29 de março de 2007

oLhAr

Saberei eu da mentira? Da viagem dos tristes? Saberei eu do vento fresco na cara dos sonhadores? Das ondas bailantes dos amantes? Das palavras que nos correm no peito? Do desejo? Saberei eu da inquietação da terra molhada de lágrimas e suor? Do vaguear dos olhos penentrantes? Saberei eu da crueldade que nos invade a alma? A ponteaguda espada moribunda? Saberei eu de mim? E tu? Saberás de ti?


_______________

Vou ausentar-me uns tempos.
Mas levo o olhar, a voz e a pele.
Para depois voltar e sentir que a saudade valeu a pena.
Talvez hoje.
Talvez amanhã.
Talvez...

28 de março de 2007

SeRm0s

Não sei da onda que te cobre
Nem do desejo de te cobrir
Talvez apenas uma palavra sobre
Quando nada mais se faça sentir...
...............................................................
Não sei do mar que te quer
Nem do vento que te desenha
Talvez um perfume de mulher
A chamar-me para que venha...
..................................................
Não sei de ti, finalmente
Nem se um dia teu cheiro me cobrirá
Talvez uma inquietação dormente
Ou apenas uma noite que não há...
............................
Não sei, ou talvez saiba
Que tudo são marés de dentro de nós
Onde cabemos ou quem sabe ninguém caiba
No comando à procura da nossa voz...

0uTrAvEzTu

Quando te cantar de novo e as nuvens sentirão o calor da minha voz...
Quando cada onda fizer ecoar na praia o teu sorriso...
Quando as cores e os aromas dos teus olhos sorrir para mim...
Quando das tuas lágrimas de paixão nascerem fontes e rios...
Quando a terra cheirar a desejo de cada vez que chover...

Quando o Homem souber que as tuas palavras valem o mundo inteiro...

27 de março de 2007

sEmDeStIn0

O meu olhar recusa-te a magia das palavras. Aprisiono-te os dedos para nunca me amares. Rasgo-te as folhas em branco. Invento mil e uma tarefas, tão cheias que nem te lembres de mim. Vasculho as tuas canetas e roubo-lhes as tintas. Inverto as legendas da televisão e risco os livros de negro. Escondo tudo o que seja transparente. Apago as memórias e as canções. Corto a electricidade. Fecho a porta à chave para que possas fugir de mim para sempre. Ao ter-me preso. Só assim os espelhos se partirão.

ZiGuEzAgUe

Sim. Eu não sou nada. Uma migalha apenas, talvez. Perdida no infinito de um deserto mais-que-grande. Onde até os sons se misturam neste nada-ser em tudo-querer. Na eterna vida de reparações à míngua pelos trilhos dos amantes. À deriva pelas almas...

26 de março de 2007

iGn0rÂnCiA

Sei que não sou praia e que tu nunca serás a onda que me beija o corpo.
Sei que não sou vento e que tu nunca serás a nuvem que me cobrirá de branco e algodão.
Sei que não sou cidade e que tu nunca serás o tempo que me construirá mais um bairro.
Sei que não sou flor e que tu nunca serás a cor que me pintará os aromas.
Sei que não sou terra e que tu nunca serás a água de me penetrar a alma e me fazer fecunda.
Sei que não sou verso e que tu nunca serás a palavra que me levará para longe.
Sei que existo. E que existes. Apenas.

25 de março de 2007

CaRtA

Um dia sei que escreveste. Porque a ausência foi mais forte e as palavras corriam-te das mãos. Para desaguar longe. Talvez em mim. Talvez em ti. Um dia sei que escreveste e nunca foi demais. Afinal, eram apenas linhas de dizer os olhares, as lágrimas, as guitarras... Afinal, tudo ficava mais ou menos na mesma. Eu aqui. Tu aí. Desse lado, que do outro lado de mim me refaço a cada distância que se encurta... que do outro lado de mim existe sempre uma carta. Para mandar.

