Que dizer de uma época que juntava toda a família, numa feliz harmonia? Mais tarde vim a perceber que a família não se entende... Que dizer de uma época em que o Pai Natal aparecia como um espécie de benfeitor? Desde logo percebi que não existem benfeitores e que tudo era bem mais interessante – desde as prendas inventadas pelo avô às surpresas das ofertas da tia (às vezes, e apesar da vizinhança, era mesmo este o único momento em que havia contacto... e sorria...) Que dizer da chatice que era as lojas estarem fechadas no dia 26 de Dezembro para que pudesse gastar o dinheiro recebido na noite anterior? Hoje mal posso ouvir falar em lojas neste época... Que dizer dos rituais de preparação da ceia de Natal, em que nunca participava, mas sentia-lhes o cheiro do prazer e da tradição? Mais tarde vim a sentir que, apesar de se poder comprar tudo feito, quando o prazer se torna quase que obrigação nem sequer chega a ser masturbação... Que dizer de sempre ter percebido as fantasias natalícias que os crescidos inventavam (Pai Natal, Menino Jesus...), com a maturidade e a inteligência de quem entra no jogo? Hoje percebi que se pode brincar o ano todo... Que dizer de uma época em que havia avós? Hoje percebo que as avós são diferentes... Que dizer das viagens que não se faziam porque o Natal era à nossa porta? Felizmente, há Natal; para que hoje faça as viagens de ir até à tua porta... Que dizer de mim? Amei o Natal; hoje não o suporto.
Na minha escola... não há anjos para colorir; não há pais natais a dar presentes; não há esterismos nem mentiras. Há o respeito por cada um; há a atenção a cada um; há o amor a cada um, com ou sem Natal; há um jogo – troca de prendas –, mas que acaba sempre da mesma maneira, com a febre da posse e do pouco valor que se teve ao simples e bonito facto (apesar de obrigatório) de ter recebido um presente, a beleza da troca e da partilha; há um almoço conjunto que passa muito depressa; há um dia sem aulas. Não tenho que ser o garante de tradições. Essas fazem parte de um movimento cultural e social, que nestes tempos actuais está mais preocupado em distrair e consumir as pessoas do que em torná-las verdadeiramente felizes. E o que faço eu então? Procuro isso mesmo: tornar as crianças e os meus VERDADEIRAMENTE felizes. Com ou sem Natal.
12 comentários:
subscrevo tudo o que escrevesneste magnífico texto!!
'Com ou sem natal'...é essa a atitude.
bj.
é a atitude, mesmo. O resto é só mais uma peça da enferrujada máquina.
beijo.
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Natal devia ser amor, paz, solidariedade, compreensão, amizade, etc. etc.
No Mundo há: morte, guerra, fome, etc. etc. etc.
O que fazemos para alterar isto? O que fizemos? O que podemos ainda fazer?
Natal não é só 1 dia, Natal é sempre que eu quizer!
É um estado de espírito, não o cultivar de melancolias ou, no outro extremo, consumismos. Fazer os outros felizes, conceito a alargar, não apenas a uma época que põe em stress emocional um mundo que já sofre demais de falta de amor.
como este texto faz sentido para mim...obrigado...
Tive várias fases: a da criança que viveu um Natal tradicional, na província, a da adolescente que sonhava dar um Natal feliz aos outros, a da mãe para quem o Natal era o sorriso nos olhos das filhas (ainda é). Agora, começo a sentir a hipocrisia de tudo o que se liga a esta época e sobretudo, o quento se agudizam todas as percas e as misérias deste mundo.
Entendo muito bem o teu texto. **
Cheguei aqui por acaso..e confesso que adorei o texto...não parecio o Natal, há muito que deixei de acreditar no Pai Natal e que me transformei no dito senhor, tentando deixar alegrias e sonhos...
um abraço
brisa de palavras
Como este dasabafo tão verdadeiro, tão sentido, fez eco no mais profundo da minha alma. Faço meus os teus sentires. Obrigado por existires.
Também sinto o mesmo em relação ao Natal. Por isso este ano, para além de estar com a família, decidi celebrar o Natal (na sua verdadeira essência) e vou participar como voluntária na distribuição de alimentos, mantas,... aos sem abrigo de Lx.
Também podem fazer o mesmo.
Quando nós fazemos anos, fazemos festas para os celebrarmos! A família e os amigos reunem-se. Faz-se uma bela refeição. Oferecem-se presentes. Apagam-se as velas. Vamos todos sair. Cantamos. Jogamos. Brincamos.
É Natal porquê?
O que quer dizer Natal?
Pois o Natal é o nascimento de Cristo. Ele é o aniversariante. Ele trouxe uma mensagem aos homens, mas houve sempre aqueles que a ignoraram.
Cada um crê no que quer. Mas o Natal é mesmo por causa daquele Menino que nasceu em Belém. Agora se nós nos esquecemos de lhe fazer uma festa, de lhe oferecer presentes ou de lhe cantar e preferimos oferecer a nós próprios... que dizer?!
Eu não me identifico com o teu texto! Acho que felizmente! :)
Mil beijos,
Mada.
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