30 de novembro de 2006

PeLe

Desta pele o momento de serDa nossa pele a vontadeDa tua pele o entardecerQue do tacto brota a verdade

Da pele dele, da pele delaSer o olho que vê a mão que agarraSaio de casa pela janelaViajo com botas e samarraMinha dor não tem aguarelaMeu poema é flor sem jarra

Da pele que se vê à pele que se senteVai o clique do desligarAqui talvez se sinta o que se menteMas sem nunca o amarrar


A propósito de outras palavras. Lindas! Em http://equivastus.blogspot.com/

29 de novembro de 2006

DeSeSpEr0


Desesperado entrou em si e chorou... Vasculhou os beijos perdidos; tentou sentir


se ainda havia calor nos abraços; cantarolou uma melodia para acordar os


sonhos; deixou-se despido na espera de algo. Mas nada aconteceu. Foi então


que ela o viu e lhe disse: "Não te mexas." Tirou-lhe uma fotografia e mostrou-a


ao mundo. Aí ele levantou os olhos e viu-se. Sorriu. Porque as marcas dos


beijos ainda estavam lá; porque o corpo ainda corava do calor dos abraços;


porque os seus olhos brilhando de lágrimas dançavam os sonhos de voltar a


acreditar. "Obrigado." Ter-lhe-á dito, baixinho. Beijou-a; abraçou-a e cantou-lhe


uma cantiga pequenina. Depois continuou a viver.

a filha cegA

Era uma vez um rei que tinha uma filha cega. O rei gostava muito da filha e mostrava-lhe o mundo pelas mãos, pelos sons, pelos cheiros. E mostrava-lhe tudo – pinhas, brinquedos, instrumentos...

Mostrava-lhe tantas coisas que um dia, quando já tinha idade para casar (como todas as princesas dos contos), ela disse-lhe:

- Meu pai. Já podes morrer descansado porque já conheço o mundo e estou pronta para casar.
- Mas minha filha... Ainda não tens o teu príncipe.
- Pois não, pai... Estive ocupada a conhecer o mundo.

Nesse momento o rei morreu e a princesa pôde finalmente procurar alguma coisa.

Am0r

S ó o a m o r s a b e o q u e é

S ó a s a u d a d e e a d o r a c o n c h e g a

Que nem sempre o amor sabe quando é
Que a vida se desfaz e desassossega
Porque o amor deve ser dito
Mesmo quando for interdito
Ou quando estiver zangado
Mesmo quando adormecer em paz
Ou andar muito calado
O amor só é amor quando se faz
Quando se incomoda, quando se diz
O amor só existe na raiz
De cada palavra, cada gesto, lembrança...
O amor é sempre criança
Por isso não pensa...
E isso é que é tão bom!

28 de novembro de 2006

DáS-mE

.
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Dás-me a Lua e eu não te posso dar o Sol
Pedes calor e eu mostro-te a mim
Perco-me nas noites sem rosto, sem farol
Onde o mar é enorme, sem fim
.
Dás-me a Lua e eu fecho a alma
Pedes-me tudo e eu fico sem calma
Perco-me sempre fraco, sempre assim
Por me dares a Lua só p´ra mim
.
.

26 de novembro de 2006

PeRt0 dE mIm

Perto de mim encontro-te despida
No poema de mais uma descoberta...
Porque me dás a despedida
Se todas as horas são incertas?

Perto de mim visto-te de linho
Que o meu canto não tem hora...
Porque me olhas mansinho
E me pedes para ir embora?

Perto de mim chamo-te AMOR
Em momentos de tudo querer...
Porque foges na minha dor
Se tão longe é morrer?

