29 de maio de 2010


Qualquer silêncio. Vento ou maré
Fonte de mim na ternura de te ser
Corrente de nós no abraço de nos ter
Sempre como foi, sempre como é
Qualquer tempo. Espaço ou vazio
Tanto de nós, tanto de querer
Tanto de pele, ventre a arder
Como um mar, como um rio
Qualquer coisa de eterno. Beijo ou procura
Que da saudade forte sabe este ferver
Ou somente da paz de assim nos saber
Na pincelada mais deliciosa da ternura!

27 de maio de 2010

mEuAm0rDeMiM


Saberei eu lançar-te a passadeira do amor?
A que se pisa de mansinho,
Ou de grito feito...
A que nos serve de ninho,
Nos aquece e pinta o peito?
Saberei eu, meu amor de mim?
Em cada rima o sorriso lindo,
Ou silêncio pousado
Dizer-te que como meu coração vai indo
Deste lado,
Do Outro Lado?
Que da vida, somos passo, aperto e nó...
Com tantas memórias
E janelas,
Vitórias
Aguarelas
Coisas tantas e mais
Nunca poucas nunca demais...
Uma enchente forte de inquietação
Um murmúrio da nossa canção
A linha ainda ardente
Deste futuro da gente
Que passa, aperta e fica assim,
Eterno leito e jardim
Cores infinitas no olhar
No reflexo de cada dia
Plenitude por companhia
De tudo se refazer de cada vez
Entre o que se tem e o que se fez
Neste verbo mais-que-perfeito: amar
E nós, meu amor de mim
Estamos sempre a começar!

26 de maio de 2010

fLoRdAsAuDaDe


Que o tempo se desfaça em pequenas gotas! Que transforme os olhos em espelhos e fontes; ventos ou ilhas; marés! Que tudo se trinque e se ame. Porque a saudade tem tudo o que és. Que o medo se pinte em correntes e memórias! Que cante o murmúrio secreto dos homens; silêncios ou gritos; pontapés! Que tudo se configure no teu chamar. Porque a saudade tem tudo o que és. E assim pelo toque da inquietação. Rente ao abraço do convés que da tua barcaça, minha pele, existe saudade em tudo o que és!

23 de maio de 2010

c0m0sEf0sSePoSsÍvEl...


Qualquer dia arranco-te o grito do peito. Desfaço-o aos bocados e enrolo-o num papel dentro de um frasco lançado ao mar com a seguinte inscrição: Aqui acaba o sofrimento de um homem bom. A quem o encontrar, pede-se o favor de o manter longe da terra. Que o devolva ao mar para que um dia este o engula definitivamente. Os peixes saberão suportar a ressonância das águas. As algas conseguirão manter o seu movimento dançante nas profundezas. Os búzios e as pedras continuarão a dar à praia ao sabor das ondas... O mar é capaz de fazer da tua dor tempestade e calmaria. Por isso, meu amigo, prepara-te que te quero arrancar esse grito um dia!

22 de maio de 2010

TaLvEzUmDiA,mArIa...


Qual a cor do vento, Maria?

Branco de saudade ou vermelho de amor?

Azul de mar ou amarelo de flor?

Talvez saiba um dia. Um dia...

Qual o sabor do vento, Maria?

Verde de relva ou roxo de pintura?

Cinzento de angústia ou laranja de ternura?

Talvez saiba um dia. Um dia...

Qual o canto do vento, Maria?

Grená como um pássaro ou castanho de terra?

Rosa de beijo ou negro de guerra?

Talvez saiba um dia. Um dia...

Diz-me, que os versos são dor em mim

Porque há tanto vento no meu peito

E mesmo sem saber a cor direito

O guardo aconchegado, em tons, sabor e voz de jasmim!

19 de maio de 2010

CéUdEeStReLaS (tAnGo)

Dança na noite perto do peito
Carrega toda a sua história num passo
Num gesto de ave,
Suave
E desfeito
No pó do amor, dos calos e do cansaço

O céu de estrelas e sorrisos de calor
O aconchego do toque de um tango ardente
Dança junto ao rio,
Frio
Lágrima de amor
Que corre em mim, em ti, em toda a gente

Eterniza-se a canção, a cidade e o olhar vagabundo
Nas voltas e revoltas dos corpos e solidões
Marés que consomem,
E comem
Cada abraço do mundo
Entre restos de nós, partos e vagas aos tropeções

Vale a pena esta maré forte de intenso apertar!
Qualquer coisa de sangue, qualquer coisa de sal e mar...
Por onde me perco dias sem fim fora de mim como se fosse
Carregar todos os pesos da morte amarga e doce
Com que pinto os contornos trémulos deste sorriso
Ternura acesa, momento forte e preciso
Em que tudo regressa...
Sem pressa...
Depressa...
Tropeça...
Vento norte que me atravessa
Para ficar perdido no meu leito.
E na noite que se dança perto do peito.

