Gostava de ser um rio. Acho que já o disse num outro tempo. Também não interessa. Os tempos são correntes em nós. Águas que nunca tornam a passar da mesma forma. Mas eu gostava de ser um rio. Daqueles que juntam margens; não dos que separam. Daqueles que aproximam as distâncias; não dos que as fazem esquecer. Daqueles que reflectem a inquietação da terra; não dos que transportam as misérias dos Homens. Daqueles onde os meninos podem tomar banho e mergulhar livremente; não dos que estão cheios de avisos. Daqueles que são lares de famílias e famílias de peixinhos coloridos e que dançam; não dos que apodrecem vazios... Gostava de ser um rio. No tempo exacto da mão dada. Do abraço longo e carinhoso que permanece em nós um tempo infinito. "Para sermos, juntos..." Um rio que soubesse dormir e sonhar. Em que as memórias são doces com que se maquilha. Em que as lágrimas são alegrias e dores de louvar a vida. Em que as cores são telas e janelas abertas aos outros. Às paixões. Aos afectos. Onde conseguíssemos ouvir o eco de todas as canções da nossa história. Todos os poemas da nossa voz. Todos os soluços da nossa dor. O respirar do nosso corpo. Sempre às voltas no tempo de existir ou morrer. Entre o tempo de existir e morrer. Por força do tempo de existir e morrer. Os rios morrem, amor? Pergunta o vento às copas das árvores. Não, meu amigo. Os rios são a fonte interminável dos passos. As estradas de todos nós. O toque do olhar no mundo. Queres ser rio, é? É. Quero ser rio. Qual? O que dos meus olhos nasce e no meu peito desagua... O que de dentro de mim explode de cada vez que a saudade me assalta. O que existe em cada palavra. Tu és rio. Sou? És! Porque dizes isso? Não queiras saber...
23 de janeiro de 2009
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oTeMp0
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10 comentários:
Há quanto tempo conheço as tuas palavras? Não sei.
Há quanto tempo te conheço rio? Há muito.
Mas numa noite especial escreves um texto que (ainda) me comove. Eu, que sei como escreves, ainda me comovo.
Um rio de palavras em explosão de sentires. Na intensidade dos abraços.
Um rio inquieto que serpenteia pelos campos verdes de todas as saudades.
Um rio enorme, que leva uma vida até desaguar no mar. Porque digo isto? Não queiras saber...
Um beijo grande, Pedro.
Já te disse que gosto de ti?
Uma maravilha de um rio que eu também queria ser!! Este rio mesmo. Beijos.
... gosto das tuas palavras que fazem o mar ansear pela tua chegada. Não seremos todos rios? Bj
Adorei este texto. Está fabuloso, Pedro. Gosto geralmente das tuas palavras, mas estas t~em um não sei quê que me comoveu mais do que habitualmente.
Tu és um rio, sem dúvida, dos bons, dos de palavras...
Um beijo grande e ronronado.
P.S. Ainda não tenho o teu livro!!!!!
um rio de vida. de força. de beleza. beijos
"um rio que soubesse dormir e sonhar..."
és um rio lindo Pedro. Nunca deixes de o ser.
é a tal tranquilidade por fora e toda aquela inquietude por dentro.
(agora um á parte deverias dedicar-te mais a este teu lado... que tal outro livro... é que não é por gostar de ti, mas escreves de uma forma muito diferente, muito especial...)
beijos meus
Gosto muito de te ler, sempre!
Hoje, talvez pelas marcas da vida, achei que as tuas palavras eram sentidas como que um hino.
Beijitos
Pedro,
quantas emoções no marulhar suave destas águas límpidas, que correm entre as margens, ora serenas ora inquietas...
é lindo este teu rio poema.
bom Domingo
um abraço e o meu sorriso :)
mariam
não sei o que quero...
um bjo Pedro
Eu rio, sempre... talvez por isso me esqueça tantas vezes que não há rios assim!
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