e fogo sempre assim

15 de novembro de 2009

oLh0sDeMaR


Nem sempre as ondas devolvem as lágrimas...
Mas mesmo assim as praias são mantos de dor, de poetas e de navegantes da solidão.
Mesmo na rouca fúria com que te abraça
No reflexo de ti e do teu tempo
Haverá uma janela aberta para poderes descansar.
Por isso, no teu corpo quente e macio,
Não te canses do choro. Ele é o regresso mais fundo do que afinal nunca se perdeu.

ViVeRsEmTi

Viver sem ti é tão estranho, mãe... Como se no meu peito conseguisse adormecer todos os vazios. Mas ao mesmo tempo todos os sonhos. Como se os meus olhos criassem todos os rios. Mas ao mesmo tempo o mar, que os recebe com alegria. Como se a minha pele secasse na noite. Mas ao mesmo tempo queimasse. Como se a minha voz gritasse os silêncios do mundo. Mas ao mesmo tempo as cantigas. Viver sem ti é tão estranho, mãe. Mas eu sei, tu sabes, todos sabem, que a vida é a vida e a morte é a morte. E não vale a pena estarmos a tecer grandes teias sobre uma ou outra. Já o sabemos. Todos o sabemos. Também não é isso que importa, não é mãe? Importa a certeza do que se sente... e os sonhos. Importa o sabor das lágrimas... e o mar. Importa o toque... e o toque e o toque e o toque. Importa a palavra... gritada, cantada... Importamos nós. Não é, mãe?

13 de novembro de 2009

rEg0aFoMeDoVeNt0


Planto as cores do Outono no meu peito
Serei campa, forno ou aconchego
Nas mãos o sabor inquieto do sossego
Da corrente das estações no meu leito
Semeio o o fogo forte da solidão
Serei ave de rapina ou pequeno insecto
Nas mãos o sossego deste andar assim inquieto
Da terra fértil onde respira o meu coração
Rego a fome do vento em silêncio e verso
Serei vagabundo, fugitivo ou amante
Nas mãos, algo que se diga, que se cante
De mim, veneno em grito rouco e disperso

10 de novembro de 2009

fOsSe


Fosse o verso um silêncio Um pequeno manto apenas E talvez os meus gritos fossem passos... Fosse a noite um leito Um segredo perdido e vagabundo E talvez adormecesse nos meus cansaços... Fosse a faca em sangue Uma fonte de mim poeta à solta E talvez cantasse a tua solidão... Fosse o amor urgente Um labirinto ou um precipício E talvez voltasse de novo ao meu coração...

8 de novembro de 2009

0tEuLuGaR


O teu lugar é em mim
Como se fosse terra fértil e eterna.
O teu lugar é no mar
Como se fosse um manto.
O teu lugar é o amor
Como se vivesses.
O teu lugar é no monte
Como se fosse uma fotografia.
O teu lugar é na minha voz
Como se fosse um grito.
O teu lugar é na lágrima
Como se fosses rio.
O teu lugar é no ventre
Porque és fecundação.
O teu lugar é o mundo, mãe...
Porque bem lá no fundo
Como se fosse uma fonte
Jorras no meu coração!

6 de novembro de 2009

VeRtIgEmFeItAtEmPo

Monte a monte o voo da andorinha rasgou-lhe o coração. Era Outono mas estava tanto calor que o ar fresco parecia cortar. Como um punhal. Seguiu o seu caminho endiabrada e serena, na inquietação do olhar vagabundo e da pele feita seda. O seu corpo era um manto ou um jardim. Deixou-se levar sem receio. Sabia que a chegada não seria uma nova partida. Monte a monte, na solidão dos silêncios. Nas memórias perdidas das rugas. Nos passos firmes da autenticidade. Cada casa um lar de amor e crianças. Cada janela uma saudade. Cada canto uma tela aberta aos céus. Divinos leitos de perfume e reflexos onde todos eram poetas. Ou amantes. Que o desejo das andorinhas é sempre este voo que se (re)faz como quem respira. É sempre a aterragem de quem chega a um lugar desconhecido que afinal é o seu. Monte a monte. No ritual da vertigem feita tempo...

3 de novembro de 2009

s0uSeMpReMeNiNo

Deixa-me voar mais um pouco no vento
Falésias de saudades entre mim e o infinito
Memórias entrelaçadas no sangue ainda aflito
Chama feita em nós entre o olhar e o pensamento
.
Deixa-me dizer-te "Bom dia" outra vez
Sentir o sorriso perdido à minha procura
Cantar o amor, a fuga, quem sabe a loucura
Chama feita em nós entre o sim e o talvez
.
Deixa-me esperar-te num outro dia de novo
Aquecer nos versos o grito fervente
Ser tudo e nada, neste rio corrente
Que em lágrimas de distância tremo e chovo
.
Deixa-me dizer-te um segredo assim pequenino:
Sou um vagabundo que se solta devagar
Mesmo em inquietação ao rebentar
Nunca me transformo. Sou sempre menino!

1 de novembro de 2009

ApErGuNtA

"Como se guarda um beijo para sempre?", perguntou a Bela Amante ao Sábio.
"Oh... se eu soubesse...", respondeu ele, que nunca tivera tempo para amar.
"Como se guarda um beijo para sempre?", perguntou a Bela Amante ao Coveiro.
"Oh... se eu soubesse... A vida fez-me esquecer tudo. Só lido com a morte...", respondeu ele, que deixou de saber o que era o tempo.
"Como se guarda um beijo para sempre?", perguntou a Bela Amante ao Músico.
"Canto, porque o amor apetece...", respondeu ele, cantando, a tempo, no meio do seu rendilhar de notas de amor que pintavam a sua solidão.
"Como se guarda um beijo para sempre?", perguntou a Bela Amante ao Menino.
"Guardando!", respondeu ele, já que tinha tempo para tudo e tudo era simples e possível.
"Como se guarda um beijo para sempre?", perguntou a Bela Amante à Mãe.
"No colo.", respondeu ela, cheia de tempo e abraços.
"Como se guarda um beijo para sempre?", perguntou a Bela Amante ao Poeta.
"No silêncio de ti. Dentro de ti. Nos gritos de ti. Fora de ti.", respondeu ele, tão cansado que se sentia do tempo.
"Como se guarda um beijo para sempre?", perguntou a Bela Amante ao Vento.
"Na minha pele.", respondeu ele, acariciando de novo a sua saudade.
E foi aí que ela percebeu outra vez a sua história... e do tempo se ressuscitou num sorriso eterno.
O Sábio,
O Coveiro,
O Músico,
O Menino
e
a Mãe fizeram-se à estrada.
.
.
.
E o Poeta?
"Quem?"
"O Poeta!"
"Não conheço..."
"Não conheces?!! Acabaste de lhe perguntar como se guarda um beijo para sempre!"
"Eu?!!!! Que disparate de pergunta..."

oTeMp0

O tempo que passa Leva uma flor ao vento Que se faz poesia e raça Fonte, porta e lamento Curva-se o peregrino Sem ter medo da desgra...