Lembro-te um grito. Um sorriso apenas. Desses que se dão e nunca se repetem. Lembro-te como se faz amor na pele da amizade. Lembro-te os dias a passar e o tempo que temos. Lembro-te o copo cheio e o copo vazio depois de nós. Lembro-te o teu olhar doce de ser manto meu. Lembro-te como se dança; pode ser na praceta ou no labirinto da noite. Lembro-te a tua voz de luta. Lembro-te a descoberta. Lembro-te a morte também; os partos... Lembro-te cada lágrima nesta corrente. Lembro-te o meu nome (para que não esqueças). Lembro-te o toque do acorde preciso em verde. Lembro-te o adeus e Ary. Lembro-te cada verso novo ou velho ou repetido. Lembro-te o vento; ai, o vento! Lembro-te as mãos de escavar a ternura como se fosse terra. Lembro-te a estrada e a falésia e a curva e a paragem e o precipício e a pedra e o pó do caminho e a chuva e as cores. Lembro-te o silêncio da respiração. Lembro-te os carris da fuga. Lembro-te o monte e as fontes. Lembro-te o canto em tons de medo. Lembro-te que estás. Lembro-te Paris na magia de todos os momentos. Lembro-te a queda e a vertigem. Lembro-te as rugas das nossas memórias. Lembro-te o sossego e a inquietação. Lembro-te as letras. Lembro-te o cheiro de cada flor ou pedaço de nuvem. Lembro-te a embriaguez das vozes e dos abraços. Lembro-te as fotografias ou os livros. Lembro-te a família que passa. Lembro-te o riso estridente; o desejo calado. Lembro-te o nome das ruas; das velhas e das novas. Lembro-te as roupas; os sapatos. Lembro-te a saudade; pode ser boa. Lembro-te a parede branca ou o telhado quente. Lembro-te a ausência. Lembro-te a descoberta; as veias do sangue rio de outras fecundações. Lembro-te o mistério. Lembro-te as histórias de encantar ou malandrices de meninos panteras e outros que tais. Lembro-te sempre. Lembro-te a voz; talvez o mar dentro do peito. Lembro-te a silhueta na estação em chaga suicida. Lembro-te a arca dos segredos. Lembro-te o adro da Igreja. Lembro-te o orgulho. Lembro-te a Lua; Sol e Lua... Lembro-te o corpo do pintor. Lembro-te o rasgão do poeta. Lembro-te a surpresa do Músico. Lembro-te o cozinheiro. Lembro-te textos e textos e textos e textos tão teus e meus; projectos e Berlengas e tudo o resto. Lembro-te o murro na liberdade. Lembro-te a marcha na Avenida de olhos postos numa raiva cada vez mais fechada. Lembro-te que Abril abriu portas? Lembro-te o cravo a três cantos e nove passagens. Lembro-te o Bem Querer ou Oceano de ninar. Lembro-te a página em branco e o pincel. Lembro-te o tic-tac do coração. Lembro-te que tudo não é esquecimento; que esquecer é perder; e perder é não ser; e não ser é deixar de estar; e deixar de estar é apagar; e apagar é recomeçar; e recomeçar é lembrar.... Por isso, meus amigos, NUNCA SAIAM DE MIM!
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Já agora, lembro o que desejei faz hoje precisamente 1 ano:
Sejam felizes: os meus votos para 2009
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Pintado com as cores do tempo nos momentos onde a saudade mais nos cobre... Caído sobre os pântanos dos pensamentos que nos acolhem mesmo quando não os desejamos... Rasgado de todo o sangue que das veias nos espera em fogo ardente... Na voz rouca e trémula de um sussurro... No sorriso lindo reflectido numa pequena lágrima de alegria... Na mão que se aproxima do medo... Telas e telas de versos perdidos em mim que se deixam voar por aí... Para aterrarem nos corações solitários... nos humores secos... nos vazios e nos sonhos... Sou eu. Carregador de emoções na ponta dos dedos e no olho que penetra. Que te penetra em segredo. Não digas nada, anónimo. Curva-te perante ti e pergunta: o que tens feito para ser feliz? Deixa que todos os minutos da tua vida te continuem a separar da morte anunciada. Não roubes nem cometas mais nenhum crime. Respira-te. Porque dentro de ti há um plátano centenário que sabe contar histórias...