Por entre a Serra de luz e manto
O vento espalha a dor
Entreabre o brilho e o espanto
Que me faz de novo cantor
Por entre a morte na foz
Onde o rio se tem e refaz
Cada amor é em nós
Um pedaço de pão sem paz
Por entre viagens de liberdade
A alma não pára, ama
Volta de novo, sem idade
Da mais funda e longínqua chama
Por entre a morte sem dor
Como um parto em hora incerta
Gravidez sem fome ou amor
É prisão profunda de cela aberta
Como se tu fosses a flor
Que rasga a liberdade
E tudo se faz raça…
Como se o vento fosse cor
Que cobre a nossa idade
Na dor que é lenta e escassa…
Como se limpasses a vida
Que canta mar fora
Por nossa desgraça…
Como se andasses perdida
Caminhando na hora
Sem saber que se faça…
Como se sorrisses ao vento
Que cortina de brilho
Onde a luz se esfumaça
Como se houvesse só momento
Que nos desse mais um filho
E nos elevasse na praça
Como se o mundo de nós
Que alimenta o futuro
Em memória e desgraça
Como se perdêssemos a sós
O nosso porto seguro
Na corrente que passa…
Como se volta ao passado
E se reconquista a história
Se tudo é rio cansado
Sem curso nem glória?
1 comentário:
Como se volta ao passado? Como?...se só eu sei como te sinto.
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