TeRnUrAd0sTeMp0s


Debruçada na janela que dá para a rua a menina esperava a passagem da sua avó. Sabia que os seus passos não estavam longe. Era hora do almoço... E a sua avó nunca falhava uma refeição. Deixou-se quieta, não fosse ela assustar-se e já não achar graça à surpresa. Sim, a surpresa. Hoje decidira apanhá-la de repente e, antes que lhe dissesse seja o que for, dar-lhe um beijo doce nas rugas da cara. Nada melhor para colorir as rugas dos tempos do que o sabor fresco da infância!

24 de março de 2007

ExPl0sÃo


Perguntem-me porque escrevo e partirei! Arrumo os dedos. Fecho a alma. Afago as lágrimas. Levanto, finalmente, a cabeça. E vou. Seguirei um caminho qualquer. Onde não haja perguntas. Nem respostas. Onde não hajas tu. Nem eu. Porque escrever é ter-nos sempre.

23 de março de 2007

PeRtEnÇa

O que sou eu no meio das palavras todas? Qual o peso do meu corpo no caos das correntes do mundo? Quantas vezes mais minúsculo que o mais minúsculo? Caberei num verso? Num sonho? Saberei a cor da minha voz ao acordar? Os contornos dos corpos amantes? O que sou eu, afinal? Que das perguntas se arrastam as tempestades e nas respostas como ondas nada desagua. Só a espuma de todos os dias numa praia feita de nós...

22 de março de 2007

c0nTaCt0


Entro e saio como quem respira. Porque as palavras pinto-as a cada passagem. Cada porta aberta. Mesmo as fechadas que abro ao pontapé. Até as que não existem que invento. Entro e saio sem pedir licença. Porque sei que do outro lado da tua porta está a entrada!

21 de março de 2007

fRaCaSs0

Só. Simplesmente só à tua espera
Quieto. Alegremente quieto no nevoeiro
Lágrima. Apenas uma na luz da Primavera
Das ausências do tempo inteiro...
.
Calado. Raivosamente calado no cimo do monte
Quente. Ardentemente quente por não te ver
Rio. Que se desfaz no horizonte
Onde a corrente se deixa perder...
.
Canto. Moribundantemente canto aos trilhos da vida
Abandono-me. Obviamente que me abandono dentro de mim
Fico. Penetrantemente fico sem saber a saída
De tanta flor que nunca deu jardim...

ExCePçÃo

Não me dês só hoje, que de ti, POESIA, existo todos os dias!

20 de março de 2007

sE...

Se um dia eu pousasse em ti
Talvez de pássaro me visse o rosto
Quem sabe gaivota ou colibri
Ou simplesmente um beijo com o teu gosto...

Se um dia voltasse de mim
Talvez vulcão na ternura de uma janela
Quem sabe flor, aroma de jasmim
Ou simplesmente vento de aguarela...

Se um dia fosses tu
Talvez andaime, em procissão de nós
Quem sabe um templo de granito e bambu
Para que nunca nos sentíssemos de novo sós

dEvEz

Não páres. Não! Não te deixes adormecer nas palavras por dizer. Na ternura por colorir. Nas raivas por fotografar... Não páres. Que eu sem ti amputo-me nos desassossegos da descoberta. Que eu aqui neste lar doce ti me conforto no teu olhar. Que eu penetro nas paredes atrás de cada cortina para desaguar em todas as janELAs. Não páres. Por favor. Volta em vez de ir. Torna em vez de recomeçar. Encontra em vez de descobrir. Não páres!
Ou então deixa-te quieta. No meu peito. Para que te guarde para sempre. Como para sempre são as eternidades do querer. Para sempre. Inquieta-me outra vez. Ao entrar de novo na minha casa e me piscar o olho. Matreiro. Aí saberei que parar não é para ti. Nem para mim. Para já...