25 de novembro de 2006

Ac0rDaR


Cai uma gota no meu regaço
Pára, escorrega e descansa
Enche-me o colo, por entre o seu cansaço
Sem eu saber, perdi a esperança

Recolho ao meu jardim de segredos
Paro, escorrego e deixo-me adormecer
Percorro cada pétala, por entre os nós dos dedos
Procuro a liberdade de tudo acontecer

Sonho comigo, sentado neste lugar
Exactamente nesta mesma posição
Chamo-te baixinho, por entre a força do meu cantar
Sem mágoas, sem dores, mas com paixão

Aqui estou, sentado e a sorrir
Sei que tudo é aqui é nosso e belo
Canto, canto, canto, por entre a fome de resistir
Permaneço em guerra em paz e sem castelo

Se queres terás tudo, as minhas palavras já nossas
Que sou livre nesta prisão de ser eu
Que tenho mundos de recados, por entre beijos e mossas
Como se o que existe tivesse sempre sido teu

Poderemos perder-nos este voo? Nada flui sem rio nem montanha...

22 de novembro de 2006

ViDa

Quando o sol nos aquece, logo pela manhã, e a luz nos vai acordando de mais uma noite passada à procura do segredo
Quando os carros da cidade se vão amontoando, com pressa… sem pressa, e nós vamos abrindo os olhos por entre cada vertigem do nosso medo
Quando a Grândola nos dá força, nos eleva os amores de sempre e de amanhã, na simples verdade de existir em desassossego
Quando se respira paisagem paisagem paisagem paisagem paisagem, no de cada verso que ficou por cantar, mesmo que seja o cruel vergar da impotência
Quando as sombras se confundem, as fotografias se pincelam por entre as memórias das novas descobertas…
Quando se diz “bom dia”, “cá estou novamente” ou “amo-te”, por entre as correntezas da pura água de lavar…
Quando existo em ti
Quando resisto…
Quando isto… quando aquilo…
Quando acontece tudo recomeça no ponto do renascer e é lindo ter-te, vida minha.
Nas palavras que nos unem!

21 de novembro de 2006

eU

Busco a solidão para te encontrar
Entre as palavras das noites de me perder
Poiso o meu regaço no teu respirar
De tanto seres para mim sem eu saber...

Busco esta procura sem estar à espera
Das palavras mágicas de tudo acontecer
No colo doce de mais uma Primavera
Sou a andorinha que chega e eu sem saber...

Busco o nada buscar nesta procura
Palavras minhas, tuas... sei lá de quem!
Adormeço cansado em cada noite escura
Onde mais uma vez sem saber eu fui alguém....

Poeta à solta? Outra vez vagabundo
Sonhos de vida sempre em vão
Valerá a pena criar de novo o mundo
Se tudo é viagem e
solidão?

19 de novembro de 2006

PoBrE h0mEm


Pobre Homem que não sabe desenhar...
Que inventa as linhas dos outros à sua vontade...
Porque não pensas, simplesmente, em cantar
Em vez de te preocupares com a verdade?

Pobre Homem que não quer desenhar...
Que se distrai assim, julgando-se eterno...
Porque não pegas no lápis sem corar
E não inventas um outro inferno?

Pobre Homem que não pode desenhar...
Que inventa a vida de olhos fechados
Porque não desaguas sem nunca chegar
No espelho dos teus sonhos e dos teus fados?

Pobre Homem... desenha solto e não fales!
Que o silêncio é a sinfonia do olhar
Que tudo o que é azul e males
Se refaz nas linhas de cada desenhar...

18 de novembro de 2006

DaSpAlAvRaSqUeNoSuNeM

Por cá me vou encontrando
Nas palavras de nos unir
Do sonho que temos a nosso mando
Só mesmo verso, amor e porvir
Para nos deixar viver mais um pouco
Que de tanto gritar me sinto rouco
Que de tanto cantar me deixo louco
Que de tanto existir vou caindo mouco...

Por cá nos vamos tendo
Das palavras de andar à deriva
Na procura de nós, na tortura de ir sendo
Versos simplesmente de dor cativa
Só mesmo agora o tempo se enterra
Só mesmo na hora de tudo que encerra
No céu, no mar e na terra
No vento da paz, no fogo da guerra...

oTeMp0

O tempo que passa Leva uma flor ao vento Que se faz poesia e raça Fonte, porta e lamento Curva-se o peregrino Sem ter medo da desgra...