O meu lugar vive na solidão.
No quarto escuro do que penso e quero.
Assim, aprisionado neste derradeiro turbilhão
Sou eu mesmo que me mato e desespero
O meu lugar vive no desejo.
No brilho cegante do que escrevo e grito.
Assim, no desenho de mais um abraço, de mais um beijo
Sou eu mesmo que me mato e me quedo aflito
O meu lugar vive na voz
No salto mais alto do poema e da loucura
Assim, na tempestade de um rio feito à foz
Sou eu mesmo que me mato à porta da ternura
O meu lugar é o vazio.
No verso penetrante da sedução e da embriaguez.
Assim, na ferida peregrina da procura e do cio
Sou eu mesmo que me mato e nada se fez
Nada de mim, da minha história ou do amor que se perdeu.
Nada de ti, do teu passo certo, como se certo fosse tudo o que morreu.
Nada de mim, do meu avanço, lágrimas, corpo despido que se desejou.
Nada de ti, solta num futuro preparado para uma arquitectura que ainda não se soltou.
Nada de mim, desespero que se cansa e cansa na espera de um sono por sonhar.
Nada de ti, que te escondes atrás da régua e te perdes para sempre no meu lugar.
O meu lugar vive em mim.
No Sol e na janela aberta onde cantamos o amor e a despedida.
No fruto que renasce enfim... por fim... assim...
Que sou eu, na morte que grávida me volta a possuir a vida!
6 comentários:
...'Sou eu mesmo que me mato à porta da ternura'...
Lembra-me um poeta muito querido...
E não consigo comentar estas palavras, Pedro.
Dizer-te apenas que é um dos poemas mais intensos e mais TU que li por aqui.
Deixo um abraço nosso...
Concordo com a Maria. Estava a ler o poema, e na minha frente materializava-se o Poeta, envolto em diáfano manto.
Abraço.
Olá Pedro
Cheguei por link.
Invulgar forma de se partilhar o que brota de dentro.
Volto com vontade de ler mais.
Abraço
Miguel
Adorei seu blog! Achei fuçando na net. Muito legal! Voltarei! Bjos
... somos assim... matamo-nos para voltarmos a viver ainda com mais intensidade. O teu lugar é onde te sentires mais vivo.
Gosto deste teu espaço!
Feliz Natal
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