25 de outubro de 2018

oTeMp0

O tempo que passa
Leva uma flor ao vento
Que se faz poesia e raça
Fonte, porta e lamento
Curva-se o peregrino
Sem ter medo da desgraça
Quando é fome de menino
O tempo que passa

Canta-se uma mesa posta
Entre o monge e o avarento
E ao amor, que tanto se gosta
Leva uma flor ao vento

Arrisca-se mais um nome feito
Uma loucura nos olhos que esvoaça
E eu trago este tremor no peito
Que se faz poesia e raça

Mais nada ficará para contar
As horas em que fui meu alimento
Ser tudo diante do meu andar:
Fonte, porta e lamento

22 de outubro de 2018

p0ç0

O meu regresso é um poço onde cabem muitas histórias. Um rio que leva muitos amores. Uma árvore de muitos frutos. Um mar de muitas ondas. Um silêncio de muitos gritos. Um céu de muitas nuvens e um coração de muitas explosões. O meu regresso é um poço de solidões.
O meu regresso é um poço onde nascem muitas flores. Onde cantam muitos melros. Onde dançam muitas bailarinas. Onde se pintam muitas telas. Onde morrem muitos portões. O meu regresso é onde o poço é de solidões.
O meu regresso tem a cor de todas as cores. Tem o sabor de todos os beijos da saudade. Tem abraços carregados de todas as lutas. Tem lágrimas de todas as conquistas e todas as paisagens. Tem todas as fomes e inquietações. O meu regresso tem um poço de solidões.
O meu regresso és tu, em caminho longo. És tu, em louca noite. És tu, em acordar de ninar. És tu, em versos que penetram. És tu, em água e sorrisos e tempestades e multidões. O meu regresso és tu, poço de solidões!

20 de outubro de 2018

ToRnAd0

Há um abraço no meu leito
Há um adormecer que sorri
O meu sonho é o meu peito
Que um dia te dei e te perdi

Voltas no janela do meu mar
No silêncio da inquietação
E de novo te repito no meu cantar
Como quem dorme dentro do coração

Serei cavaleiro livre e sem destino
Rasgada pele, solto ao vento
E na magia ingénua de um menino
Dançarei descalço no meu pensamento

Serei castelo, ria ou monte
Tela desfeita de poeira e sabre
Na sede que me inclina a fonte
Sempre que a minha porta se abre

Choro a plenitude da vida
Todos os mistérios da vitória e da derrota
E nunca mais serei despedida
No voo grávido de uma gaivota!

7 de outubro de 2018

v0u

Preciso de fugir e já sabes onde me encontrar.
Ali, onde o silêncio é o meu lugar
E o rio manta do meu cansaço.
Preciso fugir e ainda nem dei um passo...
Preciso de paz e já sabes onde a vou encontrar
Ali, junto a cada história por contar
Onde me desfaço e onde me faço.
Preciso de paz e ainda não dei um passo...

Preciso de tempo e já sabes onde o vou encontrar
Ali, junto à esplanada onde te quero esperar
Como a um futuro que parece tão escasso.
Preciso de tempo e ainda não dei um passo...

Preciso de mim e já sabes onde me vou encontrar.
Ali, no centro do meu coração a cantar
Uma alegria de uma vida a que falta um pedaço.
Preciso de mim e ainda não dei um passo...



A escrita às vezes é um beijo. Outras vezes um punhal. Desculpem qualquer coisinha...

21 de setembro de 2018

eRA

Há um mar de palavras na tua dor
Uma eterna dança entre o tanto que há
Mas a mão que embala o lado fresco do amor
Perde-se no turbilhão do que não se fará

Perdem-se em sonhos e passos lentos e perdidos
Perdem-se em histórias e portas que se pintam de rompão
E o tempo passa e morre em leitos já idos
E o sangue enfraquece o bater do coração

Há um armário, uma janela, um sofá
Em versejados cânticos soltos num cais
E a mão embala aquele fantasma que há
Em tudo o que houve e não há mais

11 de setembro de 2018

0lHaRdEbAiLaRiNa

Este olhar é um vestido de bailarina
Abraça-me a alma com ternura
Devolve-me a tua voz doce de menina
Diz-me da flor, da água mais pura

Os teus olhos são sementes de paz
Um prado infinito onde descanso eternamente
O meu corpo que chove ainda traz
Os rios que nas minhas mãos se fazem presente

