1 de dezembro de 2006

EnTrE

Por entre a Serra de luz e manto
O vento espalha a dor
Entreabre o brilho e o espanto
Que me faz de novo cantor

Por entre a morte na foz
Onde o rio se tem e refaz
Cada amor é em nós
Um pedaço de pão sem paz

Por entre viagens de liberdade
A alma não pára, ama
Volta de novo, sem idade
Da mais funda e longínqua chama

Por entre a morte sem dor
Como um parto em hora incerta
Gravidez sem fome ou amor
É prisão profunda de cela aberta

Como se tu fosses a flor
Que rasga a liberdade
E tudo se faz raça…
Como se o vento fosse cor
Que cobre a nossa idade
Na dor que é lenta e escassa…

Como se limpasses a vida
Que canta mar fora
Por nossa desgraça…
Como se andasses perdida
Caminhando na hora
Sem saber que se faça…

Como se sorrisses ao vento
Que cortina de brilho
Onde a luz se esfumaça
Como se houvesse só momento
Que nos desse mais um filho
E nos elevasse na praça

Como se o mundo de nós
Que alimenta o futuro
Em memória e desgraça
Como se perdêssemos a sós
O nosso porto seguro
Na corrente que passa…

Como se volta ao passado
E se reconquista a história
Se tudo é rio cansado
Sem curso nem glória?

1 comentário:

Maria P. disse...

Como se volta ao passado? Como?...se só eu sei como te sinto.

oTeMp0

O tempo que passa Leva uma flor ao vento Que se faz poesia e raça Fonte, porta e lamento Curva-se o peregrino Sem ter medo da desgra...