19 de março de 2007

fLoReStA

A minha voz será sempre a minha revolta, a minha paixão. Em torno do vento que a leva de um lado para o outro. Quente. Sempre quente. A minha voz consome-me todos os dias e nunca desagua sem voltar a nascer. Emana de mim como um polvo à caça. Protege-me dos vírus do mundo. Onde o amor se fere sem sequer ter tempo de gritar. Porque a minha voz é fúria também. Porque a minha voz é um enorme vaivém cheio de luz de atormentar as noites; de sossegar as inquietações. A minha voz existe. Em cada tronco da floresta que me cobre!

c0nStRuÇã0

Debaixo dos meus pés a minha alma nasce. Como também debaixo dos meus pés se alastra o meu grito pela terra dentro. E debaixo de mim sangro-me de tanta ausência, carinho ou lamento. Que debaixo de mim respiro fundo na inquietação de existir. Debaixo da minha alma cada palavra renasce no trilho da sua maré. E debaixo da minha alma aconteço todos os dias. Debaixo. Por baixo. Em baixo.

18 de março de 2007

pErTeNcEr

Em cada grito ou maré,
Trilho ou labirinto
Existe alguém que sempre é
Mais ou menos parecido com o que sinto


Em cada palavra ou corrente,
Silêncio ou madrugada
Existe alguém que sempre mente
Mais ou menos para te levar na sua escada


Em cada olhar ou desejo,
Vómito ou arrepio,
Existe alguém para te dar um beijo
Mais ou menos da cor do teu rio


Em cada mistério ou cegueira,
Porta ou rubi,
Existe alguém que à sua maneira
Me diga a mim o que te diz a ti

17 de março de 2007

16 de março de 2007

cErCo

Prendeste-me no teu palácio, cercado nesse jardim de mistérios e contos de fadas. Onde o nevoeiro nos embrulha os medos por entre os poros arrepiados da pele. Onde o sol nos alimenta os aromas e os labirintos do amor. Em passeio. Por entre os sucalcos das passagens. Atrás das copas das árvores do tempo. Onde nos deitamos. No sono da vida. Sem demoras. Que pela madrugada nos vamos encontrando de cada vez que nos espreitamos.

15 de março de 2007

dEsEj0


Bebeste-me da pele todo o meu sangue quente. As minhas lágrimas. Os sorrisos do poente.


Colheste-me do olhar toda a minha alma ardente. Os meus passos. Os gritos do passado-presente.


Envolveste-me de mim todo o meu sabor corrente. As minhas noites. Os negros de te ver tão ausente.


Por tudo de me ter assim intermitente te digo que não quero ser prudente e desejo-te mais uma vez serpente.


No teu ir e vir meio dormente...


14 de março de 2007

pAsSoS

Nas minhas mãos cabe-me o mundo. Em cada palavra que te lanço na linha turva dos trilhos. No baloiçar dos tempos. Na plenitude das memórias. Quem és tu? Qual a força dos teus olhos? Sabes a quê? Pergunto-me vezes sem conta (quem sabe demais) por onde andarei.

dIsCuRs0

Nada sei da idade das palavras. Muito menos se ganham rugas ou acne. Talvez tenham de vez em quando lágrimas inocentes ou dentes de leite. Francamente nada sei da sua idade. As palavras vão passando por nós, como um eterno rio, de lá para cá e de cá para lá, renovando-se ou esgotando-se. Renovando-me ou esgotando-me. Nos gritos. Nos silêncios. Nas ausências. Desconhecidas. De ti.

13 de março de 2007

p0nTe

Sabes bem que do outro lado existe o rio na mesma. Com os seus lodos e flores. Deambulantemente. Como deste lado. Onde estás. A ver. Sempre a ver. E nos teus olhos eu entro todos os dias. Porque esses não têm margens. São o leito que um dia há-de desaguar em mim.

