30 de outubro de 2008

cHoRoFoGo


Se na saudade o meu peito se gasta
Se os caminhos pesam nos pés
Os olhos nus, vinho uva e casta
Na vindima de tudo o que para mim és
Se no silêncio tudo turva e afasta
Canto puro na respiração das marés
As mãos em sangue, sargaço concha que arrasta
As palavras por dentro do convés
Navego solto e sem receio
Em viagem eterna nada mais que importe
Volto a rir, no choro fogo por inteiro
Que me atira mais um dia para a morte

28 de outubro de 2008

d0oUtRoLaDoDaMoNtAnHa


Do outro lado da montanha existe um mar cheio de nós. Desses que amarrados cantam os sonhos. As marés, essas, são as respirações que os deuses entregam ao desejo. Nas onda espuma da sua caminhada. Do outro lado da montanha um segredo conta uma história de encantar. E todas as crianças sorriem. Em barcos coloridos que navegam serenamente. Do outro lado da montanha ecoam as vozes apaixonadas. Chamam-se os amantes. Cantam-se as viagens. Sussurram-se os abraços. Do outro lado da montanha há lugar para todos os corações. Fortes. Feridos. Tristes. Em gritos. Em chamas. De namoro. De fuga. Sem lar. Sem medo. Às avessas. Às escuras. Do outro lado da montanha subo degrau a degrau o teu olhar. Para ao chegar, sorrir devagar e descansar à tua janela. Que do outro lado da montanha vê-se a alma dos Homens!

27 de outubro de 2008

nUnCaPaRaNd0

Sei que do outro lado da viagem o tempo é um labirinto aberto de cores e cheiros por onde dançaremos. Sei que o meu sangue te percorre as memórias e entre cada nova respiração teus olhos ficam mais perto do mar. E eu naufrago de ti, vou voltando ao princípio sempre que chego a uma nova estação. Os teus passos ecoam dentro dos sonhos. A tua voz melodia-me a lareira. O olhar pinta-me a calçada. Sei que do outro lado da viagem não existem paragens. Apenas o eterno desafio de nunca parando sabermos ficar...
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Pudessem as palavras abraçar os viajantes, então saberia que minha voz não é muda.

24 de outubro de 2008

... f0sSeEu

Se o meu corpo não se cansasse assimSe se deixasse que a noite caísse junto ao teu regaçoSaberia de cor todas as cores deste cansaçoOnde desaguo, como um rio, sempre dentro de mimCaio firme, de olhos postos na fonte seguraNo fruto doce e amargo que me consome pedaço a pedaçoSão quentes as esquinas onde tropeço cada novo passoOs vidros e o espelho da crueldade e da canduraCais de partir, de chegar, entre o princípio e o fimFome de lágrimas que me ardem os versos à toaSilêncios e reflexos de quem mata e perdoaUm corpo que cansado, repousa sempre em mim

23 de outubro de 2008

t0nTuRaS

Tonturas. Despedaça-me a respiração por entre sonhos e desejos. Inquieto, todas as palavras me sabem vazias. Mesmo aquelas que me inundam tremendamente. Respondo nas alturas desenhando horizontes ou silêncios. Sei que nunca se consegue. Seja o que for. Nunca se consegue. Andamos sempre às voltas do impossível. E nunca se consegue. É impossível alcançar o impossível. Nunca se consegue... Mas tudo vale a pena. Vale o choro por entre a ternura. Vale o riso na raiz do peito. Vale o pensamento. Vales tu. Que tão serenamente me olhas como se não sofresse por ti!
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Perdoem-me a tontura de precisar de adormecer um pouco...

22 de outubro de 2008

cOrReDoR


Não nego o sangue que me corre nos dedos. Fonte de amores e segredos. Que sobrevivem entre amores-perfeitos e penedos. Sem conclusão; só enredos.
Não fujo dos tempos; dos momentos de perdição. Do jorro agre e doce da inquietação. Mel de lágrimas fortes e paixão. Sem enredos vagos; só conclusão.
Seja Outono ou Inverno não nego nada. Canto em mim o adormecer da madrugada. Os abraços de todos em cada mão dada. Onde tudo é sempre tudo e sempre nada...

20 de outubro de 2008

sAnTuÁrIo


Explode-se o cântico da saudade
Das mãos entrelaçadas na secreta onda
No beijo doce que por mais que se esconda
Rompe cada silêncio de toda a eternidade
Pontuem-me as palavras
Calem-me os dedos
Sequem-me o sangue
Matem-me!
Ficará sempre a maré que nos une no peito
De cantar assim o amor com este meu jeito...