17 de maio de 2010

nAtUaMoRtE

De repente, assim como um sopro, alguns amigos meus - queridos amigos - foram confrontados com a morte. Para o bem ou para o mal; cada um à sua maneira; cada uma na sua história... o facto é que a morte traz-nos sempre um aperto. Como não tive oportunidade de transformar esse aperto num abraço, deixo-o em forma de versos. Que dos versos me vou (re)construindo e caminhando.
.
.
.
.
.
.
.
.

Nasceu um silêncio no meu peito
Que faço e desfaço tantas vezes que já perdi a conta...
É um manto de lágrimas, brasas de mais um amor refeito
Com que me trespasso a direito
E que na minha vida enfeito
Com outras cores, mesmo que não a sinta pronta.
Nasceu assim, um outro caminhar
Que me acompanha cada gesto que me reconforte...
É um longo, às vezes vazio e profundo acordar
Adormecendo sem sequer sonhar
Este de ter de aconchegar
Mais um pedaço de mim, na tua morte...

14 de maio de 2010

oMeUcAmInHo


Em frente ao espelho. De nudez feita lágrima pesada. O meu caminho é um espaço velho... Já cansado de tanta rima amassada...
Em frente à janela. De sorriso cristalino e sedução. O meu caminho torna-me a sentinela... Da minha própria asfixiada canção...
Em frente à palavra. De mãos calejadas e roídas. O meu caminho não se faz nem se lavra... Porque morre aos poucos nas ilusões perdidas...
Em frente ao mar. De pés descalços em cheiro de molhada terra. O meu caminho só se faz a caminhar... Entre o tanto que esta inquietação encerra...
Em frente ao horizonte. De silêncios estafados e sonhos também. O meu caminho ruge no rio entre a foz e a fonte... Com tudo o que vai, com tudo o que vem...
Em frente a ti. De mim, sabes-me assim. O meu caminho é entre o aí e o aqui... Por isso sou vento no teu jardim!

NOTA DO AUTOR: Este é um poema de saudade. Que o meu caminho já não se faz sem abraços...

12 de maio de 2010

sAbErEi?

Saberei eu de mim, tanto que me procuro?Perdido entre o mar de ti e o labirinto da noite que me chama...Cansado dos passos e dos versos no escuro.Nos silêncios que ainda não se deitaram na minha cama.Saberei eu de mim, tanto que me perco?Arrebatado nas horas infinitas e na embriaguez que inflama...Morto e sem tempo, livre neste cerco.Nos silêncios que ainda não se deitaram na minha cama.Saberei eu de mim, tanto que me escondo?Vagabundo fugitivo no seu próprio drama...Pergunto, pergunto e nunca mais me respondo.Porque os silêncios não se deitaram na minha cama.

10 de maio de 2010

m0rReRnAsAuDaDe



Se os meus silêncios fossem uma canção

Cada verso de amor seria tanto cantar

Que do meu peito jorram os bombos do coração

Com que os meus olhos se perdem para se encontrar

.

Se os meus vazios fossem apenas dança

Cada passo solto seria uma lágrima mais

Que da minha pele rasgo os minutos da esperança

Com que respiro sempre que não te vais

.

Se os meus gritos fossem tempestade

Cada chaga seria um outro amanhecer

Que do vagabundo sei apenas que transpira saudade

Com que sempre se vai deixando morrer

.

Se eu fosse um nada que se fizesse à corrente

Cada dor seguinte seria um hino ao amor

Que se eu fosse do que sou só um pouquinho diferente

Acabaria por ficar mesmo quando me for

8 de maio de 2010

vAi


Vai.
Percorre o teu caminho seja ele qual for.
Mas fica em mim, como punhal de beijos cravado.
Vai.
Não me apagues a saudade; muito menos o amor.
Mas deixa ficar o teu abraço sempre aconchegado.
Vai.
Leva as histórias nossas com um sorriso.
Mas não me tires as lágrimas ou o grito.
Vai.
Não me percas o cheiro, as cores, as pedras do chão que piso.
Mas canta-me sempre esse teu olhar mais que bonito.
Vai.
Fica na minha pele em tatuagem umbilical.
Mas não me esqueças - vive em mim como respiração.
Vai.
Não digas outra vez o meu nome; nem no final.
Mas sente, mãe, como ficou meu coração.
Vai.
Carrega-me ou leva-me contigo!
Mas não me mates só por matar...
Vai.
Não farei de ti um passado mais antigo
Porque esta tua hora de ir é uma nova hora de ficar!