12 de março de 2007

cAmInHo


Deixa-te ficar. Gosto de te ver. Sem ti. Em mim. Aqui. Sem pressa. Desprendida. Pousada no mundo e em nós como se de um leito se tratasse. Um leito onde o amor se refaz a cada abraço. Um leito que corre para dentro. Sem pressa. Aqui. Em ti. Pelo quarto que nos acolhe com a sua luz de espelhos e aromas. Onde baloiçamos cada olhar à procura. Claro que vamos. Para nunca chegar. Vamos, sim. Seguramente. Até porque já tínhamos ido...


dEc0sTaS

Perco-me nas palavras todas. TODAS.
Ou quase todas...
Porque as palavras têm esse condão de me encontrar.
Praticamente.
E deste lugar dos meus silêncios escolher as minhas esperas.
Ou quase todas...
Para depois desassossegar o meu corpo e o teu.
Praticamente...
Quem sabe nas fogueiras todas da paixão.
Ou quase todas...
Para de novo sermos ninguém e nós próprios.
Praticamente...
Sim. Porque nunca me chamaste as horas.
Ou quase todas...
Praticamente. Fico. À espera...

SePiAmEnTe

O que somos hoje, meu amor? Perdidos no manto da nossa teia. Da nossa construída teia de cores e aromas. Onde o tempo nos fez reféns. Para de novo nos procurarmos por dentro. Por dentro dos cansaços. Dos silêncios gritados em lágrimas de fazer rios. Dos gritos que se baloiçam pelo nosso corpo e o adormecem. Das palavras à solta. Perigosamente. Terrivelmente mortais. Como só as palavras podem ser...

11 de março de 2007

(dEs)EsPeRo-Te

O tempo acumulado dentro de nós. As feridas a transparecerem. O fardo a pesar mais que o amor. O olhar que já não vê. O corpo que desiste. O cheiro que detesta. A maldita temperatura do dia-a-dia...
Não me esperes.
Vem.

eNc0sTa

Quem me disse que eu era onda?
Enganei-me. Sempre corrente entre as margens...
Que na foz não há nada que se esconda
Tudo é fecundo e passagens.

Quem me disse que eu era mar?
Àgua em marés loucas de ir e vir...
Que de mim apenas a palavra de esperar
Que um dia saberá como me possuir.
.
Não digas mais quem sou ou quem serei.
Não procures. Deixa-te ficar à espera...
Que talvez assim respire o que em mim sei
Ser EU mesmo. Depois de tudo o que era.

10 de março de 2007

CoNtEmPlAçÃo


Roças-me a alma e eu estremeço. Porque da fragilidade de todos os tempos e de todos os amores as correntes despejam-se em margens perdidas e fracas. Quanto tempo dura uma palavra? Quanto tempo demora uma cor? Quantos sonhos se pintam num perfume? Diz-me outra vez. Eu, que me deixo roçar o tempo todo.

E por isso não consigo ver...

OlHaRs0lTo

A cada vertigem que me dás acendo mais uma vela nos meus sonhos. A vida encanta-me na madrugada. Onde não estás, mesmo assim. Deambulantemente vagabundo percorro-te pelo leito que um dia desaguará por aí. Onde calhar. Porque em cada foz encontramos uma nascente...

9 de março de 2007

PrEs0aTi

Os meus passos afastam-me de mim. Do desejo de mim. De ti. Do desejo de ti. Encontro o tempo num encontro não marcado e quem sabe fora de tempo. Não há respostas. São as palavras que ficam no seu tempo. No seu desejo. No seu (des)encontro. Talvez quando houver tempo tudo seja diferente...

DiZ-mE

Diz-me do medo que trago no corpo e dos silêncios dos passos.

Diz-me das palavras lançadas ou gastas em mim e da cor do olhar.

Diz-me do tempo que nos separa, das distâncias do trilho.

Diz-me do retrato e da iluminura.Diz-me da verdade. Da mentira.

Do desejo. Penetrantemente à solta em mim.

Na corrente das marés. No aroma da espuma.

Que o meu passado beliscou-me. E eu deixei-me quieto...

