30 de dezembro de 2009

oUtRaCoRpArAaPaLaVrAsAuDaDe


Sirvo-te o meu sangue num nó
Carregado de toda uma história só
Um caminho feito vento, feito pó
No sufoco de uma nova tempestade...
Tem de novo essa teia que se tece
Queimando a pele como uma prece:
Uma outra cor para a palavra saudade.

Agora que o futuro não regressa
Que o chão é a tua imagem sempre à pressa
Carregado de sons e de um cheiro que me atravessa:
Partos com dor entre o que foi e o que fica...
Assim aperta-se o grito contra o peito
O sorriso de menino forte e desfeito
A ternura na raiva onde me deito:
Que de mim nada deste suor se vê e explica.

Porquê, assim, outra vez, novamente e sempre de novo?
Uma espécie de estuário onde morro e chovo
Sem sequer lamber a lágrima que mordisco e provo
Como se fosse abutre de cada pedaço da minha própria mó...
Porquê, então, esta paralesia, este apagão sem forças e dorido?
Uma fuga num beco escuro e demasiadamente perdido
Longe de tudo o que tenho e é mais querido
Porque te sirvo o meu sangue num nó...

3 comentários:

Maria disse...

Acredito que a chuva e o cinzento dos dias te faça escrever assim. Que te sintas rasgado e pintes a palavra saudade de outra cor. Que sirvas do teu sangue em vez de vinho, na taça de todos os amantes. Que a ternura do teu olhar e a raiva interior se misturam e que chovas.
A saudade pode ter todas as cores. O futuro está aí, vamos agarrá-lo com as duas mãos! Ofereço-te o vermelho do sangue que me corre nas veias. De que fazes parte. Por onde respiro.

Sei-te assim, Pedro, e abraço-te!

maré disse...

ainda que o dia não seja o verbo maior
ainda que o nó arranhe
ou rasgue a palavra. ainda assim é o sangue que acorda e regenera.

_____

bom ano e um beijo

as velas ardem ate ao fim disse...

Lembra te:

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)


Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.


Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
[Carlos Drummond de Andrade]

Bjos Bom Ano!

oTeMp0

O tempo que passa Leva uma flor ao vento Que se faz poesia e raça Fonte, porta e lamento Curva-se o peregrino Sem ter medo da desgra...