6 de maio de 2010

nÃoSeI


Não sei se sei caminhar pelo fogo do vento.
Que de tantos passos me morrem as mãos.
Uma dor, uma curva, um tormento.
Sempre e sempre às voltas por mim, sem cessar.
Não sei se sei caminhar...
.
Não sei se sei da embriaguez das saudades.
Que de tantos gritos feitos lágrimas me dói a pele quente.
Um toque, um sonho, um desassossegar este em que ardes.
Sempre e sempre a cada verso que se desfez.
Não sei se sei da embriaguez...
.
Não sei se sei deste tremor por entre as margens de mim.
Que de tantos silêncios o meu corpo se revolta.
Um salto, uma flor, quem sabe um jardim.
Sempre e sempre por dentro mesmo quando cai.
Não sei se sei deste tremor, se fica ou se vai...

5 de maio de 2010

DeTaNt0TeTeR

Trago uma flor no peito tão grande que os meus olhos são um jardim.
Por isso, viver é um tempo que não tem fim!
Trago uma maré no sangue tão grande que o meu canto é o mar.
Por isso, viver é um tempo de tudo recomeçar!
Trago uma corrente na voz tão grande que a minha pele é um rio.
Por isso, viver é estar em permanente arrepio!
Trago tudo e mais tudo e mais ainda porque chegaste à minha vida.
Por isso, filha minha: que continues igual a ti - MARGARIDA!

4 de maio de 2010

qUeAtErRa

Que a terra te devolva as suas cores
Dos olhares profundos no teu corpo tão bonito!
Espelhos de sangue, vida e amores
Perdidos no maior silêncio do teu grito.
Que a terra te devolva as suas paisagens
Pinceladas tatuadas nas horas que passam...
Furiosamente os rios escorrem pelas margens
As suas epopeias que nos trespassam.
Que a terra te devolva o sol e a lua
O suor com que choras ainda
Porque, meu irmão, esta sorte não é a tua
Que da terra a sorte não pode estar finda!

2 de maio de 2010

rEnAsCeR


Existe um caminho que me leva até ti. Feito de pedras quentes e fortes. Marcado de histórias e secretos amantes. Existe um caminho no tempo, onde o vento adormece. Existe um passo no peito que me acolhe na solidão. Feito de lágrimas e poesia. Levado nas correntes que a lagoa nunca esquece. Existe um rosto nos meus olhos. Feito de cores e céu. Fundo, tão fundo corpo vagabundo pelas avenidas do mundo! Existe um sorriso que me espera. Que da morte já levo mais que o sangue e a tremideira. Por isso, ó almas que choram, largai o Outono e criai a Primavera!

1 de maio de 2010

tEsTaMeNt0


Restam-me as flores do caminho para te acompanhar
Um poema cantado de mansinho só para te ver chegar
Abrigado ninho que nunca se consegue calar
Sei que vou morrer sozinho, mas que seja em frente ao mar!

Restam-me as lágrimas de linho do teu manto de aconchegar
O ventre fecundo de dor e carinho com que me faço trovejar
Grito em chaga, rosa e espinho de aroma a pele de desejar
Sei que vou morrer sozinho, mas que seja em frente ao mar!

Restam-me os passos banhados a vinho de tanto se tragar

A saudade feita moinho de cada vez que o silêncio se faz ecoar
A viagem vagabunda em desalinho sem rumo a soar
Sei que vou morrer sozinho, mas que seja em frente ao mar!

Resta-me um dia apenas um pelourinho e chorar
O tempo em que escrevinho a ficar a ficar a ficar...
Eterno mel e pergaminho, em fuga de nunca se escapar
Sei que vou morrer sozinho, mas que seja em frente ao mar!


Ainda não sei viver sem ti.


oTeMp0

O tempo que passa Leva uma flor ao vento Que se faz poesia e raça Fonte, porta e lamento Curva-se o peregrino Sem ter medo da desgra...