SeMáFoRo

Percorro o trilho paralelo às ondas. Para agarrar a vontade de te chegar. No ir e vir da maré. Que me anda a passar ao lado...

8 de março de 2007

PoD(b)rE

Na minha dor sabes deitar o teu abraço. Na penumbra do eterno cansaço...
Na minha cama sabes desejar-me só e inteiro. A cada palavra de cativeiro...
Na minha alma sabes entrar com pé de dança. No trilho de uma lembrança...
Nos meus olhos sabes molhar-me em aguarela. No fecho da nossa janela.

0t0qUeDoSaMaNtEs

Aninhado na porta da entrada, deixou-se ficar. Sem saber se esperava ou se existia... A noite não o acompanhava nem se ouviam as palavras de amor dos amantes. A Lua, quieta, moribunda. Sentiu o passado a roçar-lhe o corpo e a pele. Nada disso interessava. Pedia presente. Aquele presente de te ter a seu lado. De o levantar por um braço e com apenas um sorriso lhe dizer tudo. Hoje...

7 de março de 2007

CaNtIgA


Diz-me do medo que trago no corpo e dos silêncios dos passos.
Diz-me das palavras lançadas ou gastas em mim e da cor do olhar.
Diz-me do tempo que nos separa, das distâncias do trilho.
Diz-me do retrato e da iluminura.
Diz-me da verdade. Da mentira.
Do desejo. Penetrantemente à solta em mim.
Na corrente das marés. No aroma da espuma.
Que o meu passado beliscou-me. E eu deixei-me quieto...

nÓs

Era o adormecer do sol. Junto à praia. Que se deixava deserta. Discreta. O vento pousava-nos por entre os dedos de mãos que se amavam. As ondas cobriam o grande manto de areia à nossa espera. O frio era o nosso calor desejado. Ideal. Numa única dimensão. A nossa. Não a minha. Nem a tua. Mas a nossa. Que só assim me faz sentido ter-te.

6 de março de 2007

AcAsAd0aVô

Procurei-te no meu corpo junto ao soalho do postigo. No armário apenas um conjunto de roupas do avô. No baú ainda os projectos das nossas brincadeiras das tardes sem aulas. Hoje nada disso te interessa porque sabes que naquela casa nunca foste. Eu fui. Quando tu chegaste tinhas sido ultrapassada pelas memórias. Do soalho do postigo. Do armário. Do baú. Porque as memórias atrapalham sempre as procuras do corpo...

Deixei-me então estar sem te ter encontrado. Perdido na certeza dos silêncios. Feliz. Afinal, não pertences a este lugar. Mesmo que me pertenças...



hIsTóRiA


Foi no escaldão da entrega que te quis.

Perdida na noite.

Nas memórias.

Na eterna paixão.

Partimos os dois por aí, sem destino...

Para aterrarmos em nós.

Um dia.

sEnTiNeLa

Construi um castelo enquanto dormias. Ergui a mais segura torre. Em azul pintada. Da cor das janelas. Pintei um jardim de danças e aromas. Em branco de todas as cores. Não armei a guarda à porta. Porque no meu (teu) castelo não há inimigos.


Não adormeço. Para te poder dizer AMO-TE!

5 de março de 2007

EsPeRo-Te

Espero. Penetro nas memórias do impossível; do desejo. Vagueio pelas letras de um alfabeto de escrever amor e dor. Respiro um ar de asfixiar-me o corpo e de me prender as mãos. Percorro um trilho de cores e aromas perto das margens; de mais; de pelo menos. Grito os silêncios das distâncias e as revoltas das marés. Turvo-me a cada passagem de ti. Que em mim trovejas.

IrEvIr

Todos os dias nos matamos mais um bocadinho. Na espera da resposta. Na alegoria da pergunta. Na inquietação dos olhares. Todos os dias. As noites. Cada minuto nos consome em direcção a uma existência mais longa. Cada morte é um parto em nós. Para de novo podermos mergulhar nas marés das paixões. Para conseguir, quem sabe, sorrir ao sol pela manhã. Para que as palavras nos sirvam de vassoura mágica. Em direcção a nós. Aos outros. A ti. Assim, talvez te solte os cabelos...