Minha pele, carne das minhas preces
Fértil e reluzente como um pomar
Tens-me em voo porque nunca me esqueces
Tens-me em canto neste teu olhar

9 de setembro de 2018

qUeRiA

Queria cheirar-te
Em voos livres e intemporais
Ser pele tua por toda a parte
Mesmo quando em beijo te vais

Queria ter-te
Como uma onda longa do mar
E sem aviso te fugir e perder-te
Só para de novo te poder encontrar

Queria este louco vento
No olhar distante que se faz perto
Quando me acaricias o pensamento
E me cobres o corpo incerto

Sou poema de amor hoje em ti
Um pequeno sorriso na engrenagem
Sou céu em voo de colibri
Sou eu, poeta em eterna viagem

7 de setembro de 2018

hÁsEmPrE

Há sempre uma escolha e uma espera
Um qualquer serpentear no pensamento
Quem sabe a vertigem repentina
Um balancear de trôpega menina
Que dança na lua e acorda no vento

Há sempre um passo que fica por dar
Nas praças onde a música se faz
Quem sabe uma emoção aprisionada
Um desejo à solta na esplanada
Onde o templo é presença, ausência e paz

Há sempre um voo de olhos vigilantes
Que a poesia encerra como quem se aninha
Quem sabe uma embriagada fonte
Desaguando de um lado e do outro da ponte
De uma paixão que um dia quis minha

6 de setembro de 2018

pArIsSeMpRe

Pedaço de tempo vagabundeando 
Nos meus olhos abertos sobre as ruas e as pessoas
Canções que enchem a noite e que entoas
Nos jardins todos que vamos sonhando
Nem fado nem acordeão
Sobre o rio ou a grande torre
Nada se detém e muito menos morre
Quando os passos vêm do coração
E os crepes sobre a minha boca
Ou o nevoeiro das pinturas
Levam-me ao infinito e às fontes mais puras
Onde cada água me sabe sempre a pouca
Paris, meu berço que teimas em presentes acordados
Que cheiras ao mundo inteiro e mais
E em cada ponte ou em cada cais
Serpenteias histórias ao ritmo dos cadeados
Voltarei para ficar
Para que o meu canto se pinte pelas praças 
Para que o meu grito te cante quando passas
Que vivo numa pele que teima em se queimar
E perdido, quem sabe, num encontro quente e singelo
Serei feliz nos silêncios de todos dias
Que numa tela de cores, danças e folias
Se faz Paris, meu eterno e umbilical castelo!

https://www.youtube.com/watch?v=yb5pCyZFrbg

4 de setembro de 2018

aBrAçA-mE

Oferece-me flores coloridas e canções cheios de sonhos. Abraça-me. Faz-te mar que eu sou um rio em tempestade... Em regaço de estuário quente. Em cama de lençóis lavados e bem esticados. Oferece-me os teus olhos no meu tremer. Abraça-me. Recebe cada grito do meu silêncio e finta o destino. Transforma as lágrimas em sorrisos e as saudades em gargalhadas. Empurra-me de encontro aos mais belos versos. Oferece-me uma porta que se abra ao paraíso onde possa dormir e dançar. Não penses mais. Acorda! Faz qualquer coisa!

eTeRnIdAdE

Salta sobre as flores e sorri
Afinal, bailarina,
Estás aqui e nem sempre os rios refletem o teu sorriso
Por isso, no mais fundo e cruel momento preciso
Choro-te e amparo-te como se o mar todo me fosse canto
Como se viver em dor e pranto
Pudesse, qual poço cheio de vitalidade,
Lavar-te em mim para toda a eternidade
Salta sobre as flores e sorri,
Afinal, bailarina,
És o meu mestre de simples e serenos abraços
Sempre no vigilante grito de desespero e cansacos
Há uma ternura tão grande que se tatua nas mãos
Altos castelos em orgulhos cavaleiros dos teus irmãos
Que me cobrem de vida, de viagens e da mágica vontade
De larvar-te em mim para toda a eternidade

Salta sobre as flores e sorri,
Afinal, bailarina,
A minha pele cola-se ao vento e às memórias
Que me transportam nas asas das tuas histórias
Nos rabiscos dos teus sonhos penetrantes
Onde bebo a sede, como sempre como dantes
Sem me perder, nem em ruína nem em vaidade
Só te quero lavar em mim para toda a eternidade

oTeMp0

O tempo que passa Leva uma flor ao vento Que se faz poesia e raça Fonte, porta e lamento Curva-se o peregrino Sem ter medo da desgra...