12 de janeiro de 2010

nÃoMeBaStAsHoJe

Não me bastas hoje. Nem com dedos de mel e poesia.
Não me bastas hoje. Que do corpo quente levo a alma turva, cinzenta e fria.
Não me bastas hoje. Fosses pintura ou apenas um sopro leve.
Não me bastas hoje. Nem véu nem amor de sempre que em mim se escreve.
Não me bastas hoje. O meu peito é uma praia de espuma perdida na areia.
Não me bastas hoje. Qualquer coisa de ramo, qualquer coisa de raiz, qualquer coisa de teia.
Não me bastas hoje. Horas de silêncios na embriaguez da solidão.
Não me bastas hoje. Páginas em branco, de cheiros intensos a água e pão.
Não me bastas hoje. Bruma nos meus olhos, inquietos passos de desespero.
Não me bastas hoje. Sangue de tanto querer os meus versos já passados.
Não me bastas hoje. Amanhã, uma lágrima na onda e na maré que se faz ternura.
Não me bastas hoje. Lançado no chão de um berço ou de uma sepultura.
Não me bastas hoje. Tão forte bate a flor que se perde o jardim.
Não me bastas hoje. De joelhos; chorando na fome de mim.
Não me bastas hoje. Canto mudo, rouco, pouco, forte em suor.
Não me bastas hoje. Que do leito, cobre-se o manto de perfume e dor.
Não me bastas hoje. Risco-me e repito-me e curvo-me e lanço-me em tempestade.
Não me bastas hoje. Porque hoje não sou eu e isso é que é a verdade!

3 comentários:

Maria disse...

É o cinzento dos dias e a humidade no corpo que nos faz ficar assim. O frio que não escolhe e nos encolhe. A distância que de repente fica mais distante ainda, a uma lonjura difícil de chegar. O mar que deixou de ser azul e nestes dias se pinta de castanho. As ondas que se atiram contra nós em vez de rebentarem suavemente... em espuma de mel.
São dias de fome. E de sede.
São noites de silêncio em que nos ouvimos em gritos calados.
São as palavras a rebentarem o peito e a ficarem aprisionadas nos dedos. É o sim e o não sem sabermos porquê.
Respira fundo. Decerto te sentes melhor...
Abro uma garrafa de tinto antigo, deixo-o aquecer até aos 17 graus. Já cheira a pão quente. O doce de abóbora ainda está morno. Falta o requeijão de Seia. E faltas tu.

Abraço-te
(sem ler o que escrevi, e nem sei se faz sentido. Mas isso que importa?)

as velas ardem ate ao fim disse...

Apetecia me juntar a Maria...
bebermos o tinto(levo eu), comer pao quentinho e queijinho ...conversarmos ate nos doer a voz...a ter sermos nós.

um bjo

zmsantos disse...

Belo grito! (sabias que adoro gritos?)

Abraço.

oTeMp0

O tempo que passa Leva uma flor ao vento Que se faz poesia e raça Fonte, porta e lamento Curva-se o peregrino Sem ter medo da desgra...