4 de março de 2007

AmAnHã

A noite não perdoa e as estrelas não pedem licença. Fez-se e desfez-se tão depressa que nem reparou que ainda estava meio despido com um cheiro de expulsão. Desejou a água limpa e fresca de um duche e nada mais. Depois um bom copo de leite frio e nada mais. A seguir uma janela aberta à luz e nada mais. Nada mais que o momento seguinte. Não mais desejara outra coisa que a possível simplicidade dos momentos que passam distraídos. Pobres... Afinal, os mais sumosos. Os que não nos enganam. Os que nos preparam para a solidão. E finalmente para amar de novo...

AmPuTaÇã0


O teu corpo basta-me quando o mundo anda de costas voltadas em gritos. Porque não há frutos nas distâncias. Mas há sombras nos encontros.

3 de março de 2007

ReGrEsSa-Me

Nada na noite fazia história. A Lua passava despercebida... nem uma luz que dançasse ou uma escuridão que aquecesse. A janela aberta do quarto sobre a cama em maré cheia deixava que o vento levasse nos lençóis o perfume do desejo. Sentado no chão, a cara escondida no corpo fetal. Lágrimas por nascer num rio que corre por dentro. A porta fechada. Tudo parecia estar no fim. Permaneceu perdido. Desejou-se esquecido. O mundo morrera. Foi aí que se atirou ao olhar possuidor dela. "Só tu para me regressares..."

ChEiRo


Não sou uma árvore para me cortares assim com o teu serrote. Sou uma flor, para te cobrir o corpo de cores.

2 de março de 2007

sUsTeNtAçÃo

Pronto me escrevo por entre a escuridão
____________A de existires. A de permaneceres.
A de sim. De talvez. De não.
.
.
Pronto me dispo perante tamanha fome, tamanha ilusão.
____________A de seres. A de ficares.
A de sim. De talvez. De não.
.
.
Pronto me despeço sem dizer adeus voltando sempre à maior maré tufão.
____________A de ti. A de nós.
A de sim. De talvez. De não.
.

.
Pronto sou assim. Um pequeno nada de vida em vão.
____________Eu. Ninguém.
Sim. Talvez. Não.

eViDêNcIa

Nunca quis que as minhas lágrimas inundassem seja o que for. Acreditei sempre que ficariam a pairar, talvez dançando, pelo infinito, até aterrarem numa qualquer poeira que as levaria para fora da minha casa. Enganei-me. As minhas lágrimas - como todas, aliás - desaguam sempre em nós. A sua mais improvável e destinada foz. Por isso, de cada vez que choro, sei que uma maré enche a praia.

ToQuE


"As tuas mãos parecem um segredo quando me tocam." E eu deixo-me ficar solto. Ao vento. Ao mar. Que das marés envolvo-me em ti. Que dos sopros nos fazemos calor. Nada deixo aprisionado fora de mim sempre que me tocas. Porque tudo é nós. No embalo de todas as memórias.

1 de março de 2007

dAqUi

Daqui me custa tanto chorar
Saber-te desse lado sem te poder olhar
Onde tudo é feito de imagens e marés
Nas voltas de tudo o que numa onda és...

Daqui te oiço como quem respira
Penetro-te entre o desejo e a ira
Onde tudo é leve e nada
Nas voltas do anoitecer de cada madrugada...

Daqui me deixo perdido e sereno
Tendo-te a meu lado e eu tão pequeno
Onde tudo é dor, amor e sabe-se lá o quê
Porque de tudo isto, daqui só fica o que se não vê


Aos meus leitores daqui

oTeMp0

O tempo que passa Leva uma flor ao vento Que se faz poesia e raça Fonte, porta e lamento Curva-se o peregrino Sem ter medo da desgra...