19 de outubro de 2008

aBrAç0sDoTeUbEiJ0


Os meus versos de abraços feitos

Cantam os silêncios da alma

Voltam-se e rebolam-se em amores-perfeitos

Que na guerra nos trazem a calma

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Viajam-nos os sonhos e as mãos

Tudo o que fica por explicar

Poesia germinada de furtos e grãos

De encontro ao profundo do teu olhar

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Rente a mim, em cada novo suspiro

Perto de nós, rumo ao cais do desejo

Poetas e telas soltas que transpiro

De cada vez que a minha memória atraca no teu beijo

17 de outubro de 2008

iNsEnSaTeZ

Molham-se-me os dedos no silêncio do meu gritoNa agonia turva do olhar cansadoRegresso-me todos os dias em navegar aflitoSem saber se estou perdido ou encontradoRisco-me as palavras em folhas em branco demasiadamente pesadasNa respiração da vida, que afinal, existe em mimSomo e multplico por aí todas as caminhadasPorque sei que só caminhando nunca chegarei ao fimCanto-me em profundas cataratas de encher a almaRente ao sufoco rasgado do futuroQuero regressar ao areal da maré calmaOnde adormeço, sonho e me seguro!

15 de outubro de 2008

mAnTa

Só, o meu corpo deixa-se aquecer sem saber da cor da próxima onda. As estações passam e eu anuncio os rios. Em cânticos e gritos que nascem dentro do olhar. Não sei se me dispo ou se me escondo. Só sei que a minha pele terá sempre o cheiro das suas mantas.

14 de outubro de 2008

oUsAdIa

Os meus olhos entregam-se ao perigo só por ousadiaOusado é o percurso até ao infinitoInfinitamente perdido o meu sangue, no enlaçar do diaQue da noite se entardece, em cores de fome e gritoOs meus sonhos escapam-se-me em palavras embriagadasBêbado cantar por entre janelas e fontesNascem em mim os versos em duras passadasQue dos caminhos se perde o mar no meio dos montes

12 de outubro de 2008

mÃoSd0pEiTo

Como uma viagem que do dia se perpetua
Rente ao peito, entre o olhar de dentro e a alma nua
Nas mãos dadas da pele acesa
Na rouquidão da fome sobre a mesa
Este mar somos nós, em marcha cantada
Sim. Em cada passo se faz a estrada!
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Como uma viagem, ternura, vida nascente
Azul, cinza, aguarela de corpo ardente
No pequeno bater tímido do peito
Na canção que sempre se leva a eito
Este porto de cais esperança
Onde te ressuscitas para ser criança!

9 de outubro de 2008

rEnAsCeR

Pedra a pedra a minha terra sacode-me a alma a cada vendaval. Estilhaça-me o olhar por entre os seus cânticos e vazios. Tropeça por no meu corpo nu e inerte perante a desgraça. Embriaga-se-me nas mãos. Depois volta. De novo. No regresso das cores.

7 de outubro de 2008

p0bReHoMeM


Pobre Homem que não sabe desenhar...
Que inventa as linhas dos outros à sua vontade...
Porque não pensas, simplesmente, em cantar
Em vez de te preocupares com a verdade?

Pobre Homem que não quer desenhar...
Que se distrai assim, julgando-se eterno...
Porque não pegas no lápis sem corar
E inventas um outro inferno?

Pobre Homem que não pode desenhar...
Que inventa a vida de olhos fechados
Porque não desaguas sem nunca chegar
No espelho dos teus sonhos e dos teus fados?

Pobre Homem... desenha solto e não fales!
Que o silêncio é a sinfonia do olhar
Que tudo o que é azul e males
Se refaz nas linhas de cada desenhar...


5 de outubro de 2008

c0r

Sei-me vagabundo
Poeta à solta
Esfarrapado
De olhar dentro dos outros.
Não sei ser de outra forma...
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Sei-me perdido e só
Por entre todas as maravilhas da vida
Da que faço todos os dias
Das lágrimas que me escapam porque também sou rio
Das ondas que gritam o meu peito
Dos vendavais das feridas
Do mel da ternura...
Da minha voz sai tudo o que sou.
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Por isso não páro de cantar...

1 de outubro de 2008

sUsTo

Quanta cor me penetra o sangue... em virgens correntes de sonhos
Mergulho-me por entre espasmos e silêncios... de cada regresso
Afogo-me e morro vezes sem conta em mim... solto
Salvo-me de perto, grito longe, escondo-me apenas
O meu nome é este e só este me merece. Eu sei. Eu quero.
As palavras são simples mecânicas na engrenagem da viagem
E o puzzle nunca se completa... desmorona-se ao ar livre... ao leve suspiro onde carrego as minhas paixões
Nu. De sorriso em punho. Que o olhar saberá entoar as melodias do aconchego. Que o canto é a profundidade da alma feita em mim. Eu sei. Eu quero.
Por momentos pensei que não tinha mais nada para dizer...

oTeMp0

O tempo que passa Leva uma flor ao vento Que se faz poesia e raça Fonte, porta e lamento Curva-se o peregrino Sem ter medo da desgra...